sábado, 25 de dezembro de 2010

ANIVERSÁRIO

Este post é totalmente fora do padrão do blog, uma vez que este é voltado exclusivamente para material sobre a campanha A Espada Rubra.

Bem, acontece que a primeira postagem data de 20/12/2009. Ou seja, dia 20/12/2010, completamos 1 ano de campanha. Tudo começou de forma simples, com uma aventura tímida de dungeon tradicional. Eram apenas cinco jogadores e personagens de primeiro nível.
A campanha cresceu, jogadores saíram, jogadores entraram e personagens que eram apenas um conjunto de números evoluiram, tornando-se cada vez mais vivos.

Tenho orgulho em dizer que esta é uma das melhores campanhas que tive a oportunidade de mestrar. Quando criei os personagens, pensei que iriamos chegar à quarta ou quinta sessão e pronto. Já estamos no segundo ano da campanha e meus jogadores pedem mais e mais.
Os personagens estão em nível 10 e tornando-se grandes heróis. Mas o que faz da Espada Rubra uma grande campanha de D&D são os jogadores e sua vontade não só de ajudar a criar uma história rica em detalhes como também fazer com que seus personagens se tornam memoráveis.

Keyra transformou-se muito do rascunho original, que era um ladino galanteador. Camila, a jogadora, tornou a ladina num personagem cheio de traumas, vontade de superação e estilo.

Arannis, que havia sido pensado originalmente como uma mulher, tornou-se um líder, um bastião de coragem que não deixará seus companheiros sozinhos nunca. Elogios ao Wagner, jogador que tornou o paladino de avandra o que é hoje.

Adrie, que inicialmente era um personagem baseado em Naitiri do filme Avatar, tornou-se uma druida diferente, com conflitos e momentos hilários. Tudo graças à Marcela, a jogadora, que modificou o personagem e acabou encaixando-se no grupo perfeitamente, depois que a campanha havia se iniciado.

Soveliss...originalmente pensado como um mago calmo, sábio e controlado, tornou-se um íncone do "glam magic". Um personagem único que nos diverte com sua androgenía e seus momentos de sabedoria recheados de glitter e magias devastadoras. Paulo, o jogador, tem todo o crédito. Transformou muito o personagem e ele mesmo fica assombrado com o que fez.

Não vou deixar de mencionar Medrash, que teve uma grande participação na história da campanha, cujo jogador teve que sair por conta da falta de tempo. Valeu pela contribuição Arthur!

Também devo agradecer ao Emanuel "Lobo" que criou Ecniv, um pequeno grande personagem que ainda nos proporcionará grandes surpresas. Hans, o outro personagem do "Lobo" teve uma boa contribuição também.

Gostaria de agradecer também ao Pablo, jogador do Murmur, cuja participação foi excelente! Pena que o tempo é corrido também para este grande amigo que deixa a campanha agora.

Enfim, a história foi criada por mim, inicialmente, mas tomou grandes proporções graças ao excelente grupo de jogadores! Obrigado a todos e que venha mais um ano de Espada Rubra!

ABRAÇOS A TODOS!

Gene, o mestre orgulhoso.

O Mistério de Galan

Era de manhã quando o Aurora atracou no pequeno cais da aldeia pesqueira de Galan, ao norte de Ilíria. Apesar de ser um dia de verão, havia grandes nuvens escuras sobre o vilarejo e a floresta além dele. Uma tênue mas persistente névoa matinal parecia encobrir o vilarejo a beira mar. Halmar guiou a embarcação com facilidade enquanto a Ordem da Liberdade se mantinha atenta no convés. O navio mercante atracou e dois marinheiros saltaram rapidamente com grandes cordas, amarrando o Aurora firmemente.

"Vilarejo estranho. As pessoas não parecem amistosas." Disse Adrie baixinho

"O que foi?"Perguntou Soveliss

"Nada...apenas...pensei alto."Respondeu a elfa

O grupo desembarcou logo depois do capitão do navio. Os marinheiros desceram alguns fardos de grãos, peles de lontra, peixe seco e ossos de baleia, comprados nas longíncuas ilhas do norte.

"Halmar, esta é a última parada antes de Ilíria?"Perguntou Arannis enquanto ajeitava o cinto da espada

"Sim. Não devemos demorar muito aqui. Depois vamos contornar a península e continuar descendo pela costa até Ilíria. Acho que serão mais alguns dias. Uns três a quatro se o vento ajudar." Respondeu o capitão

"Certo. Nós vamos esticar as pernas um pouco, se não se importa."Disse o paladino de Avandra

"Fiquem à vontade. Devo falar com algumas pessoas e fazer alguns negócios. Talvez durmamos aqui esta noite."Disse Halmar

Os aventureiros estavam no cais quando viram que a maioria dos aldeões não se aproximavam do barco recém chegado. Havia nas pessoas um olhar de desconfiança misturado com um tom de tristeza.

"Keyra, acho melhor irmos juntos até uma hospedaria e...Keyra?"Perguntou Arannis quando viu que a ladina havia desaparecido, como costumava fazer.






"Hola! Eu quero uma cerveja e algo para comer. O que tem de bom?" Perguntou Keyra à moça atrás do balcão

"Temos...peixe seco e pão moça."Respondeu a mulher

"Ótimo. Quero isso. As coisas são sempre paradas assim por aqui? Aliás, onde é aqui? Como se chama este lugar?" Disse a ladina enquanto bebia cerveja quente

"Galan moça. Esta aldeia se chama Galan."Respondeu a taberneira sem ânimo

Keyra estava sozinha no balcão da pequena taberna de Galan. Era um pequeno salão de madeira com uma lareira de pedra. Apenas duas mesas com seis pequenos bancos e uma cozinha quente e cheia de fumaça. A taberneira, uma humana de seus trinta anos, era magra e tinha um olhar perdido. No fundo da taberna, numa das mesas, três pescadores conversavam e de tempos em tempos olhavam na direção da meio-elfa.

"Então. Tem quartos aqui? Eu e meus amigos estamos pensando em passar a noite aqui e depois seguir viagem." Disse Keyra enquanto espiava sutilmente os homens à mesa.

"Não moça. Vocês...não devem...nãot em lugar aqui para vocês."Disse a mulher demonstrando um nervosismo até então oculto.

"Como assim?" Perguntou Keyra

A mulher aproximou-se da ladina e falou baixo. "Moça. Vão embora. Não devem ficar aqui ao anoitecer." A taberneira percebeu que os três homens observavam e sussurrou ao ouvido de Keyra. "Vão embora antes do anoitecer. Vão e ficarão bem."

Os homens levantaram-se e sairam da taberna. Keyra ficou intrigada e quando se preparava para seguí-los, viu que Arannis e os demais estavam chegando.

O paladino viu os três e percebeu que Keyra apontava discretamente para estes. Então, sem perder tempo, segurou um dos homens pelo braço. Em seguida, olhou para Keyra e fez sinal para que esta os seguisse. A ladina piscou e saiu da taberna.

"Amigo, somos a Ordem da Liberdade. Percebo que estão com algum problema. Podemos ajudar?" Perguntou o paladino

O homem ficou com medo e olhou para seus companheiros. Estes deixaram a taberna.

"Senhor, por favor, eu não...não...está tudo bem. Sério."Disse o pescador quase que implorando

"Tem certeza homem?" Perguntou Arannis olhando nos olhos do aldeão

"Er...sim eu..." O homem sentiu-se compelido a falar quando notou que Arannis não o soltaria enquanto não contasse o que estava acontecendo na aldeia. "Senhor. Aqui não. Eu os encontro no cais em duas horas."

"Certo. estaremos lá." Disse o paladino soltando-o

O homem acenou e saiu correndo pela porta.





Keyra chegou à rua e viu que os homens estavam deixando o vilarejo em direção à floresta. A ladina tirou da bolsa mágica a esfera de disfarce, sussurrou as palavras mágicas e em seguida transformou-se num camponês qualquer. Puxou o capuz, cobrindo o rosto e seguiu os homens discretamente, quase desaparecendo nas ruas da pequena aldeia.

Dez minutos depois, os dois homens entravam no pequeno e fantasmagórico bosque de Galan. A névoa continuava e cobria os pés e joelhos dos homens que se embrenhavam pela mata. Atrás deles, um camponês os seguia.
Keyra perdeu a noção do tempo que se passou. Talvez uma hora de caminhada. Os dois homens pararam ao lado de um altar de pedras que parecia bem antigo. Keyra escondeu-se atrás de um tronco caído.
Havia uma pequena estátua de um demônio obeso com pequenas asas de morcego e uma horrenda boca cheia de dentes pontiagudos. Keyra teve um sobressalto mas ficou tranquila ao ver que era apenas uma estátua coberta de limo.

Os homens ajoelharam-se diante do altar e começaram a recitar algo numa língua estranha. Minutos depois, uma imagem surgiu acima do altar. Era uma esfera de névoas azuladas. Dentro da esfera, o rosto de uma mulher tiefling surgiu.

"Senhora...nós...há estranhos na aldeia." Disse o mais velho dos dois

"Estranhos? Que tipo de estranhos? Mercadores?"Perguntou a mulher

"Também senhora. Mas há um grupo de aventureiros. Estão fazendo perguntas..."Respondeu o homem

"Hum...aventureiros. Continuem o trabalho como ordenei e deixem que os aventureiros venham até mim. Eu cuidarei muito bem deles." Disse a tiefling rindo

"Sim senhora...como desejar." Disseram os dois homens ao mesmo tempo

"Agora vão..."Disse a mulher desaparecendo

Keyra esperou por algum tempo e então voltou para Galan, quando os homens já estavam longe.
Ao chegar, encontrou a Ordem da Liberdade.

"Encontrei algo." Disse ela, esquecendo-se de que ainda parecia um camponês

"Pois não?" Disse Soveliss educadamente

"Eu disse que encontrei algo e...ah...certo." Disse Keyra voltando à sua forma normal "Gente, segui aqueles dois até o bosque. Tem um altar...e é um lugar sinistro. Tem manchas de sangue. Também vi uma mulher. Uma tiefling. Parece que é ela quem manda aqui."

"Vamos até lá. Eu estou ficando cansado de não ter respostas. Este lugar precisa claramente de ajuda e ninguém quer cooperar." Disse Arannis

Keyra guiou seus amigos até a floresta. Estavam quase entrando quando Adrie parou, tocou o solo e algumas plantas mortas.

"Isto...esta neblina...não é natural. As nuvens de chuva também não o são. Tem algo muito errado com esta floresta." Disse a elfa

"Mais uma razão para entrarmos." Disse Arannis. "Murmur, proteja a retaguarda. Eu e Adrie vamos à frente com Keyra guiando. Soveliss, você e Hans fiquem no centro da formação. Kubik, fique atrás de Hans." Disse o líder do grupo sacando sua espada.

A Ordem da Liberdade seguiu pela floresta. Caminharam por muito tempo e para Keyra parecia tudo diferente. Já haviam passado mais de duas horas e nada de encontrarem a pequena estátua de demônio que Keyra havia marcado como sinal de proximidade ao altar.

"Estranho. Quando vim, levei apenas trinta minutos."Disse a ladina

O grupo chegou ao altar. Adrie e Soveliss o examinaram e encontraram apenas manchas de sangue e pequenos ossos de animais espalhados pela clareira.

"Eu posso tentar fazer algo." Disse Murmur

"Tudo bem. Fiquem perto."Disse Arannis

Murmur colocou as mãos sobre o altar e fechou os olhos. O goliath ficou assim, em silêncio, por alguns minutos.

"O que ele está fazendo afinal?" Perguntou Hans impaciente

"Não faço idéia. Isso não é magia." Respondeu Soveliss intrigado

Murmur então abriu os olhos. Estes brilhavam intensamente. O goliath virou-se na direção de seus amigos e tentou falar mas sua voz não saiu. Em vez disso, imagens formaram-se na mente dos aventureiros.

Na primeira cena, um tiefling com vestes élficas caminhava pelo local do altar. Era um homem alto de pele vermelha e chifres longos. Levava um arco que chamou a atenção dos herois. Era feito de prata extremamente polida. Uma menina, também tiefling, caminhava ao lado do homem. Este, pegou a criança e colocou-a sobre o altar. Sorriu e parecia contar uma história. A pequena tiefling sorriu de volta e, quando o homem se virou, seu sorriso transformou-se numa careta diabólica.

Murmur concentrou-se ainda mais e uma segunda cena surgiu. Destsa vez, a tiefling estava mais velha. Trazia com ela um bebê. Havia um grupo de homens amedrontados ao seu lado. A mulher usava vestes velhas e sujas e em seu cinto levava pequenos crânios de animais e crianças pequenas. Uma longa adaga estava em suas mãos e então, apoiando o bebê sobre o altar, entoou um cântico estranho. egundos depois, cravou a faca no peito da criança que chorava.
Essa ultima imagem foi forte demais e murmur gritou ao cair no chão segurando as têmporas. Os demais sentiram uma dor horrivel mas aguentaram.

"Necromancia" Disse Soveliss. "Ela pratica necromancia."

"Vamos encontrá-la." Disse Arannis. "Vamos acabar com a crueldade dessa mulher e sair daqui."Completou o paladino.

Adrie estava transformada em lobo e pareceu captar algum cheiro fora do comum. A druida uivou e correu pela floresta, seguida pelos demais.
Estranhamente, eles andaram por muito tempo e voltaram à mesma clareira.

"Magia. Mas duvido que seja coisa de necromante."Disse Soveliss fascinado com a estranha e antga floresta.

Adrie continuou farejando e os heróis a seguiram. Desta vez passaram-se poucos minutos. Ruinas surgiram diante dos aventureiros. Parecia a construção abandonada de um templo. Numa das paredes estava gravado o símbolo de uma meia lua, que Arannis reconheceu tratar-se do símbolo de Sehanine.
Os heróis estavam verificando as runas quando dois esqueletos portando arcos começaram a disparar, de dentro das ruínas.

"Desgraçados!" Gritou Hans arremessando sua lança que cravou-se no chão, prendendo um dos esqueletos pelas costelas.

O guerreiro partiu para cima dos monstros, seguido por Murmur e Arannis. Soveliss, Adrie e Keyra atacaram o outro.

O esqueleto preso ao chão conseguia desferir golpes de espada mas não era capaz de soltar-se. Alguns golpes atingiram Murmur e a criatura parecia ser imune ou resistente aos golpes dos três guerreiros. Por fim, Murmur ficou irritado, asoltou sua lança e agarrou o esqueleto pelas costas.
Acriatura urrava tentando soltar-se quando Arannis invocou o poder de Avandra e sua mão brilhou com energia radiante. O toque no peito do monstro seria suficiente para causar algum dano mas Arannis gritou: "Em nome de Avandra, eu te dou o descanso eterno! Volta para a tumba criatura!" O monstro brilhou intensamente e explodiu em pedaços de osso incandencente.

"Onde está o outro?" Perguntou Hans

"Caiu pela escada. Vamos atrás dele!" Respondeu Keyra

Os aventureiros desceram por um alçapão aberto e encontraram um corredor de pedras no subsolo. Havia uma estátua com as mãos extendidas e inscrições aos seus pés. O lugar era iluminado por uma luz azulada que vinha do final do corredor. A luz vinha de uma barreira mágica quase translúcida que impedia a passagem.

"Já vimos isso antes. Soveliss?" Disse Arannis apontando com a espada

"É pra já! Você sabe que eu sou o melhor naquilo que faço!" Disse Soveliss jogando o cabelo para trás enquanto se aproximava da parede de energia.

O eladrin concentrou-se e recitou palavras mágicas que rasgaram a barreira. O mago abriou os braços e a energia dividiu-se como uma cortina. Do outro lado, um grande grupo de mortos-vivos aguardava numa sala grande cheia de altares e estátuas. Um dos esqueletos disparou uma flecha na direção de Soveliss que fechou os olhos esperando o impacto. Porém, o som da flecha batendo no metal do escudo de seu irmão foi suficiente para restaurar a confiança do mago.

"Peguem eles!" Gritou Arannis avançando, sala adentro

A tiefling, que estava na sala atrás de um altar de pedra sorriu e gritou uma ordem aos seus esqueletos. Estes atacaram ferozmente.

A Ordem da Liberdade já havia enfrentado esqueletos antes. Todos sabiam bem como proceder. Murmur teve a excelente idéia de posicionar-se perto da necromante, atingindo vários esqueletos que a protegiam. Hans lutava contra vários inimigos de uma vez, mantendo Soveliss protegido. Keyra, como sempre, dançava a mortal dança das lâminas, saltando, cortando ossos e esquivando-se de golpes fatais. Adrie mordia em sua forma de lobo e lançava magias que tanto atrapalhavam os esqueletos como causavam dano. Soveliss sorria enquanto suas magias atingiam a tiefling, deixando-a sem oportunidade de atacar com seus próprios feitiços.

Arannis avançou afim de atingir a origem do problema, a tiefling. Não teve tantas dificuldades assim. Logo a mulher estava no chão, ensanguentada. Os esqueletos cairam.

"Quem é você e por que fez o que fez com a vila?" Perguntou Arannis com a espada na garganta da tiefling

"Meu nome...é Nimir...e eu cuspo em sua carcaça, paladino." Disse a mulher, morrendo em seguida

Os aventureiros recuperaram-se de alguns ferimentos e empilharam os ossos num canto da sala. Soveliss estava examinando a parede atrás de Nimir, onde uma estátua parecia sair da pedra.

"Acho que tem algo aqui." disse o mago

Keyra sorriu. Era seu momento. Ela adorava abrir portas e destrancar fechaduras intrincadas. Usando sua habilidade e ferramentas, a meio-elfa conseguiu destravar um mecanismo que fez com que a estátua se movesse, abrindo uma porta secreta. Uma luz branca emanava do lugar.

Os aventureiros avançaram até uma pequena sala onde um poço brilhava com energia mística. Acima dele, flutuando em pleno ar, estava um arco da mais fina prata. Soveliss sorriu e então Adrie esticou a mão e pegou a arma.
A elfa empunhou o arco que parecia não ter corda. Então, ao fazer o movimento de quem ia disparar, percebeu que um fino fio de prata servia de corda. Adrie puxou o fio e uma flecha prateada surgiu no arco.

"O arco de Sehanine...um arco lunar" Disse Arannis lembrando-se de histórias que ouvira no templo de Avandra a respeito desse tipo de armas.

"Posso...ficar com ele?" Disse Adrie sorrindo

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A Jóia do Anão - Parte III

Adrie estava no "ninho do corvo", observando o mar quando o kraken surgiu. Sem pensar duas vezes, saltou em direção a um dos tentáculos maiores e transformou-se em pantera. Tentou cravar as garras no alvo mas não conseguiu prender-se à pele escorregadia do monstro. A druida caiu, desaparendo debaixo d´água.

Keyra viu isso acontecer e saltou, com a espada na cintura e a adaga entre os dentes. A ladina mergulhou esperando encontrar um ponto fraco no enorme kraken submerso. Debaixo d´água, Keyra viu o tamanho da fera e seu sangue gelou por alguns segundos. Então, determinada a enfiar sua rapieira no corpo mole da criatrura, Keyra nadou. Porém, um tentáculo agarrou sua cintura e apertou seu corpo terrivelmente, fazendo com que a meio-elfa perdesse o fôlego.

Acima, no convés do Aurora, a cena era de caos. Marinheiros eram mortos pelos braços gelatinosos do monstro, Murmur, Hans e Arannis golpeavam a criatura e Soveliss tentava usar sua magia para ajudar. Halmar e seus homens tentavam fugir dos enormes tentáculos pois não eram guerreiros.

Murmur percebeu que dois dos tentáculos agarravam o Aurora e o som de madeira rachando foi claro para o goliath. Um dos mastros caiu, matando dois marinheiros e Murmur não teve dúvidas e atacou com sua lança mágica, ferindo gravemente um dos braços do monstro, que caiu, desaparecendo no mar. O Segundo tentáculo foi atingido da mesma forma e o Aurora estava solto. Porém, a batalha ainda não terminara.

Keyra conseguiu soltar-se com a ajuda de Adrie mas foi pega novamente pelo kraken. Então, cravou a adaga mágica no tentáculo e conseguiu soltar-se e subir rumo a superfície, seguida por Adrie. A batalha ainda durou alguns minutos mas as forças da Ordem da Liberdade acabaram por ferir ainda mais a criatura colossal que soltou de uma vez por todas o navio e mergulhou rumo à escuridão do mar. A embarcação estava avariada mas estavam todos salvos, apesar de alguns marinheiros que nunca mais foram vistos.

Depois do ataque, o navio seguiu para o norte. No caminho, Adrie fez um ritual e foi visitada por uma ninfa acuática que ficou intrigada com as perguntas da elfa a respeito de outros perigos naquelas águas. Dias depois, o Aurora avistou terra.

A praia era estreita e o cais pequeno perto do vilarejo de pescadores era capaz de comportar somente um barco do tamanho do Aurora. A aldeia era minúscula e ficava num lugar desolado perto de uma imensidão gelada. Ao longe, as montanhas eram apenas uma sombra azulada no horizonte. Um pequeno bosque coberto de neve ficava a algumas centenas de metros atrás do vilarejo.
Crianças vestindo casacos de peles corriam pela praia, na direção do cais. Alguns adultos as acompanhavam mais devagar. Todos tinham pele escura, cor de barro, olhos estreitos e escuros e cabelos igualmente escuros e lisos. Muitos dos nativos tinham o rosto tatuado e carregavam lanças de pesca. Alguns cães latiam na direção dos forasteiros.

Ao atracar, Halmar saltou da amurada e quase caiu. Recobrou o equilíbrio e foi recebido por um homem alto e corpulento vestindo peles. Seu cabelo estava trançado e era negro. Tinha tatuagens azuladas no rosto marcado por cicatrizes e sorria quando abraçou Halmar e o beijou no rosto. Os dois homens falavam numa língua estranha para os membros da Ordem da Liberdade.
Por isso, Murmur realizou um ritual rápido antes de desembarcar e logo falava a língua dos hakosh, o povo do gelo, com bastante desenvoltura.

O líder da aleida, que negociava com Halmar, era Kashish. Era um homem enorme e ficou muito animado ao ver que um dos aventureiros falava sua língua. Kashish indicou uma das grandes cabanas da aldeia, dizendo que seria morada dos tripulantes do Aurora e dos aventureiros pelo tempo que ficassem na aldeia.
Os homens de Halmar desembarcaram caixotes de mercadorias e sacos de grãos enquanto os aldeões traziam peixe salgado e peles de animais. Quando todos haviam deixado o convés do Aurora, Arannis notou que Halmar deixara dois guardas de prontidão.

"Não confia em seu amigo, Halmar?" Perguntou o paladino

"Nunca é bom confiar totalmente em alguém meu rapaz. Sempre podem acontecer problemas durante negociações."Respondeu o capitão sorrindo

À noite, Kashish recebeu os estrangeiros em sua cabana. Era uma casa maior que todas as demais, feita com ossos de grandes animais e madeira, coberta por camadas e camadas de peles de urso. No centro da cabana, que era circular, havia um buraco no teto, logo acima da grande fogueira que ardia desde cedo. Ao redor dela, o povo de Kashish, os hakosh, comiam, dançavam e bebiam hagash, uma bebida feita com leite fermentado.

A Ordem da Liberdade foi bem recebida pelo chefe da tribo que prontamente apresentou suas três esposas e seus muitos filhos. Dentro da cabana fazia calor e o próprio Kashish estava com o torso nu, mostrando inpumeras tatuagens azuis e cicatrizes.

"Suas mulheres me agradam. Estão à venda? Posso dar muitas peles de lontra e cães, muitos cães, por elas."Perguntou o chefe dos hakosh a Murmur, enquanto olhava fixamente para Keyra e Adrie.

"Não são minhas grande chefe. São amigas. Livres" Respondeu o Goliath que era apenas um pouco mais alto que o humano

"Ah, que pena. Gostei muito. Hagash!" Gritou Kashish e logo uma mulher trazia canecas de barro contendo a bebida forte de seu povo "Beba Murmur! Hagash!"

Murmur sorriu e bebeu com cuidado. Hans fez o mesmo e gritou "Hagash!"

"Kashish, nós estamos à procura de um homem. Um mago. Um anão chamado Ulfgar."Disse Arannis, sendo traduzido por Murmur

"Anão...mago? Ah! Seu amigo de orelhas pontudas fala de Cara Queimada." Respondeu Kashish

"Cara Queimada?"Perguntou Murmur

"Sim. Um mago anão que vive ao norte, no Vale da Morte Certa. Os hakosh não vão até lá."Disse Kashish

"Com esse nome, não me admira muito..."Comentou Soveliss ao ouvir a tradução

"Cara Queimada nunca vem aqui. Ele manda uma coisa de metal que parece um gigante. Assim ele troca coisas com meu povo. Mas tem um bom tempo que o monstro de ferro não aparece." Continuou o chefe da tribo

"Como chegamos até o lar de Cara Queimada. Kashish?"Perguntou Arannis

"Kasdosh pode levar vocês. O pai dele tem muitos cães e o garoto conhece bem a região. Mas ele nunca os levará até o Vale. Somente perto dele." Respondeu o homem

Durante o festim foram servidas carnes de baleia e morsa e a Ordem da Liberdade foi muito bem tratada, assim como os tripulantes do Aurora. No dia seguinte, os aventureiros estavam à porta da casa de Kasdosh, seguindo a orientação do chefe dos hakosh.

Kasdosh era um garoto de seus quinze anos. Era alto e forte mas não tinha tatuagens ou cicatrizes. Estava na porta de casa, afiando uma lança de madeira quando Murmur e os demais chegaram. Perto dele estava Bor, seu irmão mais velho. Este sim parecia um caçador experiente e, como todos na aldeia, recusava-se a falar na língua comum, apesar de entendê-la.

"Não reparem. Meu irmão segue bem os costumes."Disse Kasdosh na língua comum

"Obrigado Kasdosh. Fomos informados de que poderia nos levar até o homem que chamam de Cara Queimada." Disse Arannis

"Bon, senhor, meu pai alugaria os cães e os trenós. Teriam que negociar com ele. Eu sou apenas um guía."Respondeu o garoto

Klana, o pai de Kasdosh, era um homem também alto e de cabelos brancos. Era muito velho mas havia visto muitos combates, a julgar pelas cicatrizes em seu rosto. Depois de muito conversar com os aventureiros, Klana aceitou emprestar seus dois trenós e os cães e em algumas horas o grupo deslizava pelo gelo interminável.
Kasdosh e Bon guiavam os dois trenós e os heróis se apinhavam neles, sentindo o vento cortante do norte ao som dos latidos dos cães que os puxavam.

Muitos dias se passaram e o terreno gelado era sempre o mesmo. Em raros momentos, Adrie viu rapoçsas brancas que rapidamente desapareciam. Em uma ocasião, o grupo viu um enorme urso branco que cavava no gelo e em seguida retirava uma foca morta. Os dias passavam lentos e o terreno monótono parecia não acabar.
No décimo dia, as montanhas ficaram mais próximas e o terreno plano foi fi;cando cada vez mais elevado. Logo estavam numa região de pequenas colinas de neve e, no topo de uma delas, Kasdosh parou o trenó e apontou para o norte onde uma cadeia de montanhas se pronunciava. Entre as granfdes formações rochosas, uma torre chamou a atenção do grupo. Era o lar de Ulfgar.

"Eu e meu irmão não vamos além destas colinas, senhor."Disse Kasdosh olhando para Arannis "Mas esperaremos vocês aqui. São só algumas horas de caminhada até a torre e não há gelo fino aqui." Completou


Então, a Ordem da Liberdade seguiu a pé, descendo a colina.

Horas depois, os aventureiros encontraram o 'monstro de ferro'. era um golem. Carregava uma enorme mochila de couro com provisões que jazia ao seu lado. O construto estava de pé mas a jóia em seu peito brilhava fraca e a criatura estava inerte.

"A magia nele está bem fraca. Parece ter perdido a energia."Disse Soveliss analizando o golem

"Então vamos levar essa coisa até seu dono."Disse Hans derrubando o golem com um empurrão

O golem caiu ruidosamente sobre a neve mas permaneceu imóvel.

"Vamos, está começando a nevar."Disse Adrie

Murmur e Hans puxaram a criatura pelas pernas de metal. O grupo andou devagar até chegar à torre. Havia um pequeno muro de pedra ao redor do lugar. Era uma torre larga e alta e, perto da porta de metal havia outro golem, este de tamanho humano. O construto também estava desativado.

Arannis e Keyra bateram à porta e por quase quinze minutos nada se ouviu. Então, com um ranger de metal, a pesada porta se abriu. Estava escuro no interior da torre e apenas a lâmpada mágica nas mãos de Ulfgar aparecia.
O anão era calvo e tinha uma barba escura. Metade do seu rosto era marcado por cicatrizes de queimaduras e seu olho esquerdo era totalmente branco. Vestia mantos de peles e pareceu muito surpreso ao ver os aventureiros.

"Quem são e o que querem aqui?"Perguntou o anão rispidamente

"Somos a Ordem da Liberdade. Viemos de muito longe, de Skan, para falar com o senhor."Disse Arannis

"Só me faltava essa. Aventureiros nestes confins, querendo conselho e bla bla bla..."Disse Ulfgar resmungando

"Nós precisamos de ajuda com algo mas, pelo que vejo, parece que o senhor mesmo é quem precisa de ajuda."Disse o paladino de Avandra

"Diabos! Você está certo. Vamos, entrem. Não tenho muita escolha nestes dias."Disse o mago

Os heróis entraram na torre às escuras. Mais golens menores jaziam no saguão e o lugar estava gelado, apesar da lareira apinhada de móveis e livros que ardiam para manter um pouco de calor.

"Aqueles malditos...levaram meu gerador esférico de energia primordial. Malditos, desgraçados, filhos de uma bosta de mamute."Resmungou Ulfgar

"Gerador esférico de que?" Perguntou Soveliss intrigado

"O gerador esférico de energia primordial. Vai me dizer que nunca ouviu falar de um? Ah sim, comom poderia se fui eu quem o inventou." Disse o anão com um tom de orgulho "Vamos aos negócios. Vocês querem algo e eu quero algo. Quem quer algo tem que dar algo em troca. É assim que as coisas funcionam." Completou

"Venham, sigam-me"Disse o anão descendo por uma escada larga

Os aventureiros seguiram Ulfgar e depois de uma série de degraus chegaram a um corredor muito largo, de teto alto e paredes escuras. O grupo avançou pelo corredor, entre vitrines e aquários estranhos onde objetos pareciam estar presos. Havia criaturas bizarras nos aquários e Keyra reconheceu algumas. Uma medusa, um minotauro, serpentes enormes, todos empalhados.
Um dos quários parecia vazio e a ladina aproximou-se curiosa. Algo se moveu e bateu contra o vidro e Keyra afastou-se por puro reflexo. Era uma criatura alta, magra, de pele escura e garras longas. Tinha o bico parecido com o de um abutre.

"Um vrok."Disse Soveliss fascinado

"Um o que?!"Perguntou Keyra ainda olhando para a criatura que se mexia do outro lado do vidro

"Um vrok, um tipo de demônio!"explicou Soveliss

"Como isso está vivo e preso é que me intriga."Disse Arannis enquanto passava pelos dois

"Parem de tagarelar e venham!"Disse Ulfgar alguns passos adiante

O monstro pareceu sorrir para Keyra e esfregou as garras no vidro. A meio-elfa sorriu de volta e fez um gesto com o dedo do meio, seguindo o resto do grupo.

Ulfgar levou os aventureiros até uma plataforma circular do tamanho de uma carroça. Parecia feita de ouro maciço e brilhava com uma aura mágica tênue.

"Aqui ficava meu gerador esférico de energia primordial. Preciso dele de volta ou vou congelar, ou então as coisas presas da minha coleção vão soltar-se e vou ter que dar cabo delas." Disse o mago

"Viemos aqui atrás de uma jóia, Ulfgar. Uma que o senhor tomou depois de matar um dragão das sombras."Disse Arannis

"É sério que vieram até este fim de mundoa trás de duas pedrinhas sem poderes mágicos?"Disse Ulfgar começando a sorrir. Logo o sorriso ficou escancarado e segundos depois o anão gargalhava sem parar.

"Não diria isso..."Começou Arannis

"Duas?!" Disseram Keyra e Soveliss olhando um para o outro assombrados

"Sim duas. Esperem. estão por aqui em algum lugar."Respondeu o anão enquanto procurava numa estante de pedra atrás da plataforma dourada.

Logo o mago colocou sobre uma pequena mesa um crânio estranho. Não era de nenhuma criatura conhecida pelos aventureiros. No lugar dos olhos, o crânio possuía duas pedras do tamanho do punho de uma criança. Eram duas esmeraldas perfeitas.

"Duas..."Disse Soveliss sorrindo

"Eu lhes dou as malditas pedras. Elas não têm valor para mim. Mas somente se trouxerem meu gerador esférico de energia primordial. Até lhes dou algum objeto de minhça coleção."Disse Ulfgar.

"Onde encontraremos seu gerador?"Perguntou Hans

"Nas montanhas. Os malditos gigantes do gelo o levaram. devem achar que é um brinquedo."Disse o mago




No dia seguinte, após dormirem perto da lareira da torre, os heróis caminhavam pela geleira, em busca do artefato.

Não foi difícil achar o covil dos gigantes do gelo. Adrie, transformada em lobo, seguiu o rastro de um deles até uma enorme caverna num desfiladeiro.
A Ordem da Liberdade tentou dialogar com os dois enormes seres que guardavam a entrada mas foi em vão. Logo estavam combatendo os gigantes. A luta parecia ser difícil mas logo havia um gigante morto e outro rendendo-se diante dos heróis.

"De joelhos, monstro!"Gritou Hans na língua dos gigantes e dos orcs

O enorme guerreiro branco obedeceu, abismado com a habilidade em combate dos aventureiros.

"Viemos buscar o gera...gerador...de primordialidade...de...como é mesmo?"Perguntou Hans confuso, olhando para Soveliss

"O gerador esférico de energia primordial."Disse orgulhoso o eladrin

"Deve ser esta coisa brilhante que achei."Disse Keyra sorrindo ao lado de uma enorme esfera feita de ouro que pairava alguns centímetros acima do chão

Soveliss aproximou-se da esfera e disse as palavras que Ulfgar lhe ensinara antes de deixarem sua torre. Instantaneamente, a esfera brilhou e emanou um pouco de calor. Em seguida, passou a seguir o mago toda vez que este caminhava.

"Pronto! Temos mais duas jóias!" Exclamou Adrie




Soveliss andou por cima do pedestal de ouro e a esfera o seguiu. Ulfgar sorria satisfeito e bebia de um barril de cerveja anã que os aventureiros haviam levado até ele.

"Perfeito!"Disse o anão quando a esfera parou sobre a plataforma. Ulfgar então tocou a esfera e disse outras palavras mágicas. Segundos depois, a energia da esfera espalhou-se por sigilos gravados nas paredes da torre e lâmpadas mágicas se acenderam. As vitrines e aquários também e logo era possível vislumbrar a 'coleção' do mago.

O clima dentro da torre também mudou graças ao calor emanado pelo gerador mágico. As criaturas dentro dos aquários se agitaram e armas mágicas e objetos passaram a flutuar dentro de suas vitrines.

"Então, duas pedrinhas e um item da minha coleção? Fizeram um excelente trabalho."Disse Ulfgar

"Obrigado. Tivemos...sorte."Disse Arannis tocando o símbolo de Avandra em seu peito

O paladino olhou para seus amigos e sorriu enquanto mostrava as duas esmeraldas antes de guardá-las em sua bolsa mágica.

"Temos uma longa jornada pela frente amigos. Mas a deusa da sorte está conosco."Disse o eladrin

A Ordem da Liberdade despediu-se de Cara Queimada e retornou à aldeia dos hakosh. Conforme haviam combinado, o Aurora estava lá, pronto para levá-los de volta para o sul.

"Skan? Não meus amigos. Não volto para Skan agora. preciso seguir a costa até Ilíria. Tenho negócios lá." Disse Halmar quando os aventureiros embarcaram

Keyra sorriu e abraçou seu amigo Hans enquanto olhava para o sul.

"Ilíria..."Disse a meio-elfa e a brisa do mar tocou seu rosto enquanto o Aurora cortava as ontas rumo à sua cidade natal.