quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Utua, o viajante

"Eu só estou dizendo que esses dois grandalhões vão ser mais úteis em Mechin do que com vocês na caçada! Eu tenho certeza de que você, Keyra, Adrie e Soveliss vão conseguir um pégaso nas montanhas sem grandes dificuldades!" Disse Ecniv sorrindo enquanto Arannis observava o gnomo, Hans e Murmur

"Não sei. E se precisarmos deles em combate?"Perguntou o paladino

"Arannis! Qual é? Sou eu! Eles vão me ajudar caso Mechin esteja no caminho das forças invasoras ou saqueadores. Você e os demais têm plenas condições de achar e capturar um cavalo com asas."Respondeu o gnomo

Arannis olhou para Keyra, Soveliss e Adrie. Suspirou e olhou de novo para Ecniv que sorria.

"Certo. Nos vemos em alguns dias então. Em Mechin."Disse o eladrin apertando a mão de Ecniv.

Os heróis se despediram e seguiram rumos diferentes. Adrie, Arannis, Keyra e Sovelisse seguiram pela estrada para Duaspedras, com o intuito de atravessarem a Floresta Castanha. Nas montanhas, segundo Adrie, encontrariam manadas de pégasos. Murmur, Hans, Ecniv e outros seis aventureiros seguiram para o sul, rumo às terras de Mechin, que pertenciam agora à Ordem da Liberdade. Hans estava relutante em deixar Keyra mas foi convencido por Ecniv que, com sua lábia, oferecera a ele a chance de defender o lugar contra os sulistas.





Alguns dias depois, a Ordem da Liberdade chegou a Duaspedras. Ben, o líder da aldeia os recebeu com grande alegria e lhes contou que a aldeia havia sofrido um ataque de saqueadores sulistas mas que um grupo de aventureiros conseguiram salvar a comunidade.
A Ordem da Liberdade decidiu não ficar mais do que algumas horas na aldeia pois não havia tempo a perder. Por mais alguns dias os aventureiros seguiram pela floresta, guiados pelos conhecimentos de Adrie.
Cansados, decidiram acampar perto de uma clareira.

"Ainda temos pão?" perguntou Soveliss comendo uma maçã perto da fogueira

"Sim. Mas você já comeu quase todas as suas rações?"disse Arannis afiando a espada com uma pedra de amolar.

"Não sabia que eladrins comiam tanto quando ele."Disse Keyra sorrindo de leve

"Nem eu...ei...sentiram esse cheiro?"Perguntou Adrie levantando-se

"Eu senti. Parece metal ou coisa parecida."Disse Arannis

"Não. Isso parece o cheiro de magias de teleporte. É, resíduos mágicos no ar."Disse Soveliss aproximando-se da druida

"Cheiro? Que cheiro? Vocês ficaram doidos?"Perguntou Keyra

"Ali! Brilhos! Na clareira!"Apontou Soveliss

"Adrie, a fogueira. Escondam-se"Disse Arannis escondendo-se atrás de uma árvore enquanto Adrie apagava o fogo com terra e se escondia atrás de alguns arbustos.
Soveliss teleportou-se para perto de seu irmão e Keyra, tentando ver os tais brilhos, deu de ombros e escondeu-se como sabia fazer tão bem.

Apesar de Keyra não ter notado, a cada segundo, pequenas luzes brilhantes estavam surgindo na enorme clareira. Então, um clarão e um estrondo fizeram os membros da Ordem da Liberdade encolherem-se em seus esconderijos. Na clareira, uma batalha à luz do luar estava acontecendo.

Um tiefling, um humano, um anão e um gythzerai lutavam contra uma criatura medonha. Era uma bola de carne com uma bocarra de dentes afiados e um enorme olho no centro. Pequenos tentáculos se agitavam no que parecia ser uma cabeça flutuante. Na ponta de cada um deles, um olho piscava.

"Um...beholder."Sussurrou Soveliss

A criatura atacou o grupo da clareira com raios que saíam dos pequenos olhos. O primeiro raio transformou o gythzerai em pedra. O segundo desintegrou o tiefling antes que este pudesse reagir. Outro raio perfurou o peito do anão que já estava ferido.Apenas o humano, claramente um mago, restava de pé diante da monstruosidade.

Arannis olhou para seus amigos e sacou sua espada. "Vamos ajudá-lo!"
Sovelisse saiu de seu esconderijo e abriu um portal em pleno ar. Arannis e Keyra entraram por ele e saíram num segundo portal, ao lado do monstro.
Os dois atacaram a criatura. Adrie correu na direção do monstro e saltou. Em pleno ar, transformou-se num lobo enorme, do tamanho de um cavalo, para espanto de seus amigos.

Keyra entrava e saía do portal criado por Soveliss, atacando o monstro e fugindo em seguida. Arannis enfrentava a criatura de frente enquanto Adrie mordia o monstro pelas costas. Soveliss mantinha o portal mas atacava a distância.

Enquanto isso, o mago humano refugiou-se atrás de uma pedra e começou a mexer num pequeno dispositivo, uma esfera de metal com inscrições e botões.

"Não vai nos ajudar?"Perguntou Soveliss aproximando-se velozmente graças a sua magia.

"Mantenham ele ocupado! Só mais alguns instantes!" Disse o homem com um sotaque carregado

O beholder atacava os heróis impiedosamente e em vários momentos quase conseguiu petrificar Adrie e Arannis. Mesmo com dificuldades, os heróis conseguiram ferir gravemente o monstro. Então, o mago colocou-se diante da criatura e apertou um botão da esfera metálica.
Um raio azul saiu do objeto e atingiu o beholder, fazendo-o desaparecer.

Os aventureiros olharam atônitos para o mago.

"Obrigado. Vocês me salvaram! Sou Utua, um viajante interplanar."Disse ele


Inicialmentez, Arannis e os demais ficaram muito desconfiados. Porém, Utua mostrou-se simpático e sincero. Ele passou parte da noite falando sobre suas viagens pelos inúmeros mundos e planos existentes. Soveliss ficou mais interessado do que os demais e fez várias perguntas.
Utua explicou que aqueles aventureiros mortos pelo beholder eram mercenários que havia contratado para ajudá-lo numa missão de resgate.
O mago propôs que a Ordem da Liberdade o ajudasse. Ofereceu um diamante astral para cada um, no valor de 10 mil moedas de ouro cada e falou bastante a respeito das habilidades do grupo e de como ele sabia que estes sim conseguiriam salvar seus amigos.

"Posso levar vocês comigo para Sigil, a Cidade das Portas. De lá, poderemos invadir a prisão extraplanar e salvar meus amigos!"Disse Utua

Depois de muito dialogar e discutir a questão. Os aventureiros aceitaram a missão depois que Utua falou sobre as vantagens de Sigil, inclusive de ser uma forma de encontrar o pégaso que eles tanto queriam.

No dia seguinte, Utua fez um ritual de teletransporte. Os heróis olharam uma última vez á sua volta, para a Floresta Castanha e então desapareceram.

Segundos depois estavam num beco de uma cidade desconhecida.

"Fiquem perto de mim e não se metam em confusão." Disse Utua saíndo do beco

Os heróis o seguiram e logo estavam numa movimentada rua da Cidade das Portas. Seres de todas as raças conhedidas, e muitas desconhecidas pelos aventureiros, caminhavam pelas ruas de Sigil. Gigantes, anões, azers, demônios, minotauros, elfos, humanos, goblins. Sigil era uma cidade onde criaturas de todos os planos podiam entrar.
Utua contou aos aventureiros que Sigil havia sido construída dentro de um gigantesco anel. Era um ponto de convergência de portais vindos de muitas realidades, planos e reinos. A cidade não tinha leis mas uma entidade conhecida como A Senhora da Dor era a criadora e talvez a governante do lugar.

Soveliss e Keyra estavam maravilhados com a cidade e sua arquitetura bizarra. Adrie estava menos à vontade do que em Ilíria ou Skan. Arannis ouvia o que Utua dizia e observava atentamente ao seu redor.

"Somos grãos de areia nesse universo. E eu achando que éramos importantes."Disse Adrie

"As possibilidades deste lugar são astronômicas! Podemos conseguir equipamentos melhores e conhecer mundos e mais mundos!" Disse Soveliss

"Vamos fazer o que viemos fazer e sair daqui. Não sonhem demais."Disse Arannis ao entrar na casa alugada por Utua. "Muito bem mago. Qual é a missão afinal?" perguntou o eladrin quando Utua fechou a porta.

"Meus amigos estão presos. O beholder era o guardião de um dos níveis da prisão extraplanar. Eu preciso conseguir as chaves que abrem mais dois portais. O que vocês precisam fazer é manter os guardas ocupados enquanto eu abro o caminho." Disse Utua

"Quem são seus amigos, Utua?" Perguntou Arannis

"Thakahkad é um kalashtar e um guerreiro poderoso. Ele tem sangue djin. Alangdar é um clérigo de Gov e um...como vocês chamariam? Isso!Anjo." Disse Utua sorrindo

"Um anjo?!" Perguntaram todos

"Sim, com asas e tudo."Respondeu Utua ao ver o assombro do grupo "Bem, fiquem à vontade para andar pela cidade, equipar-se e aprender os costumes. Creio que em três dias terei as chaves de que precisamos."







Enquanto isso, em Mechin, Ecniv estudava alguns pergaminhos quando foi interrompido por um dos trabalhadores da construção.

"Mestre ecniv,o senhor precisa ver o que encontramos!"" Disse o homem sujo de terra

Ecniv deixou o aposento na torre e foi até o pátio onde os trabalhadores se aglomeravam ao redor de uma placa de metal no chão. Murmur e Hans estavam lá, além dos aventureiros amigos de Ecniv.

"Magia forte. Você é mais qualificado que eu, devo admitir."Disse Azamarul, o mago humano, quando Ecniv chegou.

O pequeno gnomo abriu caminho entre seus amigos e chegou até a placa. Era feita de ferro e levava uma inscrição mágica em forma de 'S'.

"Voltem ao trabalho. Eu e Azamarul vamos desvendar esse mistério." Disse Ecniv ao abaixar-se para examinar a grande placa. "Don, venha aqui."Disse ele e uma ave preta e branca surgiu, pousando em seu ombro.

Uma hora depois, Azamarul e Ecniv haviam desfeito a runa mágica da placa. A segunda se desfez num pass de mágica e revelou uma escada de pedra e um corredor subterrâneo.
Ecniv, Azamarul, Hans e Murmur entraram. O mago iluminou o corredor e o grupo seguiu até uma porta de metal entreaberta.
Finalmente chegaram a um laboratório abandonado há muito tempo. Pilhas de entulho e livros transformados em pó pelos anos estavam por toda parte. Uma mesa com vidros e aparelhos de alquimia quebrados e outra com um grande livro em farelos chamaram a atenção de Azamarul. Porém, o que mais chamou a atenção de Ecniv foi um grande objeto coberto por uma lona negra, no centro da sala.

Ecniv puxou a lona revelando o que parecia ser uma carruagem sem rodas. Era toda feita em metal e possuía uma poltrona com espaço para duas pessoas. Havia um painel de cobre com alavancas e inscrições, além de uma chave de ouro encaixada como mais uma alavanca.

"Em nome da sorte de Avandra. Que raios é isto?" Perguntou Ecniv em voz alta

"Uma máquina de viagens interplanares"Respondeu Azamarul

"Como você pode saber? Você é um mago iniciante."Disse Ecniv rindo.

"Está escrito neste pergaminho que encontrei, mestre Ecniv."Disse o mago orgulhoso de seu achado

Ecniv abriu um sorriso largo ao pegar o pergaminho, olhou para a máquina e deu um tapinha no braço do mago.

"Temos que testar essa máquina!" Exclamou o gnomo com um brilho no olhar

Fantasmas do Passado

A estrada para Ilíria estava mais movimentada do que o normal. Caravanas e bandos de guerreiros transitavam rumo à cidade. A Ordem da Liberdade caminhava na mesma direção.
Depois de matarem Nimir, a tiefling necromante, a vilda Galan ficara agradecida e os heróis sentiram-se bem por ajudar. Halmar e a tripulação do Aurora deixara a vila para seguir pela costa até Ilíria mas os aventureiros decidiram seguir a pé, pois o tempo de viagem pela estrada seria mais curto.

Sempre que encontravam alguém, os aventureiros tentavam saber sobre a movimentação na estrada. As informações eram difusas mas conseguiram descobrir que um grande exército estava juntando-se nas proximidades da cidade. Senhores de terras de todo o reino chegavam a cada dia trazendo mais guerreiros para ajudar a enfrentar as hordas do sul e seu líder, Agrom-Vimak.
Esse grande exército atraía também os mercadores e todo tipo de mercenário.

Foi no terceiro dia que a Ordem da Liberdade, após uma colina, teve um vislumbre de Ilíria. A enorme cidade junto ao mar estava como a haviam deixado. As linahs de fumaças de centenas de chaminés podiam ser vistas de longe e o sol brilhava refletido nas torres do castelo real e nas abôbodas dos templos. Ao lado da cidade, um enorme acampamento com milhares de estandartes se extendia por uma grande área de pastagens.

"Finalmente."Disse Hans ao ver sua cidade natal

Os aventureiros desceram a estrada da colina e em algumas horas chegaram aos portões da enorme cidade. Os cheiros de fumaça, gente, comida e estrume se misturavam. Adrie não gostava do cheiro da cidade e Murmur parecia estar surpreso com o tamanho de Ilíria.
Estavam todos quase chegando ao portão quando se ouviram cascos de cavalo pela estrada. Um jovem batedor vinha à frente de um grande grupo de cavaleiros.

"Saiam do caminho! Saiam!" Gritava o rapaz que Hans e Keyra reconheceram de sua infância

"Balim!" Gritou Keyra sorrindo

O rapaz olho para a meio-elfa e sorriu de volta. Notou Hans também. "Que bom ver vocês!"
Balim trajava uma túnica azul escura sobre a armadura leve de couro. Levava o estandarte da guarda pessoal da rainha e usava uma coifa de cota de malha que pendia na nuca, mostrando seus cabelos loiros curtos.

"Subiu na vida hein?" Disse Keyra apontando para o estandarte. "Ficou bem..." Completou ela piscando

Hans permanecia impassível ao seu lado.

"Eu falo com vocês outra hora. Desculpem. Keyra, continua linda, como sempre." Disse Balim abrindo espaço para os cavaleiros que se aproximavam.

Eram mais de cinquenta homens a cavalo. Todos trajando armaduras pesadas e carregando lanças. Os enormes cavalos de guerra passaram pelo portão em pleno galope e seguiram para o bairro do castelo. Balim acenou para a Ordem da Liberdade e seguiu seus companheiros.

Os heróis estavam ainda decidindo o que fazer quando Adrie notou um grupo acampado. Eram uns sessenta elfos, todos equipados com armaduras e arcos de guerra. Pelas insígnias, pareciam elfos da Floresta Castanha. O olhar da elfa perscrutou o acampamento e seu coração acelerou quando viu um elfo de cabelos trançados entre eles. Era seu pai.

"Pai..."Disse ela sem pensar

"O que foi que disse?" Perguntou Murmur

"Nada...eu...vamos entrar logo na cidade sim?" Disse a elfa desconversando. Quando olhou novamente na direção dos elfos, notou que seu pai havia desaparecido

"Senhor, eu já vi essa imagem do seu estandarte em algum lugar." Disse a Arannis um homem com seu filho ao lado. "Servem a algum senhor?"Perguntou

"Não. Nós somos a Ordem da Liberdade. Viemos aqui ajudar Ilíria."Respondeu o paladino orgulhoso

"Ordem da Liberdade? Já ouvi falar de vocês! Não foram vocês que mataram um dragão vermelho no norte? E que mataram um dragão verde na Floresta Castanha, salvando a aldeia de Duaspedras?" Perguntou o homem animado

Os aventureiros olharam para o homem sem entender.

"Sim...fomos nós. Como sabe disso?" Perguntou Arannis

"Ouvi essas histórias numa taberna. Um gnomo chamado Ecniv estava contando-as." Respondeu o camponês. "Meu filho admira muitos vocês. Pela descrição o senhor é Arannis, o paladino de Avandra. Estou certo?"

"Sim, sou Arannis e estes são Murmur, Adrie, Keyra e Soveliss."Respondeu o eladrin

"Senhor, meu filho Gork, adoraria ouvir suas histórias. Ele quer ser um aventureiro um dia!" Disse o homem colocando seu filho entre ele e Arannis.

"Será uma honra. Mas agora estamos com pressa. Mande seu filho nos procurar no templo de Avandra outra hora." Disse o paladino

"Assim farei senhor! Obrigado!" Disse o homem despedindo-se enquanto os aventureiros entravam em Ilíria.


O primeiro dia na enorme cidade foi de descanso. Keyra levou a Ordem até sua casa, onde as devidas apresentações foram feitas. A jovem meio-elfa estava feliz. Estava em casa, com sua família reunída e seus amigos. Isso fez com que voltasse a sorrir.
Os demais membros do grupo estavam em paz por voltar à cidade. Mas todos sabiam que a questão de Agrom-Vimak ainda estava presente. Decidiram então que buscariam respostas e informações no dia seguinte. Naquele momento estavam comemorando.

Arannis e Soveliss foram até o templo de Avandra, onde o irmão Gaius os recebeu com grande satisfação. Ao perguntar sobre Ania, a menina que haviam deixado aos cuidados do sacerdote, os eladrins souberam que esta havia desaparecido há um bom tempo, poucos dias depois de ter sido deixada no templo. Arannis ficou muito preocupado mas o irmão Gaius insistiu em dizer que a garota era um problema e que esta provavelmente havia fugido de volta para casa, em Duaspedras.

Enquanto isso, Murmur aventurava-se conhecendo a cidade. Para ele era tudo novo. Uma cidade muito maior que Skan, repleta de pessoas de regiões e raças diferentes. Havia muito o que explorar. Infelizmente, o jovem goliath acabou perdendo-se em Ilíria, uma vez que não conhecia a cidade. Levou horas para encontrar a casa de Keyra e juntar-se ao grupo.

Keyra passou o dia andando pelas ruas, refazendo velhos contatos no submundo da cidade, enquanto Adrie foi até o mar, onde encontrou um pequeno santuário de Melora onde fez orações e agradecimentos.

À noite, a Ordem da Liberdade reuniu-se novamente na casa da família de Keyra. Estavam planejando o dia seguinte quando alguém bateu à porta. Keyra abriu e nçao viu ninguém. Então olhou para baixo e viu um halfling. Era um jovem simplesmente vestido mas havia algo errado. Seus olhos estavam embotados de sangue e seu rosto era pálido e marcado pelas veias azuladas que pareciam mais grossas do que o normal. Seu olhar estava perdido e lembrava o de um zumbi. Keyra pensou em sacar sua adaga mas o estranho halfling falou.

"Meus mestres pedem sua presença na taverna Os Sete Filhos de Carmela."Disse a criatura com uma voz rouca

"Seus mestres? Quem são eles? O que diabos é você?"Perguntou Keyra enquanto seus amigos se aproximavam espantados com a aparição do halfling

"Meus mestres pedem sua presença na taverna Os Sete Filhos de Carmela."Repetiu o halfling, virando-se e seguindo pela rua.

Os aventureiros ficaram pasmos por alguns segundos e então foram atrás do mensageiro. O halfling seguiu por vielas escuras, seguido de perto pela Ordem da Liberdade. Depois de um tempo, chegou a uma taverna e hospedaria luxuosa, conhecida por Keyra, Arannis e Soveliss.
O halfling entrou na hospedaria e subiu as escadas.

"Nós estamos com ele."Disse Keyra ao taverneiro, apontando para o halfling

O homem não fez menção a barrar a entrada dos aventureiros que seguiram a criatura até o terceiro andar da hospedaria. O grupo desconfiava e, por isso, Arannis estava com a mão no cabo da espada enquanto Murmur e Hans levavam suas lanças prontas. Ohalfling entrou num dos quartos e então o grupo o seguiu.

O aposento era luxuoso, finamente decorado e estranhamente escuro. Não havia nenhuma luz além de uma única vela, que deixava o lugar com um ar tenebroso. O ar estava parado e as janelas do quarto estavam fechadas.

"Finalmente!" Disse uma voz feminina

Os aventureiros buscaram por sinais de movimento no quarto e então Kisteress apareceu. Arannis e Keyra lembraram-se da vampira instantaneamente. Fora ela quem lhes forneceu o pergaminho contendo as pistas sobre as jóias e fora ela quem havia falado sobre Bane com a jovem Ania, de Duaspedras.

"Vampira...nos encontramos de novo."Disse Arannis segurando o cabo da espada e procurando mapear o terreno, caso fosse necessário lutar.

"Sim Arannis. É bom vê-los. Que bom que vieram rapidamente." Disse Kisteress em tom afável, sentando-se num sofá vermelho.

A vampira era belíssima e usava um fino vestido negro que mostrava sua pele branca e sem vida. Ela sentou-se confortavelmente no sofá e encarou o grupo. Seu belo sorriso mostrava os caninos avantajados de sua condição vampírica e seus lábios vermelho-sangue contrastavam com seus cabelos negros.

"Quem está aí?" Disse Arannis ao perceber um vulto atrás da vampira.

"Ah, bem observador, paladino. Zir, melhor vir para a luz." Disse a mulher

Nesse instante, a respiração de Keyra pareceu parar. Seus olhos estavam arregalados e suas mãos tremiam. Uma delas estava próxima à sua adaga mágica. A outra fechava-se com força. Sua expressão de surpresa se tornou uma careta de ódio enquanto 'Zir' surgia na penumbra.
Diante dela estava o mesmo homem ruivo que a comprara e escravizara na cidade drow. Diante dela estava o homem que a usara como assassina.
Zir vestia uma tunica vermelha e seus cabelos estavam presos por uma fita de couro. Era um homem alto e forte e seus olhos pareciam ter uma coloração avermelhada. Ele sorria calmamente.

Keyra ofegava.

"Keyra, calma..."Disse Arannis

Keyra levou uma mão à adaga.

"Keyra...não..."Disse Arannis novamente

"Ora, se não é minha escrava preferida." Disse Zir em seguida, sorrindo. "Como é bom vê-la." Completou

Keyra gritou e arremessou sua adaga contra o homem. A arma voou pelo aposento e atingiu Zir no pescoço, cortando sua carne que sangrou imdediatamente. A adaga cravou-se na parede de madeira do quarto e desapareceu, ressurgindo nas mãos da meio-elfa. O ferimento provocado pelo ataque de Keyra seria mortal mas Zir continuou sorrindo enquanto a carne se refazia e o sangramento parava. Em segundos, era como se a adaga nunca tivesse sido arremessada.

"Rápida e mortal. Sempre."Disse Zir aplaudindo.

"Maldito!" Gritou Keyra correndo na direção dela, sendo interceptada por Arannis e Hans

"Não...Keyra!"Disse o paladino. Este a segurou por alguns segundos enquanto ela tentava soltar-se.

Keyra conseguiu desvencilhar-se do eladrin e tentou atacar Zir novamente mas Hans conseguiu contê-la. Então, Arannis colocou-se entre ela e o homem de vermelho. Keyra estava transtornada como nunca ninguém havia visto. O ódio era claro e a vontade de matar Zir também.

Arannis tomou o rosto de Keyra em suas mãos e falou baixo, pausadamente.

"Keyra. Calma. Temos que ver o que eles querem. Eu sei o que esse homem te fez. Eu sei o que você quer fazer. Mas este não é o momento nem o lugar. Depois eu deixarei você cortar a garganta dele se assim desejar. Mas não agora. fica calma." Disse o paladino segurando o rosto dela com as duas mãos.

Por alguns instantes, Keyra enxergava apenas o maldito homem de cabelos vermelhos e sorriso sínico. Então, a voz suave do paladino chamou sua atenção e a acalmou. Ele tinha razão.

A meio-elfa olhou mais uma vez para Zir e então deixou o aposento. Não conseguia ficar perto daquele homem.

"Certo. Agora que já agitamos os ânimos. Vamos aos negócios?"Disse Kisteress

"Fale. O que quer de nós, vampira?" Perguntou Arannis

"Apenas ajudá-los em sua busca pelas sete jóias. Mas desta vez há um preço. Um pequeno favor em troca de informações sobre as demais jóias." Disse Kisteress cruzando as pernas enquanto Zir ocupava um espaço atrás dela, entre o sofá e a parede do quarto.

"Favor?"Perguntou Arannis

"Preciso que encontrem algo que me pertence. Foi roubado há algum tempo. Uma adaga mágica."Respondeu a vampira "Ela está em poder de Angor, um vampiro que vive em uma caverna submersa na área do farol de Ilíria. Não terão dificuldades para encontrá-lo. Matem. Tragam minha adaga de volta e eu os recompensarei."

"Não confio em você, criatura. Voltaremos com sua adaga e teremos respostas."Disse Arannis encarando a dupla

"E as terão, paladino. Não somos seus inimigos."

"Mais uma coisa. Quem é você, Zir, e por que quer tanto destruir Agrom-Vimak?"Perguntou o eladrin

"É justo que saibam, meu querido."Disse Kisteress olhando para o homem atrás dela.

"Eu quero aquele imbecil morto de uma vez por todas e quero o coração da espada rubra de volta."Respondeu Zir um tanto contrariado

"O coração?"Perguntaram os heróis em uníssono

"A gema central da espada. Aquela que parece um olho em chamas. Aquilo..."então Zir tocou o lado esquerdo de seu próprio peito "Aquilo é meu." Terminou





Keyra estava na rua. Fora da estalagem. Estava aparentemente calma mas não conseguia mais conter-se. Foi até um beco e começou a chutar, arremessar e destruir caixas e barris. O último soco que deu foi de encontro à parede. Sua mão sangrava e um dedo parecia quebrado mas a ladina ignorava a dor. Estava tomada por ódio e frustração.

"Keyra..."Disse uma voz familiar fora do beco

A meio-elfa olhou na direção da voz e viu seus amigos. Arannis falava.

"Keyra, você está bem?"Perguntou o paladino

"Arannis...eu..."Disse Keyra segurando sua mão que agora doía. "Eu..."

"Calma. Vamos resolver isso. Eu prometo."Disse o eladrin abraçando-a

Keyra suspirou e chorou baixinho enquanto o paladino evitava que os demais a vissem daquele jeito.






Conseguir um bote para chegar ao farol não foi difícil para a Ordem da Liberdade. Murmur separou-se do grupo antes disso. O goliath estava ficando bom em perder-se na enorme cidade.
Ao atracar no pequeno cais na ilhota onde ficava o farol, os aventureiros encontraram um único homem, provavelmente o responsável pelo local. O homem estava talhando um pedaço de madeira com uma faca pequena quando notou o grupo.

"Bom dia. Posso ajudar?" Disse ele com uma voz preguiçosa e pouco amigável

"Bom dia. Somos a Ordem da Liberdade e estamos procurando uma caverna submersa nesta área."Disse Arannis

"Caverna? Tem um monte nesta região mas aqui não. Aqui no meu farol não."Respondeu o homem ficando visivelmente nervoso ao ver a armadura de Hans, que lembrava muito a da guarda da cidade.

"Podemos verificar o farol?"Perguntou Hans

"Senhor, eu sou Markel, o faroleiro. Somente a guarda pode inspecioanr o farol. Vocês têm autorização?" Perguntou o homem levantando-se bastante nervoso

"Er..."Hans ia responder quando Soveliss o puxou pelo braço e pediu que o acompanhasse até o bote.

"Hans, como é o brasão da guarda? Pode desenhar na lama para mim?"Perguntou o mago

Hans desenhou o emblema da guarda em seu tamanho real. Então, Soveliss jogou algum pó mágico e fez alguns desenhos ao redor do emblema que em coisa de minutos se transformava .Antes um punhado de lama, o brasão era agora de prata pura. Soveliss sorriu e entregou o brasão falso a Hans.

O faroleiro e Arannis estavam conversando quando Hans retornou, ostentando o brasão.

"Faroleiro, eu sou da guarda e tenho ordens de vasculhar seu farol. Abra a porta agora!" Disse o guerreiro

Markel ficou intimidado e mesmo contra a vontade abriu a porta. Os aventureiros procuraram por um tempo mas o máximo que conseguiram foi descobrir um alçapão onde muitas moedas estavam escondidas.

"O que é isso?" Perguntou Hans

"Senhor são economias de uma vida."Respondeu o faroleiro, visivelmente mentindo

"O que é isso?" Perguntou o guerreiro uma vez mais, encarando o homem

"É...é dinheiro de contrabando! Eu confesso! Senhor o salário que recebo é de fome! Só consigo um sustento melhor deixando que os barcos de contrabandistas passem na escuridão! por favor senhor! Eu tenho filhos! Eu não sou criminoso!"

Hans sorriu para Arannis e então Keyra interveio.

"Berry vai saber que você o delatou, faroleiro."Disse a meio elfa enquanto piscava discretamente para Arannis

"Berry?! Por favor não senhora! Ele me mataria! A guilda de ladrões colocaria um preço na minha cabeça! Por favor! Não contem a ele!" Implorou o homem jogando-se aos pés da ladina

"Nesse caso, vamos 'confiscar' o dinheiro e nem a guarda nem Berry ficarão sabendo. Mas queremos a localização exata das cavernas debaixo d'água." Disse Keyra sorrindo

"Sim sim!Obrigado!" Disse o homem quase chorando.

Minutos depois o faroleiro apontava para um arrecife próximo da ilhota.

"É ali. Debaixo daquele monte de pedras e corais."Disse o homem

"Eu cuido disso."Disse Adrie passando à frente do grupo, chegando até a margem onde colocou seus pés na água.

"Melora...abre nosso caminho até caverna."Sussurou ela em élfico

Então, as águas abaixaram entre a ilhota e a caverna submersa. Havia agora um buraco com paredes de água do mar e era possível ver a entrada da caverna, vários metros abaixo. Ainda era necessário mergulhar mas era uma distância bem menor.

"Vamos?" Disse Adrie sorrindo. A Ordem da Liberdade mergulhou e em poucas braçadas conseguiu chegar até a caverna. Não foi dificil nadar até sairem dentro do lugar. Havia ar e uma pequena praia dentro da gruta.

Os herois nadaram até a margem e iluminaram o lugar enquanto Arannis e Hans vestiam novamente suas armaduras. O cheiro de umidade e algas podres infestava o lugar. Os heróis seguiram pela caverna até uma encruzilhada em T, de onde seguiram para a direita, chegando pouco depois a um salão. A luz da tocha mágica que eles carregavam era suficiente para iluminar a área mas nada os preparou para o que veio a seguir.

Inúmeras sombras surgiram da escuridão. Algumas saltaram diretamente do teto da caverna, caindo junto aos aventureiros. Eram humanoides muito pálidos de olhos vermelhos e caninos avantajados.

"Vampiros!" Gritou Arannis "Por Avandra!"Gritou novamente ao atacar dois dos mortos-vivos

A luta foi dificil, uma vez que mais e mais vampiros apareciam, vindos do corredor. Então, Angor surgiu. Era um vampiro alto e bem equipado com armadura e espada. Ele sorriu quando viu os heróis e atacou em seguida, junto com suas crias. Mesmo assim, não foi páreo para o trabalho em equipe e a vontade dos heróis. A Ordem da Liberdade triunfou novamente.





"Aqui está a faca."Disse Keyra arremessando a adaga na direção da mesa de centro ao lado do sofá onde estava Kisteress.

A vampira estava enrolada em finos tecidos brancos que permitiam a visão de seu belo corpo pálido. Ela sorriu e pegou a adaga que estava cravada na mesa.
"Excelente trabalho. Querem sua recompensa agora?"Perguntou ela olhando para Arannis

"Agora."Respondeu o paladino secamente.


Kisteress sorriu novamente e tirou algumas coisas de dentro de uma bolsa de couro que repousava sobre a cama. Um dos objetos era um pergaminho enrolado dentro de um tubo de osso.
A vampira entregou o tubo ao paladino e colocou as demais coisas sobre a mesa redonda de carvalho. Eram ingredientes para algum ritual.
Arannis abriu o tubo e viu que o pequeno pergaminho era uma passagem de barco para uma embarcação chamada Trar, onde um tal Zamor estava autorizado a levar passageiros para o sul.

Kisteress pediu silêncio e iniciou o ritual. Ao cortar sua mão com a adaga ritual adquirida na caverna pelos heróis, a vampira entoou um cântico monótono. Segundos depois, o sangue no centro da mesa elevou-se em pleno ar e uma imagem se formou. Era um enorme deserto de areias amarelas e rochas escuras. A image avançou até uma cadeia de montanhas negras no deserto. Na entrada de uma caverna colossal, uma criatura olhou na direção dos heróis.
Era um dragão azul de proporções gigantescas. Suas garras e asas ostentavam jóias e cicatrizes e então, Soveliss notou algo peculiar no grande chifre do monstro: uma enorme jóia azulada, do tamanho de uma cabeça de criança.

"Mais uma para a coleção de vocês, heróis." Disse Kisteress gargalhando.