terça-feira, 22 de março de 2011

Penas e Escamas

"Morra inseto! Graaaaaa!!!" Berrou Mikal, ou o que parecia ser o bárbaro trazido de volta à vida, enquanto saltava com seu enorme machado na direção de Ecniv

O gnomo estava de espada em punho e sorriu quando desviou-se do golpe no último segundo, desferindo um ataque às costas do bárbaro.

"É só isso?" Disse Ecniv zombando

Mikal atacou novamente mas Ecniv havia desaparecido. Em seguida, o Gnomo ressurgiu, atacando-o. O golpe cortou parte da coxa do enorme guerreiro. Então, Ecniv transformou-se num raio e saltou pelas pedras em direção a Ania, atingiu a clériga no braço ao voltar à sua forma normal e logo era um raio novamente, saltando na direção do gythzerai, que estava sobre uma grande rocha. Em pleno ar, o raio transformou-se novamente em Ecniv e este atacou o mago com sua espada, porém, o golpe foi perdido pois o inimigo recuou por reflexo. Ecniv pousou em segurança nas rochas e sorriu. Estava orgulhoso de seu treinamento. Agora ele não era apenas um bardo, era também um guerreiro arcano.

"Nos encontramos novamente, elfa. Desta vez vou fatiar você."Disse Pesadelo, o drow, enquanto saltava na direção de Adrie.

A druida estava com medo. Muito medo. Porém, sabia que em algum momento teriam que enfrentar Pesadelo e seus asseclas. Adrie apertou os punhos e então se transformou em lobo, desviando-se do ataque do guerreiro de armadura negra. Pesadelo gargalhou dentro do elmo de caveira e atacou novamente, desta vez atingindo Adrie no flanco esquerdo. A elfa em forma de lobo ganiu e foi arremessada alguns metros para o lado. Pesadelo virou-se para atacar e então sentiu uma pancada fortíssima nas costas. Era Arannis.

"Me enfrente, drow!" Disse o paladino com o rosto coberto pelo elmo alado

"Com prazer, eladrin...com prazer..."Respondeu Pesadelo ao revidar o ataque

Soveliss estava de frente para Espectro, o assassino drow. Por alguns segundos os dois se encararam e então a figura de negro envolta em sombras falou.

"O que foi eladrin. Medo?" Disse ele

"Não. Não tenho medo. Estava analizando você. Tem algo errado com seu sotaque. Você não é drow." Disse o mago sorrindo

"Tem razão. Não sou. Mas posso ser um eladrin metido também." Respondeu Espectro e nesse mesmo instante mudou de forma, transformando-se numa cópia exata de Soveliss

"Transmorfo." Disse Soveliss "Eu imaginei algo mágico mas pelo visto é uma habilidade natural."

"Cale a boca imbecil. Vou matar você." Disse Espectro atacando com suas kukris

Soveliss sorriu e teleportou-se para longe em seguida disparou uma serpente de eletricidade e veneno. Era um de seus golpes preferidos. A magia atingiu Espectro em cheio e este recuou, entrando nas sombras para ressurgir perto de Adrie que se recuperava do golpe desferido por Pesadelo.

"Malditos! Não me disseram que eles eram rápidos assim!" Gritou o gythzerai ao ver o ataque de Ecniv "Vão queimar por isso!" Berrou ao lançar uma bola de fogo sobre Arannis, Adrie, Pesadelo e Espectro

A explosão afetou os quatro. Adrie estava muito ferida e Arannis aguentou firme. Pesadelo mal sentiu a bola de fogo e Espectro teleportou-se pelas sombras para longe a tempo.

"Imbecil! Ataque os inimigos!" Gritou Ania irritada

"Sim senhora!" Respondeu ele. "Vadia..."Resmungou

Nesse exato momento, Keyra surgiu atrás dele e rasgou seu tornozelo. Em seguida, a meio-elfa saltou, dando uma cambalhota em pleno ar e caíndo suavemente ao lado de Mikal. Ela sorriu e enfiou sua espada na barriga do bárbaro de onde sangue negro jorrou. Keyra então esquivou-se de um ataque e desapareceu nas pedras atrás do grupo inimigo.

Soveliss viu a bola de fogo arremessada pelo mago inimigo e sorriu. "Dois podem jogar este jogo, gyth." O mago eladrin então conjurou uma esfera flamejante que explodiu sobre o inimigo. Este, atordoado e ferido por Keyra, olhou para Ania e Pesadelo e segurou um amuleto que levava preso ao pescoço. "Eu não vou morrer aqui! Não estão pagando o suficiente!" Com essas palavras, o mago arrancou o amuleto e desapareceu instantaneamente.

"Não se fazem mercenários como antigamente. Eu vou matar esse desgraçado." Disse Pesadelo enquanto atacava Arannis

O paladino de Avandra se defendia ao mesmo tempo dos ataques poderosos do drow e das magias de Ania. Arannis não falava muito em combate. Gostava de observar as táticas inimigas e então tomar suas decisões. Agora, ele estava servindo de alvo para que Adrie pudesse recuperar-se e contra-atacar.

Enquanto isso, Keyra percorria o campo de batalha escondida. Ninguém a vira atacar e ela estava posicionando-se bem. Então, saltou nas costas de Ania cravando sua adaga mágica e fazendo um corte terrível nas costas da clériga que gritou de dor. Keyra estava séria. Não queria ferir Ania mas seus amigos estavam sempre em primeiro lugar.

"Eu sabia que você ia atacar pelas costas. Vou acabar com você, Keyra!" Gritou Ania

Mikal estava tentando se manter de pé e enfrentar Ecniv mas o ataque de Keyra o ferira gravemente. Então, uma adaga arremessada pela ladina atingiu as costas do bárbaro e este caiu de joelhos enquanto a arma mágica retornava às mãos de Keyra, que se esquivava habilmente dos golpes de Ania.
O bárbaro então rosnou na direção de Ecniv e arrancou o amuleto que usava e, assim como o mago gythzerai, desapareceu em pleno ar.

A Ordem da Liberdade estava vencendo. Ania percebeu isso e desviando-se de um ataque de Adrie, agora recuperada, chegou perto de Pesadelo e deu a ordem.

"Recuar!" Gritou. "Nos encontraremos novamente, heróis." Disse ela cuspindo a última palavra

Ela e o drow desapareceram ao arrebentar os cordões no pescoço. Espectro simplesmente desapareceu nas sombras da floresta.

Adrie estava ofegante, ainda em sua forma de lobo, com sangue no focinho. Soveliss estava limpo, como sempre, graças a um truque arcano. Detestava ficar sujo de sangue ou fuligem. Ecniv se mantinha sorridente sobre uma pedra pois não havia sofrido quase nada.
Keyra estava sentada no chão. Olhava para onde Ania estivera, pensativa e ofegante. O combate não havia sido dos mais difíceis mas por alguns instantes Keyra havia pensado que talvez fosse o último combate da Ordem da Liberdade. Ela teve medo de morrer.

"Todos bem?" Perguntou Arannis retirando o elmo

Os demais confirmaram. Por alguns instantes haviam pensado que seriam derrotados mas estavam ali, vivos e bem. Haviam vencido um grupo poderoso sob o comando de Agrom-Vimak.

"Temos que continuar. Descansaremos depois. Não sabemos se eles podem voltar logo." Disse Adrie

Todos concordaram e começaram a procurar pelo caminho secreto descrito por Kubik. Por algumas horas, o pequeno goblin os levou por caminhos na rocha e escaladas curtas. Ao cabo de quase meio dia de caminhada, os aventureiros encontraram o que parecia uma escada natural. Kubik os guiou até o topo onde um túnel os levaria até o local onde a tribo do goblin costumava caçar filhotes de pégaso para comer. Depois de alguns minutos na escuridão, o caminho abriu-se revelando um plateau com pasto e duas pequenas árvores. No lugar, perto do precipício, uma manda de mais de vinte pégasos pastava.

Os aventureiros não conseguiam acreditar no que seus olhos viam. Os animais alados eram magníficos e pastavam tranquilamente naquele lugar escondido de todos.

"São belas criaturas" Disse Adrie

"Sim...nunca imaginei...que fossem tão bonitos." Comentou Keyra

Os demais sorriram e sentiram uma calma penetrar seu corpo. Estavam diante do seu objetivo naquela busca e não conseguiam deixar de admirar os majestosos animais.

Então, uma enorme sombra cobriu o lugar e os pégasos entraram em pânico. A manada alçou vôo mas dois pégasos foram esmagados por um enorme dragão verde. Era um monstro enorme, cheio de cicatrizes. O dragão devorou metade de um dos cavalos alados abatidos. A outra carcaça estava sob sua enorme pata com garras do tamanho de espadas longas.

O dragão então se lançou na direção do abismo e partiu, levando consigo o resto do primeiro pégaso. Os heróis estavam bem ocultos no túnel e demoraram um pouco para sair. Estavam em silêncio. O terrível monstro havia espantado a manada e não havia nada que pudessem fazer. Mais uma vez o destino havia tirado o pégaso do caminho da Ordem da Liberdade.

"Don, vá atrás dele!" ordenou Ecniv ao seu familiar e a ave negra e branca partiu. Os olhos do gnomo se transformaram e este sorriu, pois agora enxergava tudo no caminho de Don.

Enquanto isso, Adrie sentou-se perto das árvores e começou um ritual para comunicar-se com os espíritos do local. Teve resposta às suas perguntas e agradeceu a Melora por isso.

"Ele vai voltar. Nós podemos derrotá-lo" Disse a elfa

"E vamos. Em nome de Avandra, vamos vencer esse dragão." Disse Arannis

O grupo passou o resto da noite dormindo no túnel, tomando cuidado. O pássaro de Ecniv havia visto o local onde ficava o covil da fera verde e os aventureiros sabiam que o monstro iria caçar ao amanhecer ou ao pôr do sol. Portanto, estariam preparados.

Na aurora a criatura apareceu. Havia pousado na encosta da montanha e parecia estar esperando por suas presas. Os heróis estavam ainda no túnel e estavam decidindo como iriam atacar. Porém, estavam demorando demais e Adrie perdeu a paciência. Num rompante de impulsividade, a druida deixou o abrigo e se mostrou diante da criatura, segurando seu arco longo.

"Vem me pegar, maldito." Disse ela baixinho

O dragão rugiu e atacou. Adrie disparou uma flecha que não causou ferimento algum e conseguiu esquivar-se do primeiro ataque por milagre. O dragão passou voando e fez a volta no abismo à esquerda da elfa. O resto do grupo saiu correndo para ajudá-la. Porém, Adrie estava calma e sem demonstrar temor algum transformou-se em corvo e voou na direção do dragão. No último segundo antes do impacto, rodopiou no ar e ficou acima da criatura, então, transformou-se em elfa novamente e caiu sobre o dorso do dragão verde.

Adrie segurou-se com força enquanto o dragão tentava livrar-se dela. A elfa sacou as rédeas mágicas compradas em Ilíria para capturar o pégaso e tentou colocá-las no dragão. A primeira tentativa foi frustrada. O grupo se posicionou para enfrentar o monstro e Keyra arremessou uma adaga que o atingiu de leve mas chamou sua atenção.
Então, respirando fundo, Adrie tentou novamente e desta vez as rédeas se agarraram ao monstro, adequando-se ao seu tamanho. Adrie puxou as rédeas e invocou a palavra mágica do item. O dragão foi compelido a pousar e ficou parado contra sua vontade.

Por mais que o monstro se esforçasse, as rédeas mágicas haviam sido feitas para domar qualquer criatura. Adrie estava montando o monstro e sorria orgulhosa. Os demais, vendo que estava tudo sob controle, se aproximaram.

"Arannis, posso ficar com ele?" Disse a elfa imitando a voz de uma criança

terça-feira, 15 de março de 2011

A Estrada dos Sonhos

"À Ordem da Liberdade, aos amigos, famílias e aliados." Disse Arannis de pé, com uma taça de vinho na mão

"À Ordem da Liberdade!!!" Gritaram todos os presentes à mesa do banquete do lado de fora da torre de Mechin

A Ordem da Liberdade compartilhavam a mesa com Hans, Murmur e os jovens aventureiros que agora seguíam os ideais do grupo: Azamarul o mago, Cristalis, Salastas o clérigo de Kord, Garnet o paladino de Bahamut, Golik o anão guerreiro e Tassia a ladina. Alguns dos serviçais contratados por Ecniv enchiam os copos e traziam pedaços de cordeiro assado e grandes porções de batatas assadas.

Arannis discutia com Ecniv e Keyra o que deveriam fazer a seguir. Ele estava empenhado na idéia de procurar um pégaso para ser sua montaria e mesmo com o longo desvio promovido por Utua, o viajante, continuava firme em seu propósito. Soveliss estava cabisbaixo e brincava com sua comida, pensativo. Adrie estava ao lado de Keyra, ouvindo e opinando de tempos em tempos.
Soveliss olhou na direção de Hans que agora fazia disputava uma queda de braço com Golik. As atenções da mesa se voltaram para essa disputa e a surpresa maior foi quando o grandalhão foi derrotado pelo anão.
Todos riram do momento, inclusive Hans. Mas Soveliss estava em outro lugar.

Então uma voz se ouviu. Era Damara.
Ela estava parada, ao lado de Soveliss, numa imagem difusa. Era uma mensagem arcana. Damara estava com o braço imobilizado, provavelmente quebrado e ao seu lado estava Kraig com uma atadura sobre o olho esquerdo.

"Soveliss. As coisas não estão bem. A cidade dos anões está sob ataque. Drows. Muitos deles. Precisamos de ajuda. Estou bem. Sinto sua falta, Soveliss." Disse ela no limite de vinte e cinco palavras que o ritual proporcionava e então desapareceu.

Soveliss levantou-se e olhou para seu irmão. "Arannis...ela precisa de mim. Precisa de nós, da Ordem."

"Calma irmão. Temos que pensar no que fazer." Respondeu o paladino

"Calma? Ela está ferida e Kraig também. Somente Corellon sabe o que mais pode ter acontecido!" Disse Soveliss invocando o nome da divindade élfica, o que fazia raramente

"Calma. Sim. Vamos pensar nisso até amanhã. Não adianta sairmos daqui sem um plano." Disse Arannis colocando sua mão direita sobre o ombro de Soveliss. "Amanhã. Confie em mim." Completou

Depois do banquete, a Ordem da Liberdade espalhou-se pela torre de Mechin. Ecniv dormiu no topo da torre, pensando em planos para Mechin, que ele costumava chamar de 'fortaleza' de Mechin.

A noite foi agitada pois os aventureiros tiveram sonhos perturbadores.

Keyra se viu num túnel quase interminável. Depois o caminho se abria e duas meninas loiras, gêmeas, apareciam. Em seguida, uma delas ficava para trás, chorando, enquanto a outra avançava em sua direção, ficando mais velha, até se tornar adulta. Então, a jovem loira com um olhar terrível estendeu sua mão na direção da ladina e disse "Finalmente!".

Arannis sonhou algo parecido. Mas em seu sonho, quem surgia era um guerreiro selvagem de cabelos e barba vermelha, com um machado nas mãos e feridas por todo o corpo. Este apontou para o paladino e disse "Vingança!".

Ecniv, dormindo ao relento no alto da torre, sonhou com um caminho apertado e escuro. No fim deste, Vince, seu irmão gêmeo, surgiu e disse "Morra!".

Soveliss sonhou com Damara. Esta parecia muito ferida. No fim, depois de um longo caminho até ela, sua imagem mudava e esta se transformava em Agrom-Vimak que abriu os braços na direção do mago e disse "Fuja!".

Adrie sonhou com um túnel escuro que parecia descer cada vez mais até o mundo subterrâneo. No fim do caminho surgiu o drow conhecido por ela como Pesadelo. Este sorriu e disse "Bu!". Ela acordou com medo. Pesadelo sabia que Adrie o temia. Disso a elfa tinha certeza.

No dia seguinte, os aventureiros partiram deixando instruções com Hans e Murmur. Azamarul e seus companheiros emprestaram cinco cavalos aos heróis e estes deixaram Mechin logo pela manhã. Os aventureiros pouco falaram durante a primeira parte da viagem, ainda com as imagens dos pesadelos em suas mentes. Depois de um tempo, Arannis reuniu forças e comentou seu sonho com os demais. Logo estavam todos falando sobre suas experiências, bastante preocupados. O clima se tornou pesado e Adrie sentiu que devia fazer algo para mudar de assunto.

"Para as montanhas. Os pégasos costumam ficar lá."Disse ela andando à frente. Em seguida a druida transformou-se em lobo e correu adiante

Os aventureiros sabiam que os cavalos alados eram comuns nas montanhas além da Floresta Castanha mas quando Kubik, o goblin, disse que sabia exatamente onde encontrá-los, Arannis imaginou que isso seria um sinal de que Avandra os estava guiando na direção certa.
A viagem pelas pastagens de Ilíria até o sul da Floresta Castanha era tranquila. Nada além de alguns rebanhos e fazendas isoladas, colinas verdes e pequenos bosques. Dois dias depois já era possível vislumbrar a enorme floresta e as montanhas azuladas ao longe.

Adrie avistou alguém andando adiante e transformou-se em corvo para investigar. A elfa passou voando por cima de um homem que caminhava sozinho, em direção da floresta. Não parecia estar armado, a não ser pelo cajado de caminhada que levava consigo. Adrie retornou e, transformando-se em elfa novamente, disse aos seus amigos o que havia visto.
O grupo continuou até alcançar o viajante que os cumprimentou.

"Bom dia." Disse ele sorrindo. Era um homem baixo, de cabelos castanhos e rosto limpo. Vestia-se com simplicidade e levava consigo apenas uma mochila.

"Bom dia." Responderam os aventureiros seguindo em frente

Em alguns minutos, o viajante não passava de um ponto no horizonte.



O sol estava quase desaparecendo quando os aventureiros chegaram à orla da floresta. Não estavam muito cansados mas decidiram acampar e entrar na antiga Floresta Castanha somente ao amanhecer. Todos foram dormir e Arannis ficou de guarda. Depois de algumas horas, o paladino ouviu passos e preparou sua espada mas viu que se tratava do mesmo viajante que haviam encontrado horas atrás.

"Boa noite. Desculpe chegar assim, em silêncio. Eu vi vocês acampados e decidi aproximar-me. Uma fogueira e companhia numa noite fria no meio do nada são coisas bem vindas." Disse o homem

Arannis analizou o viajante por alguns instantes e concluiu que este não representava ameaça. "Por favor, sente-se. Estou no turno de guarda e conversar seria ótimo." Disse ele.

O homem sentou-se ao lado de Arannis e comeu pão de viagem. O eladrin lhe ofereceu uma maçã e o estranho aceitou prontamente. O silêncio imperou por alguns instantes e então o paladino decidiu perguntar.

"O que faz por aqui sozinho? Tem negócios na floresta? Com os elfos talvez?" Perguntou

"Não não. Meu caminho me leva para a Floresta Castanha mas sou um andarilho. Vou para onde os ventos me levam e a sorte me guía." Respondeu o homem com a boca cheia

"A sorte?" Perguntou Arannis

"Avandra. Sou grato a ela pelos caminhos que escolhe ao acaso para mim. Vejo que é um seguidor da divindade dos viajantes." Disse o homem apontando para o símbolo de Avandra no pescoço de Arannis

"Sim mas eu não entendo como alguém pode viajar assim, desarmado, sozinho, apenas confiando na sorte." Disse Arannis

"Meu caro, talvez você deva acreditar mais nos preceitos de sua divindade. Ela é a sorte, a estrada e os ventos. Deixe-se levar." Disse o viajante sorrindo

Arannis pensou por alguns instantes e então olhou para o homem. este estava de pé, guardando o resto de pão na bolsa que levava.

"Já vai?" Perguntou o paladino surpreso

"Sim sim. Meu caminho é longo e é chegada a hora. Tome, espero que seja útil em sua jornada." Disse o andarilho entregando-lhe um embrulho de pano "É um presente simples mas sincero." Disse este apertando a mão do eladrin.

O viajante foi embora, desaparecendo na escuridão. Arannis ficou olhando naquela direção por alguns instantes e então abriu o embrulho de pano. Dentro estava um medalhão de madeira entalhada com o símbolo sagrado de Avandra. O paladino sorriu, e fitou o pequeno objeto por um bom tempo. Para ele, era um sinal.




Estava amanhecendo quando a Ordem da Liberdade entrou na antiga floresta. Adrie ia na frente pois conhecia grande parte do caminho. Kubik ia ao seu lado pois havia nascido naquela região e também a conhecia. Os demais, seguiam com os cavalos numa fila longa. A floresta era escura e as grandes árvores e o som das criaturas silvestres fizeram com que Adrie se sentisse em casa pela primeira vez em meses. Ela caminha, às vezes em forma de lobo, às vezes em sua forma élfica. Estava feliz por estar em casa, mesmo que fosse apenas uma questão de tempo até deixarem a Floresta Castanha.

O grupo seguiu por uma trilha que os levou para perto das Ruínas Brancas, um local assombrado pelo qual o grupo havia passado em suas primeiras aventuras. Todos pararam menos Ecniv. O gnomo olhou para trás enquanto os demais observavam as ruínas antigas relembrando o passado.

"Ruínas. Estão pensando em explorá-las? Eu até gostaria mas acho que temos pressa." Disse ele

"Estas ruínas. Nós já as exploramos. Muito tempo atrás, antes de conhecer você, quando...quando Medrash ainda estava conosco." Disse Keyra

"Sim. Muito tempo atrás, um ano ou mais talvez." Disse Soveliss pensativo

"Vamos. Este lugar ainda é perigoso." Disse Arannis passando por eles em seu cavalo

Dias depois os aventureiros chegaram a Duaspedras. Todos sorriram ao rever o vilarejo onde haviam se tornado um grupo de aventureiros. Estava exatamente como o haviam deixado. Pacífico e seguindo sua vida normal, independente dos eventos que assolavam o reino. Uma figura conhecida, com apenas uma perna e uma velha muleta de carvalho surgiu na rua principal da aldeia.

"Bom dia Ben." Disse Arannis sorrindo

"Ora se não são os nossos heróis!" Disse o líder de Duaspedras batendo gentilmente no pescoço do cavalo do paladino "O que os trouxe até aqui, meus amigos?"

"Estamos apenas de passagem. Vamos para as montanhas. Como estão as coisas aqui? Alguma novidade?" Perguntou o paladino

"Tivemos um grupo de sulistas que tentou saquear a aldeia mas uns aventureiros estavam por aqui e tudo ficou resolvido." Disse Ben

"Fico feliz. Precisamos seguir nosso caminho e acho que um pouco de água do poço da aldeia nos será bem útil." Disse o eladrin descendo do cavalo

"Arannis, acho que talvez seja melhor deixar os cavalos aqui. O caminho até as montanhas é mais complicado." Disse Adrie

"Tem razão. Ben, quer umas montarias um pouco cansadas?" Perguntou Arannis

"Não posso aceitar, meu caro. Mas se quiser, podem deixá-las aqui e pegá-las na volta." Respondeu o camponês

"Certo. Obrigado. Vamos pegar água no poço e seguir nosso caminho. Obrigado mais uma vez Ben." Disse Arannis

O grupo deixou Duaspedras ainda com vontade de descansar no Dragão Hébrio, a única taverna e hospedaria da aldeia. Horas depois estavam no meio da Floresta Castanha novamente. Depois de mais alguns dias, o grupo chegou perto das montanhas. A jornada havia sido longa mas tranquila. Foi então que, numa noite, todos tiveram o mesmo sonho.

Estavam todos juntos, numa longa estrada no meio do nada. Podiam falar uns com os outros e estavam conscientes de que aquilo era um sonho. Seguiram pela estrada de terra até uma bifurcação. Um caminho continuava tranquilo, com a estrada bem feita e marcada no meio do pasto. O outro descia tortuoso por uma trilha íngreme e cheia de pedras. Entre as duas estradas havia um poste de madeira com pequenas placas contendo o nome de cada um dos membros da Ordem da Liberdade. Cada placa tinha duas pontas em forma de setas indicando para os dois caminhos.

"Temos que escolher." Disse Adrie

"Sim...mas qual caminho?" Perguntou Soveliss olhando para seu irmão

"O mais fácil ou o mais tortuoso?" Perguntou-se Arannis

"Porque não vamos pelo do meio, ora?" Disse Ecniv rindo "É só um sonho!"

Subitamente, uma voz familiar foi ouvida pelos aventureiros e ali, ao lado deles estava o andarilho. "Escolhas são difíceis não é? Que caminho seguir? O que dizer? Tantas perguntas e tantas respostas diferentes..." disse ele

O homem estava tranquilo e sua voz pareceu confortar os corações dos membros da Ordem da Liberdade. "Não posso influenciar vocês. Escolham o caminho e deixem que a sorte diga se foi a escolha certa ou não."

Keyra permanecia em silêncio enquanto os demais argumentavam. Então tomou sua decisão. Pegou uma de suas adagas e a jogou para o alto. A ponta caiu na direção do caminho mais difícil.

"Eu vou por aqui. Vocês vão me seguir?" Disse a ladina entrando na trilha ruim.

"Viram? Nunca é tão difícil assim. Boa escolha." Disse o andarilho, desaparecendo lentamente no ar

Automáticamente, a placa com o nome de Keyra ficou com apenas uma seta, a que apontava na direção escolhida. os demais olharam para a meio-elfa e a seguiram. Somente Ecniv ficou em dúvida por alguns minutos.

"Você vem?" Perguntou Soveliss

"Certo...estava só pensando em alternativas." Disse o gnomo unindo-se ao grupo

A Ordem da Liberdade continuou pela trilha, tropeçando de tempos em tempos. Logo a estrada transformou-se num túnel escuro. Ninguém além de Adrie enxergava à frente tochas ou bastões solares não funcionavam. Os aventureiros deram as mãos, com Adrie guiando-os pelo túnel de pedra. O caminho se parecia com todos os que haviam aparecido nos sonhos de cada um. Estavam claramente com medo de encontrar as pessoas vistas em seus respectivos pesadelos.

Porém, depois de uma longa caminhada, o grupo chegou ao fim do túnel. Uma porta se abriu e estes estavam num campo verde interminável. Um homem em armadura vermelha com longos espinhos nas ombreiras e um elmo terrível os aguardava.

"Agrom-Vimak!" Gritou Arannis

Os aventureiros sacaram suas armas mas foi Adrie quem agiu primeiro. Uma flecha de seu arco longo cruzou o ar e atingiu Agrom-Vimak no peito. Este pareceu surpreso ao retirar seu elmo demoníaco. O vilão olhou na direção do grupo e sua armadura desapareceu quando seu elmo caiu no chão ruidosamente. A flecha em seu peito se desfez no ar em seguida. Era apenas um homem, um camponês de cabeça raspada e olhar tranquilo.
Agrom-Vimak caiu de joelhos e sorriu.

"Obrigado..." Disse ele antes de cair morto

Então os aventureiros despertaram. Estavam de volta ao seu acampamento.

"O que foi aquilo?" Perguntou Ecniv assustado

"Não sei mas vamos descobrir." Respondeu Arannis

Horas depois quando estavam quase chegando às montanhas, o pensamento do grupo estava fixo no sonho que tiveram. Talvez isso tenha feito com que não percebessem a emboscada.
Das sombras surgiu um drow com duas kukris, as adagas curvas. Este saltou sobre Soveliss e o feriu no ombro. Era Espectro, o assassino.
Acima, nas pedras das montanhas estava um drow com um elmo de caveira negra.

"Pesadelo..."Disse Adrie baixinho sem esconder seu medo

Uma outra figura com armadura de metal surgiu nas rochas. Era uma jovem de cabelos loiros e olhos azuis. Tinha uma aura terrível e carregava o símbolo de Bane no peito. Ao seu lado estava um homem alto e forte vestindo peles de lobo e urso. Tinha barba e cabelos vermelhos e olhos mortos. Seu machado pingava sangue.
Atrás deles, numa distância segura, estava um gythzerai que claramente era um mago, considerando a varinha mágica em sua mão esquerda.

Os aventureiros demoraram alguns segundos para reconhecer o bárbaro com o machado.

"Mi...Mikal?" Perguntou Arannis "Mas você morreu há um ano! Que aberração demoníaca é essa?!"

"Eu mesmo...vocês me deixaram morrer, aventureiros. Agora me trouxeram de volta para matar vocês!" Disse ele gargalhando

Arannis encarava a clériga de Bane e por alguns segundos pareceu querer desistir da luta.

"Ania. Nós deixamos você num lugar seguro...Nós pedimos que ouvisse a razão."Disse Keyra triste. "Nós queriamos que deixasse a vingança de lado." Completou

"Seguro? Me deixaram longe da minha vingança! Me deixaram para ser transformada num cordeirinho!" Gritou a mulher

"Você era uma criança!" Interrompeu Keyra "Você...você...como você ficou mais velha que eu?"

"Não importa, 'ordem da liberdade'. Hoje terei minha vingança e cumpriremos as ordens de nosso mestre." Disse Ania

"Hoje, pelo poder de Bane e em honra a Agrom-Vimak...vocês morrerão!" Disse a clériga de Bane enquanto seus companheiros se lançavam em direção aos heróis.