sábado, 25 de dezembro de 2010

ANIVERSÁRIO

Este post é totalmente fora do padrão do blog, uma vez que este é voltado exclusivamente para material sobre a campanha A Espada Rubra.

Bem, acontece que a primeira postagem data de 20/12/2009. Ou seja, dia 20/12/2010, completamos 1 ano de campanha. Tudo começou de forma simples, com uma aventura tímida de dungeon tradicional. Eram apenas cinco jogadores e personagens de primeiro nível.
A campanha cresceu, jogadores saíram, jogadores entraram e personagens que eram apenas um conjunto de números evoluiram, tornando-se cada vez mais vivos.

Tenho orgulho em dizer que esta é uma das melhores campanhas que tive a oportunidade de mestrar. Quando criei os personagens, pensei que iriamos chegar à quarta ou quinta sessão e pronto. Já estamos no segundo ano da campanha e meus jogadores pedem mais e mais.
Os personagens estão em nível 10 e tornando-se grandes heróis. Mas o que faz da Espada Rubra uma grande campanha de D&D são os jogadores e sua vontade não só de ajudar a criar uma história rica em detalhes como também fazer com que seus personagens se tornam memoráveis.

Keyra transformou-se muito do rascunho original, que era um ladino galanteador. Camila, a jogadora, tornou a ladina num personagem cheio de traumas, vontade de superação e estilo.

Arannis, que havia sido pensado originalmente como uma mulher, tornou-se um líder, um bastião de coragem que não deixará seus companheiros sozinhos nunca. Elogios ao Wagner, jogador que tornou o paladino de avandra o que é hoje.

Adrie, que inicialmente era um personagem baseado em Naitiri do filme Avatar, tornou-se uma druida diferente, com conflitos e momentos hilários. Tudo graças à Marcela, a jogadora, que modificou o personagem e acabou encaixando-se no grupo perfeitamente, depois que a campanha havia se iniciado.

Soveliss...originalmente pensado como um mago calmo, sábio e controlado, tornou-se um íncone do "glam magic". Um personagem único que nos diverte com sua androgenía e seus momentos de sabedoria recheados de glitter e magias devastadoras. Paulo, o jogador, tem todo o crédito. Transformou muito o personagem e ele mesmo fica assombrado com o que fez.

Não vou deixar de mencionar Medrash, que teve uma grande participação na história da campanha, cujo jogador teve que sair por conta da falta de tempo. Valeu pela contribuição Arthur!

Também devo agradecer ao Emanuel "Lobo" que criou Ecniv, um pequeno grande personagem que ainda nos proporcionará grandes surpresas. Hans, o outro personagem do "Lobo" teve uma boa contribuição também.

Gostaria de agradecer também ao Pablo, jogador do Murmur, cuja participação foi excelente! Pena que o tempo é corrido também para este grande amigo que deixa a campanha agora.

Enfim, a história foi criada por mim, inicialmente, mas tomou grandes proporções graças ao excelente grupo de jogadores! Obrigado a todos e que venha mais um ano de Espada Rubra!

ABRAÇOS A TODOS!

Gene, o mestre orgulhoso.

O Mistério de Galan

Era de manhã quando o Aurora atracou no pequeno cais da aldeia pesqueira de Galan, ao norte de Ilíria. Apesar de ser um dia de verão, havia grandes nuvens escuras sobre o vilarejo e a floresta além dele. Uma tênue mas persistente névoa matinal parecia encobrir o vilarejo a beira mar. Halmar guiou a embarcação com facilidade enquanto a Ordem da Liberdade se mantinha atenta no convés. O navio mercante atracou e dois marinheiros saltaram rapidamente com grandes cordas, amarrando o Aurora firmemente.

"Vilarejo estranho. As pessoas não parecem amistosas." Disse Adrie baixinho

"O que foi?"Perguntou Soveliss

"Nada...apenas...pensei alto."Respondeu a elfa

O grupo desembarcou logo depois do capitão do navio. Os marinheiros desceram alguns fardos de grãos, peles de lontra, peixe seco e ossos de baleia, comprados nas longíncuas ilhas do norte.

"Halmar, esta é a última parada antes de Ilíria?"Perguntou Arannis enquanto ajeitava o cinto da espada

"Sim. Não devemos demorar muito aqui. Depois vamos contornar a península e continuar descendo pela costa até Ilíria. Acho que serão mais alguns dias. Uns três a quatro se o vento ajudar." Respondeu o capitão

"Certo. Nós vamos esticar as pernas um pouco, se não se importa."Disse o paladino de Avandra

"Fiquem à vontade. Devo falar com algumas pessoas e fazer alguns negócios. Talvez durmamos aqui esta noite."Disse Halmar

Os aventureiros estavam no cais quando viram que a maioria dos aldeões não se aproximavam do barco recém chegado. Havia nas pessoas um olhar de desconfiança misturado com um tom de tristeza.

"Keyra, acho melhor irmos juntos até uma hospedaria e...Keyra?"Perguntou Arannis quando viu que a ladina havia desaparecido, como costumava fazer.






"Hola! Eu quero uma cerveja e algo para comer. O que tem de bom?" Perguntou Keyra à moça atrás do balcão

"Temos...peixe seco e pão moça."Respondeu a mulher

"Ótimo. Quero isso. As coisas são sempre paradas assim por aqui? Aliás, onde é aqui? Como se chama este lugar?" Disse a ladina enquanto bebia cerveja quente

"Galan moça. Esta aldeia se chama Galan."Respondeu a taberneira sem ânimo

Keyra estava sozinha no balcão da pequena taberna de Galan. Era um pequeno salão de madeira com uma lareira de pedra. Apenas duas mesas com seis pequenos bancos e uma cozinha quente e cheia de fumaça. A taberneira, uma humana de seus trinta anos, era magra e tinha um olhar perdido. No fundo da taberna, numa das mesas, três pescadores conversavam e de tempos em tempos olhavam na direção da meio-elfa.

"Então. Tem quartos aqui? Eu e meus amigos estamos pensando em passar a noite aqui e depois seguir viagem." Disse Keyra enquanto espiava sutilmente os homens à mesa.

"Não moça. Vocês...não devem...nãot em lugar aqui para vocês."Disse a mulher demonstrando um nervosismo até então oculto.

"Como assim?" Perguntou Keyra

A mulher aproximou-se da ladina e falou baixo. "Moça. Vão embora. Não devem ficar aqui ao anoitecer." A taberneira percebeu que os três homens observavam e sussurrou ao ouvido de Keyra. "Vão embora antes do anoitecer. Vão e ficarão bem."

Os homens levantaram-se e sairam da taberna. Keyra ficou intrigada e quando se preparava para seguí-los, viu que Arannis e os demais estavam chegando.

O paladino viu os três e percebeu que Keyra apontava discretamente para estes. Então, sem perder tempo, segurou um dos homens pelo braço. Em seguida, olhou para Keyra e fez sinal para que esta os seguisse. A ladina piscou e saiu da taberna.

"Amigo, somos a Ordem da Liberdade. Percebo que estão com algum problema. Podemos ajudar?" Perguntou o paladino

O homem ficou com medo e olhou para seus companheiros. Estes deixaram a taberna.

"Senhor, por favor, eu não...não...está tudo bem. Sério."Disse o pescador quase que implorando

"Tem certeza homem?" Perguntou Arannis olhando nos olhos do aldeão

"Er...sim eu..." O homem sentiu-se compelido a falar quando notou que Arannis não o soltaria enquanto não contasse o que estava acontecendo na aldeia. "Senhor. Aqui não. Eu os encontro no cais em duas horas."

"Certo. estaremos lá." Disse o paladino soltando-o

O homem acenou e saiu correndo pela porta.





Keyra chegou à rua e viu que os homens estavam deixando o vilarejo em direção à floresta. A ladina tirou da bolsa mágica a esfera de disfarce, sussurrou as palavras mágicas e em seguida transformou-se num camponês qualquer. Puxou o capuz, cobrindo o rosto e seguiu os homens discretamente, quase desaparecendo nas ruas da pequena aldeia.

Dez minutos depois, os dois homens entravam no pequeno e fantasmagórico bosque de Galan. A névoa continuava e cobria os pés e joelhos dos homens que se embrenhavam pela mata. Atrás deles, um camponês os seguia.
Keyra perdeu a noção do tempo que se passou. Talvez uma hora de caminhada. Os dois homens pararam ao lado de um altar de pedras que parecia bem antigo. Keyra escondeu-se atrás de um tronco caído.
Havia uma pequena estátua de um demônio obeso com pequenas asas de morcego e uma horrenda boca cheia de dentes pontiagudos. Keyra teve um sobressalto mas ficou tranquila ao ver que era apenas uma estátua coberta de limo.

Os homens ajoelharam-se diante do altar e começaram a recitar algo numa língua estranha. Minutos depois, uma imagem surgiu acima do altar. Era uma esfera de névoas azuladas. Dentro da esfera, o rosto de uma mulher tiefling surgiu.

"Senhora...nós...há estranhos na aldeia." Disse o mais velho dos dois

"Estranhos? Que tipo de estranhos? Mercadores?"Perguntou a mulher

"Também senhora. Mas há um grupo de aventureiros. Estão fazendo perguntas..."Respondeu o homem

"Hum...aventureiros. Continuem o trabalho como ordenei e deixem que os aventureiros venham até mim. Eu cuidarei muito bem deles." Disse a tiefling rindo

"Sim senhora...como desejar." Disseram os dois homens ao mesmo tempo

"Agora vão..."Disse a mulher desaparecendo

Keyra esperou por algum tempo e então voltou para Galan, quando os homens já estavam longe.
Ao chegar, encontrou a Ordem da Liberdade.

"Encontrei algo." Disse ela, esquecendo-se de que ainda parecia um camponês

"Pois não?" Disse Soveliss educadamente

"Eu disse que encontrei algo e...ah...certo." Disse Keyra voltando à sua forma normal "Gente, segui aqueles dois até o bosque. Tem um altar...e é um lugar sinistro. Tem manchas de sangue. Também vi uma mulher. Uma tiefling. Parece que é ela quem manda aqui."

"Vamos até lá. Eu estou ficando cansado de não ter respostas. Este lugar precisa claramente de ajuda e ninguém quer cooperar." Disse Arannis

Keyra guiou seus amigos até a floresta. Estavam quase entrando quando Adrie parou, tocou o solo e algumas plantas mortas.

"Isto...esta neblina...não é natural. As nuvens de chuva também não o são. Tem algo muito errado com esta floresta." Disse a elfa

"Mais uma razão para entrarmos." Disse Arannis. "Murmur, proteja a retaguarda. Eu e Adrie vamos à frente com Keyra guiando. Soveliss, você e Hans fiquem no centro da formação. Kubik, fique atrás de Hans." Disse o líder do grupo sacando sua espada.

A Ordem da Liberdade seguiu pela floresta. Caminharam por muito tempo e para Keyra parecia tudo diferente. Já haviam passado mais de duas horas e nada de encontrarem a pequena estátua de demônio que Keyra havia marcado como sinal de proximidade ao altar.

"Estranho. Quando vim, levei apenas trinta minutos."Disse a ladina

O grupo chegou ao altar. Adrie e Soveliss o examinaram e encontraram apenas manchas de sangue e pequenos ossos de animais espalhados pela clareira.

"Eu posso tentar fazer algo." Disse Murmur

"Tudo bem. Fiquem perto."Disse Arannis

Murmur colocou as mãos sobre o altar e fechou os olhos. O goliath ficou assim, em silêncio, por alguns minutos.

"O que ele está fazendo afinal?" Perguntou Hans impaciente

"Não faço idéia. Isso não é magia." Respondeu Soveliss intrigado

Murmur então abriu os olhos. Estes brilhavam intensamente. O goliath virou-se na direção de seus amigos e tentou falar mas sua voz não saiu. Em vez disso, imagens formaram-se na mente dos aventureiros.

Na primeira cena, um tiefling com vestes élficas caminhava pelo local do altar. Era um homem alto de pele vermelha e chifres longos. Levava um arco que chamou a atenção dos herois. Era feito de prata extremamente polida. Uma menina, também tiefling, caminhava ao lado do homem. Este, pegou a criança e colocou-a sobre o altar. Sorriu e parecia contar uma história. A pequena tiefling sorriu de volta e, quando o homem se virou, seu sorriso transformou-se numa careta diabólica.

Murmur concentrou-se ainda mais e uma segunda cena surgiu. Destsa vez, a tiefling estava mais velha. Trazia com ela um bebê. Havia um grupo de homens amedrontados ao seu lado. A mulher usava vestes velhas e sujas e em seu cinto levava pequenos crânios de animais e crianças pequenas. Uma longa adaga estava em suas mãos e então, apoiando o bebê sobre o altar, entoou um cântico estranho. egundos depois, cravou a faca no peito da criança que chorava.
Essa ultima imagem foi forte demais e murmur gritou ao cair no chão segurando as têmporas. Os demais sentiram uma dor horrivel mas aguentaram.

"Necromancia" Disse Soveliss. "Ela pratica necromancia."

"Vamos encontrá-la." Disse Arannis. "Vamos acabar com a crueldade dessa mulher e sair daqui."Completou o paladino.

Adrie estava transformada em lobo e pareceu captar algum cheiro fora do comum. A druida uivou e correu pela floresta, seguida pelos demais.
Estranhamente, eles andaram por muito tempo e voltaram à mesma clareira.

"Magia. Mas duvido que seja coisa de necromante."Disse Soveliss fascinado com a estranha e antga floresta.

Adrie continuou farejando e os heróis a seguiram. Desta vez passaram-se poucos minutos. Ruinas surgiram diante dos aventureiros. Parecia a construção abandonada de um templo. Numa das paredes estava gravado o símbolo de uma meia lua, que Arannis reconheceu tratar-se do símbolo de Sehanine.
Os heróis estavam verificando as runas quando dois esqueletos portando arcos começaram a disparar, de dentro das ruínas.

"Desgraçados!" Gritou Hans arremessando sua lança que cravou-se no chão, prendendo um dos esqueletos pelas costelas.

O guerreiro partiu para cima dos monstros, seguido por Murmur e Arannis. Soveliss, Adrie e Keyra atacaram o outro.

O esqueleto preso ao chão conseguia desferir golpes de espada mas não era capaz de soltar-se. Alguns golpes atingiram Murmur e a criatura parecia ser imune ou resistente aos golpes dos três guerreiros. Por fim, Murmur ficou irritado, asoltou sua lança e agarrou o esqueleto pelas costas.
Acriatura urrava tentando soltar-se quando Arannis invocou o poder de Avandra e sua mão brilhou com energia radiante. O toque no peito do monstro seria suficiente para causar algum dano mas Arannis gritou: "Em nome de Avandra, eu te dou o descanso eterno! Volta para a tumba criatura!" O monstro brilhou intensamente e explodiu em pedaços de osso incandencente.

"Onde está o outro?" Perguntou Hans

"Caiu pela escada. Vamos atrás dele!" Respondeu Keyra

Os aventureiros desceram por um alçapão aberto e encontraram um corredor de pedras no subsolo. Havia uma estátua com as mãos extendidas e inscrições aos seus pés. O lugar era iluminado por uma luz azulada que vinha do final do corredor. A luz vinha de uma barreira mágica quase translúcida que impedia a passagem.

"Já vimos isso antes. Soveliss?" Disse Arannis apontando com a espada

"É pra já! Você sabe que eu sou o melhor naquilo que faço!" Disse Soveliss jogando o cabelo para trás enquanto se aproximava da parede de energia.

O eladrin concentrou-se e recitou palavras mágicas que rasgaram a barreira. O mago abriou os braços e a energia dividiu-se como uma cortina. Do outro lado, um grande grupo de mortos-vivos aguardava numa sala grande cheia de altares e estátuas. Um dos esqueletos disparou uma flecha na direção de Soveliss que fechou os olhos esperando o impacto. Porém, o som da flecha batendo no metal do escudo de seu irmão foi suficiente para restaurar a confiança do mago.

"Peguem eles!" Gritou Arannis avançando, sala adentro

A tiefling, que estava na sala atrás de um altar de pedra sorriu e gritou uma ordem aos seus esqueletos. Estes atacaram ferozmente.

A Ordem da Liberdade já havia enfrentado esqueletos antes. Todos sabiam bem como proceder. Murmur teve a excelente idéia de posicionar-se perto da necromante, atingindo vários esqueletos que a protegiam. Hans lutava contra vários inimigos de uma vez, mantendo Soveliss protegido. Keyra, como sempre, dançava a mortal dança das lâminas, saltando, cortando ossos e esquivando-se de golpes fatais. Adrie mordia em sua forma de lobo e lançava magias que tanto atrapalhavam os esqueletos como causavam dano. Soveliss sorria enquanto suas magias atingiam a tiefling, deixando-a sem oportunidade de atacar com seus próprios feitiços.

Arannis avançou afim de atingir a origem do problema, a tiefling. Não teve tantas dificuldades assim. Logo a mulher estava no chão, ensanguentada. Os esqueletos cairam.

"Quem é você e por que fez o que fez com a vila?" Perguntou Arannis com a espada na garganta da tiefling

"Meu nome...é Nimir...e eu cuspo em sua carcaça, paladino." Disse a mulher, morrendo em seguida

Os aventureiros recuperaram-se de alguns ferimentos e empilharam os ossos num canto da sala. Soveliss estava examinando a parede atrás de Nimir, onde uma estátua parecia sair da pedra.

"Acho que tem algo aqui." disse o mago

Keyra sorriu. Era seu momento. Ela adorava abrir portas e destrancar fechaduras intrincadas. Usando sua habilidade e ferramentas, a meio-elfa conseguiu destravar um mecanismo que fez com que a estátua se movesse, abrindo uma porta secreta. Uma luz branca emanava do lugar.

Os aventureiros avançaram até uma pequena sala onde um poço brilhava com energia mística. Acima dele, flutuando em pleno ar, estava um arco da mais fina prata. Soveliss sorriu e então Adrie esticou a mão e pegou a arma.
A elfa empunhou o arco que parecia não ter corda. Então, ao fazer o movimento de quem ia disparar, percebeu que um fino fio de prata servia de corda. Adrie puxou o fio e uma flecha prateada surgiu no arco.

"O arco de Sehanine...um arco lunar" Disse Arannis lembrando-se de histórias que ouvira no templo de Avandra a respeito desse tipo de armas.

"Posso...ficar com ele?" Disse Adrie sorrindo

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A Jóia do Anão - Parte III

Adrie estava no "ninho do corvo", observando o mar quando o kraken surgiu. Sem pensar duas vezes, saltou em direção a um dos tentáculos maiores e transformou-se em pantera. Tentou cravar as garras no alvo mas não conseguiu prender-se à pele escorregadia do monstro. A druida caiu, desaparendo debaixo d´água.

Keyra viu isso acontecer e saltou, com a espada na cintura e a adaga entre os dentes. A ladina mergulhou esperando encontrar um ponto fraco no enorme kraken submerso. Debaixo d´água, Keyra viu o tamanho da fera e seu sangue gelou por alguns segundos. Então, determinada a enfiar sua rapieira no corpo mole da criatrura, Keyra nadou. Porém, um tentáculo agarrou sua cintura e apertou seu corpo terrivelmente, fazendo com que a meio-elfa perdesse o fôlego.

Acima, no convés do Aurora, a cena era de caos. Marinheiros eram mortos pelos braços gelatinosos do monstro, Murmur, Hans e Arannis golpeavam a criatura e Soveliss tentava usar sua magia para ajudar. Halmar e seus homens tentavam fugir dos enormes tentáculos pois não eram guerreiros.

Murmur percebeu que dois dos tentáculos agarravam o Aurora e o som de madeira rachando foi claro para o goliath. Um dos mastros caiu, matando dois marinheiros e Murmur não teve dúvidas e atacou com sua lança mágica, ferindo gravemente um dos braços do monstro, que caiu, desaparecendo no mar. O Segundo tentáculo foi atingido da mesma forma e o Aurora estava solto. Porém, a batalha ainda não terminara.

Keyra conseguiu soltar-se com a ajuda de Adrie mas foi pega novamente pelo kraken. Então, cravou a adaga mágica no tentáculo e conseguiu soltar-se e subir rumo a superfície, seguida por Adrie. A batalha ainda durou alguns minutos mas as forças da Ordem da Liberdade acabaram por ferir ainda mais a criatura colossal que soltou de uma vez por todas o navio e mergulhou rumo à escuridão do mar. A embarcação estava avariada mas estavam todos salvos, apesar de alguns marinheiros que nunca mais foram vistos.

Depois do ataque, o navio seguiu para o norte. No caminho, Adrie fez um ritual e foi visitada por uma ninfa acuática que ficou intrigada com as perguntas da elfa a respeito de outros perigos naquelas águas. Dias depois, o Aurora avistou terra.

A praia era estreita e o cais pequeno perto do vilarejo de pescadores era capaz de comportar somente um barco do tamanho do Aurora. A aldeia era minúscula e ficava num lugar desolado perto de uma imensidão gelada. Ao longe, as montanhas eram apenas uma sombra azulada no horizonte. Um pequeno bosque coberto de neve ficava a algumas centenas de metros atrás do vilarejo.
Crianças vestindo casacos de peles corriam pela praia, na direção do cais. Alguns adultos as acompanhavam mais devagar. Todos tinham pele escura, cor de barro, olhos estreitos e escuros e cabelos igualmente escuros e lisos. Muitos dos nativos tinham o rosto tatuado e carregavam lanças de pesca. Alguns cães latiam na direção dos forasteiros.

Ao atracar, Halmar saltou da amurada e quase caiu. Recobrou o equilíbrio e foi recebido por um homem alto e corpulento vestindo peles. Seu cabelo estava trançado e era negro. Tinha tatuagens azuladas no rosto marcado por cicatrizes e sorria quando abraçou Halmar e o beijou no rosto. Os dois homens falavam numa língua estranha para os membros da Ordem da Liberdade.
Por isso, Murmur realizou um ritual rápido antes de desembarcar e logo falava a língua dos hakosh, o povo do gelo, com bastante desenvoltura.

O líder da aleida, que negociava com Halmar, era Kashish. Era um homem enorme e ficou muito animado ao ver que um dos aventureiros falava sua língua. Kashish indicou uma das grandes cabanas da aldeia, dizendo que seria morada dos tripulantes do Aurora e dos aventureiros pelo tempo que ficassem na aldeia.
Os homens de Halmar desembarcaram caixotes de mercadorias e sacos de grãos enquanto os aldeões traziam peixe salgado e peles de animais. Quando todos haviam deixado o convés do Aurora, Arannis notou que Halmar deixara dois guardas de prontidão.

"Não confia em seu amigo, Halmar?" Perguntou o paladino

"Nunca é bom confiar totalmente em alguém meu rapaz. Sempre podem acontecer problemas durante negociações."Respondeu o capitão sorrindo

À noite, Kashish recebeu os estrangeiros em sua cabana. Era uma casa maior que todas as demais, feita com ossos de grandes animais e madeira, coberta por camadas e camadas de peles de urso. No centro da cabana, que era circular, havia um buraco no teto, logo acima da grande fogueira que ardia desde cedo. Ao redor dela, o povo de Kashish, os hakosh, comiam, dançavam e bebiam hagash, uma bebida feita com leite fermentado.

A Ordem da Liberdade foi bem recebida pelo chefe da tribo que prontamente apresentou suas três esposas e seus muitos filhos. Dentro da cabana fazia calor e o próprio Kashish estava com o torso nu, mostrando inpumeras tatuagens azuis e cicatrizes.

"Suas mulheres me agradam. Estão à venda? Posso dar muitas peles de lontra e cães, muitos cães, por elas."Perguntou o chefe dos hakosh a Murmur, enquanto olhava fixamente para Keyra e Adrie.

"Não são minhas grande chefe. São amigas. Livres" Respondeu o Goliath que era apenas um pouco mais alto que o humano

"Ah, que pena. Gostei muito. Hagash!" Gritou Kashish e logo uma mulher trazia canecas de barro contendo a bebida forte de seu povo "Beba Murmur! Hagash!"

Murmur sorriu e bebeu com cuidado. Hans fez o mesmo e gritou "Hagash!"

"Kashish, nós estamos à procura de um homem. Um mago. Um anão chamado Ulfgar."Disse Arannis, sendo traduzido por Murmur

"Anão...mago? Ah! Seu amigo de orelhas pontudas fala de Cara Queimada." Respondeu Kashish

"Cara Queimada?"Perguntou Murmur

"Sim. Um mago anão que vive ao norte, no Vale da Morte Certa. Os hakosh não vão até lá."Disse Kashish

"Com esse nome, não me admira muito..."Comentou Soveliss ao ouvir a tradução

"Cara Queimada nunca vem aqui. Ele manda uma coisa de metal que parece um gigante. Assim ele troca coisas com meu povo. Mas tem um bom tempo que o monstro de ferro não aparece." Continuou o chefe da tribo

"Como chegamos até o lar de Cara Queimada. Kashish?"Perguntou Arannis

"Kasdosh pode levar vocês. O pai dele tem muitos cães e o garoto conhece bem a região. Mas ele nunca os levará até o Vale. Somente perto dele." Respondeu o homem

Durante o festim foram servidas carnes de baleia e morsa e a Ordem da Liberdade foi muito bem tratada, assim como os tripulantes do Aurora. No dia seguinte, os aventureiros estavam à porta da casa de Kasdosh, seguindo a orientação do chefe dos hakosh.

Kasdosh era um garoto de seus quinze anos. Era alto e forte mas não tinha tatuagens ou cicatrizes. Estava na porta de casa, afiando uma lança de madeira quando Murmur e os demais chegaram. Perto dele estava Bor, seu irmão mais velho. Este sim parecia um caçador experiente e, como todos na aldeia, recusava-se a falar na língua comum, apesar de entendê-la.

"Não reparem. Meu irmão segue bem os costumes."Disse Kasdosh na língua comum

"Obrigado Kasdosh. Fomos informados de que poderia nos levar até o homem que chamam de Cara Queimada." Disse Arannis

"Bon, senhor, meu pai alugaria os cães e os trenós. Teriam que negociar com ele. Eu sou apenas um guía."Respondeu o garoto

Klana, o pai de Kasdosh, era um homem também alto e de cabelos brancos. Era muito velho mas havia visto muitos combates, a julgar pelas cicatrizes em seu rosto. Depois de muito conversar com os aventureiros, Klana aceitou emprestar seus dois trenós e os cães e em algumas horas o grupo deslizava pelo gelo interminável.
Kasdosh e Bon guiavam os dois trenós e os heróis se apinhavam neles, sentindo o vento cortante do norte ao som dos latidos dos cães que os puxavam.

Muitos dias se passaram e o terreno gelado era sempre o mesmo. Em raros momentos, Adrie viu rapoçsas brancas que rapidamente desapareciam. Em uma ocasião, o grupo viu um enorme urso branco que cavava no gelo e em seguida retirava uma foca morta. Os dias passavam lentos e o terreno monótono parecia não acabar.
No décimo dia, as montanhas ficaram mais próximas e o terreno plano foi fi;cando cada vez mais elevado. Logo estavam numa região de pequenas colinas de neve e, no topo de uma delas, Kasdosh parou o trenó e apontou para o norte onde uma cadeia de montanhas se pronunciava. Entre as granfdes formações rochosas, uma torre chamou a atenção do grupo. Era o lar de Ulfgar.

"Eu e meu irmão não vamos além destas colinas, senhor."Disse Kasdosh olhando para Arannis "Mas esperaremos vocês aqui. São só algumas horas de caminhada até a torre e não há gelo fino aqui." Completou


Então, a Ordem da Liberdade seguiu a pé, descendo a colina.

Horas depois, os aventureiros encontraram o 'monstro de ferro'. era um golem. Carregava uma enorme mochila de couro com provisões que jazia ao seu lado. O construto estava de pé mas a jóia em seu peito brilhava fraca e a criatura estava inerte.

"A magia nele está bem fraca. Parece ter perdido a energia."Disse Soveliss analizando o golem

"Então vamos levar essa coisa até seu dono."Disse Hans derrubando o golem com um empurrão

O golem caiu ruidosamente sobre a neve mas permaneceu imóvel.

"Vamos, está começando a nevar."Disse Adrie

Murmur e Hans puxaram a criatura pelas pernas de metal. O grupo andou devagar até chegar à torre. Havia um pequeno muro de pedra ao redor do lugar. Era uma torre larga e alta e, perto da porta de metal havia outro golem, este de tamanho humano. O construto também estava desativado.

Arannis e Keyra bateram à porta e por quase quinze minutos nada se ouviu. Então, com um ranger de metal, a pesada porta se abriu. Estava escuro no interior da torre e apenas a lâmpada mágica nas mãos de Ulfgar aparecia.
O anão era calvo e tinha uma barba escura. Metade do seu rosto era marcado por cicatrizes de queimaduras e seu olho esquerdo era totalmente branco. Vestia mantos de peles e pareceu muito surpreso ao ver os aventureiros.

"Quem são e o que querem aqui?"Perguntou o anão rispidamente

"Somos a Ordem da Liberdade. Viemos de muito longe, de Skan, para falar com o senhor."Disse Arannis

"Só me faltava essa. Aventureiros nestes confins, querendo conselho e bla bla bla..."Disse Ulfgar resmungando

"Nós precisamos de ajuda com algo mas, pelo que vejo, parece que o senhor mesmo é quem precisa de ajuda."Disse o paladino de Avandra

"Diabos! Você está certo. Vamos, entrem. Não tenho muita escolha nestes dias."Disse o mago

Os heróis entraram na torre às escuras. Mais golens menores jaziam no saguão e o lugar estava gelado, apesar da lareira apinhada de móveis e livros que ardiam para manter um pouco de calor.

"Aqueles malditos...levaram meu gerador esférico de energia primordial. Malditos, desgraçados, filhos de uma bosta de mamute."Resmungou Ulfgar

"Gerador esférico de que?" Perguntou Soveliss intrigado

"O gerador esférico de energia primordial. Vai me dizer que nunca ouviu falar de um? Ah sim, comom poderia se fui eu quem o inventou." Disse o anão com um tom de orgulho "Vamos aos negócios. Vocês querem algo e eu quero algo. Quem quer algo tem que dar algo em troca. É assim que as coisas funcionam." Completou

"Venham, sigam-me"Disse o anão descendo por uma escada larga

Os aventureiros seguiram Ulfgar e depois de uma série de degraus chegaram a um corredor muito largo, de teto alto e paredes escuras. O grupo avançou pelo corredor, entre vitrines e aquários estranhos onde objetos pareciam estar presos. Havia criaturas bizarras nos aquários e Keyra reconheceu algumas. Uma medusa, um minotauro, serpentes enormes, todos empalhados.
Um dos quários parecia vazio e a ladina aproximou-se curiosa. Algo se moveu e bateu contra o vidro e Keyra afastou-se por puro reflexo. Era uma criatura alta, magra, de pele escura e garras longas. Tinha o bico parecido com o de um abutre.

"Um vrok."Disse Soveliss fascinado

"Um o que?!"Perguntou Keyra ainda olhando para a criatura que se mexia do outro lado do vidro

"Um vrok, um tipo de demônio!"explicou Soveliss

"Como isso está vivo e preso é que me intriga."Disse Arannis enquanto passava pelos dois

"Parem de tagarelar e venham!"Disse Ulfgar alguns passos adiante

O monstro pareceu sorrir para Keyra e esfregou as garras no vidro. A meio-elfa sorriu de volta e fez um gesto com o dedo do meio, seguindo o resto do grupo.

Ulfgar levou os aventureiros até uma plataforma circular do tamanho de uma carroça. Parecia feita de ouro maciço e brilhava com uma aura mágica tênue.

"Aqui ficava meu gerador esférico de energia primordial. Preciso dele de volta ou vou congelar, ou então as coisas presas da minha coleção vão soltar-se e vou ter que dar cabo delas." Disse o mago

"Viemos aqui atrás de uma jóia, Ulfgar. Uma que o senhor tomou depois de matar um dragão das sombras."Disse Arannis

"É sério que vieram até este fim de mundoa trás de duas pedrinhas sem poderes mágicos?"Disse Ulfgar começando a sorrir. Logo o sorriso ficou escancarado e segundos depois o anão gargalhava sem parar.

"Não diria isso..."Começou Arannis

"Duas?!" Disseram Keyra e Soveliss olhando um para o outro assombrados

"Sim duas. Esperem. estão por aqui em algum lugar."Respondeu o anão enquanto procurava numa estante de pedra atrás da plataforma dourada.

Logo o mago colocou sobre uma pequena mesa um crânio estranho. Não era de nenhuma criatura conhecida pelos aventureiros. No lugar dos olhos, o crânio possuía duas pedras do tamanho do punho de uma criança. Eram duas esmeraldas perfeitas.

"Duas..."Disse Soveliss sorrindo

"Eu lhes dou as malditas pedras. Elas não têm valor para mim. Mas somente se trouxerem meu gerador esférico de energia primordial. Até lhes dou algum objeto de minhça coleção."Disse Ulfgar.

"Onde encontraremos seu gerador?"Perguntou Hans

"Nas montanhas. Os malditos gigantes do gelo o levaram. devem achar que é um brinquedo."Disse o mago




No dia seguinte, após dormirem perto da lareira da torre, os heróis caminhavam pela geleira, em busca do artefato.

Não foi difícil achar o covil dos gigantes do gelo. Adrie, transformada em lobo, seguiu o rastro de um deles até uma enorme caverna num desfiladeiro.
A Ordem da Liberdade tentou dialogar com os dois enormes seres que guardavam a entrada mas foi em vão. Logo estavam combatendo os gigantes. A luta parecia ser difícil mas logo havia um gigante morto e outro rendendo-se diante dos heróis.

"De joelhos, monstro!"Gritou Hans na língua dos gigantes e dos orcs

O enorme guerreiro branco obedeceu, abismado com a habilidade em combate dos aventureiros.

"Viemos buscar o gera...gerador...de primordialidade...de...como é mesmo?"Perguntou Hans confuso, olhando para Soveliss

"O gerador esférico de energia primordial."Disse orgulhoso o eladrin

"Deve ser esta coisa brilhante que achei."Disse Keyra sorrindo ao lado de uma enorme esfera feita de ouro que pairava alguns centímetros acima do chão

Soveliss aproximou-se da esfera e disse as palavras que Ulfgar lhe ensinara antes de deixarem sua torre. Instantaneamente, a esfera brilhou e emanou um pouco de calor. Em seguida, passou a seguir o mago toda vez que este caminhava.

"Pronto! Temos mais duas jóias!" Exclamou Adrie




Soveliss andou por cima do pedestal de ouro e a esfera o seguiu. Ulfgar sorria satisfeito e bebia de um barril de cerveja anã que os aventureiros haviam levado até ele.

"Perfeito!"Disse o anão quando a esfera parou sobre a plataforma. Ulfgar então tocou a esfera e disse outras palavras mágicas. Segundos depois, a energia da esfera espalhou-se por sigilos gravados nas paredes da torre e lâmpadas mágicas se acenderam. As vitrines e aquários também e logo era possível vislumbrar a 'coleção' do mago.

O clima dentro da torre também mudou graças ao calor emanado pelo gerador mágico. As criaturas dentro dos aquários se agitaram e armas mágicas e objetos passaram a flutuar dentro de suas vitrines.

"Então, duas pedrinhas e um item da minha coleção? Fizeram um excelente trabalho."Disse Ulfgar

"Obrigado. Tivemos...sorte."Disse Arannis tocando o símbolo de Avandra em seu peito

O paladino olhou para seus amigos e sorriu enquanto mostrava as duas esmeraldas antes de guardá-las em sua bolsa mágica.

"Temos uma longa jornada pela frente amigos. Mas a deusa da sorte está conosco."Disse o eladrin

A Ordem da Liberdade despediu-se de Cara Queimada e retornou à aldeia dos hakosh. Conforme haviam combinado, o Aurora estava lá, pronto para levá-los de volta para o sul.

"Skan? Não meus amigos. Não volto para Skan agora. preciso seguir a costa até Ilíria. Tenho negócios lá." Disse Halmar quando os aventureiros embarcaram

Keyra sorriu e abraçou seu amigo Hans enquanto olhava para o sul.

"Ilíria..."Disse a meio-elfa e a brisa do mar tocou seu rosto enquanto o Aurora cortava as ontas rumo à sua cidade natal.

domingo, 21 de novembro de 2010

Arannis

Ao ir para o gélido norte em busca de mais uma das jóias que pretende utilizar contra Agrom-Vimak e sua horda, a Ordem da Liberdade não tinha noção dos perigos que enfrentaria em sua empreitada. Entretanto, nada do que pudesse se apresentar diante dos heróis seria capaz de tirar-lhes a coragem, pois todos estavam extremamente resolutos em seu mister. Tal fato trouxe grande alegria ao coração do paladino de Avandra, principalmente depois da conversa que teve com o grupo. Ele sentia novamente seus “irmãos” voltando a ser, mesmo que aos poucos, unidos novamente.

Após um nefasto período de dúvidas e questionamentos que circundaram Arannis, o paladino está mais do que nunca seguro de sua fé e de estar no caminho certo. Imbuído dessa certeza é que durante toda a viagem de ida para o norte o paladino fez inúmeras preces para Avandra, a deusa da mudança, da sorte, rogando-lhe sempre suas bênçãos.

E as preces de Arannis para sua Deusa não foram em vão. A Deidade, ciente da agora inabalável fé de um dos seus seguidores, jorrou suas bênçãos sobre a Ordem da Liberdade, concedendo-lhe a sorte de encontrar, não apenas uma das jóias almejadas, mas duas delas, fato que poupou considerável tempo aos aventureiros, além de encher-lhes os corações com alegria e esperança.

E é neste contexto de alegria e sentimento de dever cumprido que o grupo retorna para Ilíria. Durante a longa viagem de volta o paladino não se esquece em nenhum momento de orar todos os dias para sua Deusa, sempre em tom de agradecimento. Foi em uma das várias noites que Arannis passou a à bordo no Aurora que sua fé foi mais uma vez recompensada por Avandra.

Era uma noite como as outras da viagem de volta, bem tranqüila, sem nenhum transtorno. O céu estava aberto, todo estrelado, com pouquíssimas nuvens e com uma bonita lua que iluminava o mar. Já era o final da segunda semana de viagem e o frio já não incomodava tanto, o pior já tinha ficado para trás. No momento, todos já tinham se alimentado com uma sopa bem quente e já estavam aos poucos caindo no sono pelo convés do navio.

Arannis, como fazia todas as noites, realizava uma longa oração de agradecimento, quase um ritual antes de dormir. Nessa noite além de mais uma vez agradecer Avandra, ele compartilhou com ela dois de seus anseios, quais sejam; o medo de sucumbir diante de Agrom-Vimak; e sua credulidade na “recuperação” de sua irmã, Keyra, rogando a Deidade forças para as duas tarefas.

Após orar o paladino ficou observando Keyra, que brincava com uma pequena faca num canto do barco. Após aproximadamente meia hora ela terminou de escrever algo na madeira no navio, deitou-se e caiu no sono. Em seguida, Arannis se recostou em uma pequena caixa que se encontrava perto dele, se cobriu com umas peles e passou a olhar para o estrelado céu, devaneando sobre o futuro da Ordem, bem como se questionando como estaria Ecniv.

Aos poucos com o leve balançar do navio, o contínuo barulho gerado pelo bater das ondas no barco, a leve brisa que lhe tocava o rosto, além do límpido céu estrelado o paladino passou a ficar inebriado de sono, já não conseguindo distinguir a realidade dos sonhos. O primeiro sinal foi a certeza dele de ter visto de maneira clara à frente do navio, nas poucas nuvens que se circundavam a lua, os três traços que simbolizam Avandra. Aos poucos sua visão ficou turva e tudo ao redor passou a ficar escuro, e um imenso silencio se fez presente.

Tão logo recobrou os sentidos Arannis percebeu uma paisagem muito familiar. Ele reconheceu a floresta onde sua cidade existira. Tudo estava intacto, preservado tal qual era antes do ataque dos drows. O paladino podia ouvir o canto dos pássaros na linda floresta, que era formada por grandes e robustas árvores, além de flores coloridas muito bonitas. Animais circulavam por todos os lados, eram cervos, coelhos, dentre outros. Ao fundo era possível ouvir o barulho de uma cachoeira que ficava próxima dali. O paladino pensou “Adrie adoraria conhecer minha cidade”.

Logo em seguida uma forte alegria tomou o paladino subitamente, que se sentiu compelido a procurar por seus pais. Ele correu até encontrar os portões de entrada de sua cidade, que estavam inacreditavelmente intactos. Quando estava prestes a adentrar novamente em sua cidade natal, uma voz muito familiar lhe chamou a atenção, voz essa que veio de um bosque próximo. Seu pai, o chefe da guarda eladrin, dava ordens e instruções aos guerreiros de como deveriam fazer a ronda.

Quando Arannis chegou ao bosque pôde ver os eladrins entrando na mata enquanto seu pai ficava no bosque. Tão logo o paladino se aproximou seu pai se virou, olhando-o sem nenhum espanto, parecia que já o esperava. Por instantes, que mais pareciam horas, Arannis ficou olhando para seu pai com os olhos cheios de lagrimas. Ele estava estupefato. Arannis já estava prestes a correr em direção ao seu genitor quando ouviu dele.

- “Espere meu filho, você não deve se aproximar. É melhor assim”.

- “Mas pai....” disse o paladino com a voz turva. Foi quando seu pai falou de maneira rígida:

- “Não me desobedeça Arannis, você jamais foi insubordinado!”.

Com as pernas trêmulas e imbuído de grande euforia Arannis mal conseguia se conter, mas mesmo assim obedeceu seu pai. Naquele momento Arannis percebeu que atrás de seu pai em duas árvores, uma a esquerda e outra a direita, estavam brilhando os sinais de Avandra, que geravam uma tênue aura verde em volta de seu pai. Pouco se preocupando com isso Arannis disse:

- “Pai posso tentar arrumar uma maneira de voltar no tempo e ajudar a evitar a invasão de nossa cidade. Soveliss está ficando um mago muito poderoso e tenho certeza que ele deve conhecer alguma maneira de fazer isso. Daí, voltarei com a Ordem da Liberdade para ajudá-lo”.

- “Não seja tolo Arannis, tal insanidade não é possível. Além disso, a Ordem da Liberdade não tem como propósito realizar os objetivos pessoais de um de seus membros, mas sim defender a ajudar a quem precisa. Lembra-se? Pelo que sei vocês estão tentando resolver um grande problema, muito maior do que seus anseios pessoais”.

Foi então que Arannis quedou levemente sua cabeça, fixando seu olhar no chão, passando a pensar no que havia dito.

- “Desculpe meu pai, não pude evitar. Não voltará a acontecer”. “Quanta saudade de ti. Eu e o Soveliss sentimos muito sua falta”.

- “Eu também sinto o mesmo em relação a vocês meu filho. Mas, por outro lado, fico muito orgulhoso por vocês terem se tornado homens de bem. Fico muito feliz em saber que ambos estão procurando resolver o problema de Agrom-Vimak”.

- “Como o senhor sabe disso meu pai?” (interrompendo de maneira abrupta seu pai).

- “Suas preces meu filho, suas preces. Elas são ouvidas. E é justamente sobre isso que quero falar contigo. Agrom-Vimak, mesmo sendo consideravelmente poderoso, já respeita muito vocês. Entretanto, a Ordem da Liberdade terá grandes e decisivos desafios antes de enfrentá-lo. No momento vocês não são páreo para ele. Para conseguirem frear as loucuras de Agrom-Vimak vocês precisam igualar, equilibrar as forças com a dele. Para tanto, a Ordem da Liberdade precisará fazer jus ao seu nome e, especialmente, ao símbolo que a representa.”

- “Como assim meu pai? Eu não estou entendendo, já não estamos justificando nosso nome?” (indagou o paladino).

- “Bem meu filho, até o momento o emblema da Ordem está apenas parcialmente representado. Veja só: A Ordem é formada por Keyra, a furtiva (nesse momento ao lado do pai de Arannis começou a se formar a imagem de Keyra, que logo em seguida colocou na cabeça um capuz fazendo com que uma escuridão se formasse. Era um círculo negro de um metro de diâmetro que flutuava).

- “Ela desaparece com maestria, importantíssimo talento principalmente para enganar e anular o inimigo”.

- “ O grupo também é formado por ti meu filho, que o protege com sua vida e fé de maneira ímpar.” (nesse momento começa a se formar dentro do circulo negro um escudo prateado. As linhas reluziam fortemente).

Arannis está atônito.

- “Vocês também contam com a força de Murmmur” (o novo membro aparece ao lado do circulo com sua lança e, ao golpear o ar, ele e sua arma se transformam em uma espada também prateada, que se crava à esquerda e atrás do escudo.

- “Não se esqueça do auxílio sempre precioso que é prestado por aqueles que se aliam a Ordem.” (Hans aparece com um machado em sua mão, para logo em seguida também se transformar em outra espada prateada. Esta tem o mesmo destino da primeira, ou seja, se posta detrás do escudo.

- “Ambos contribuem para impingir nos inimigos medo da força da Ordem da Liberdade”

- “Lembre-se também da perspicácia de Adrie, pois sem ela o grupo não compreenderia o meio em que está inserido e, com isso, estaria fadado ao fracasso.” (Adrie surge correndo ao lado do símbolo parcialmente formado. Em seguida, transforma-se em uma pantera e logo depois em um lindo unicórnio prateado, que salta e crava-se no centro do escudo).

Arannis percebe que a cada item do emblema que se formava o símbolo brilhava mais forte.

-“Força e agilidade de nada serve sem a astúcia e a sabedora para utilizá-la. Nesse ponto Soveliss é imbatível, sempre procurando aumentar seu conhecimento para usá-lo no momento e de maneira adequada”. (O irmão do paladino aparece ao lado do escudo abrindo e lendo um pergaminho. Logo em seguida ele brilha e solta uma bola de fogo. Quando esta choca-se com o escudo, Soveliss transforma-se em um pergaminho fechado, indo-se de encontro ao escudo. Ao aproximar-se o pergaminho se abre, colocando-se do lado esquerdo com o escrito “Ordem”).

- Um grupo para levar esperança ao coração dos homens e temor aos tiranos precisa que seus feitos sejam levados aos quatro cantos do mundo. E nesse ponto Ecniv é insubstituível.” (O bardo surge tocando sua flauta. Logo em seguida ele a guarda, pegando dentro de uma pequena bolsa um pergaminho, jogando-o no ar. O objeto voa em direção ao emblema da Ordem, abrindo-se ao lado do trazido por Soveliss. Nesse momento a frase do emblema restou formada (preencheu-se com a palavra “Liberdade”)

Arannis estava estarrecido, chegando até mesmo a ficar arrepiado e com lágrimas nos olhos, pois não imaginava a força e o poder da Ordem da Liberdade. Em seguida, com a voz tremula, questionou.

- “Pai, o senhor já mencionou todos os integrantes da ordem o e relacionou com o nosso símbolo, mas o emblema não está completo.” Ainda falta alguém. Quem?”

- “Você é um cavaleiro meu filho, precisa de uma montaria.” (respondeu o pai)

- “Mas pai, o senhor está querendo dizer que a Ordem precisa de uma montaria?”

- “Não uma simples montaria meu filho, mas sim um companheiro leal para o grupo e um verdadeiro amigo para ti”.

Logo em seguida Arannis passou a ouvir um barulho vindo do céu. Parecia o bater de asas. Ao olhar para cima, ele viu se aproximando um lindo pégaso branco. O animal voava deixando um rastro prateado. Sua crina branca e longa deixaram o paladino impressionado. Logo em seguida o cavalo pousou na clareira ao lado do símbolo, empinando com as asas abertas. (Arannis não acreditava. Ele apenas tinha visto tal criatura nos livros da biblioteca onde estoudou). O cavalo deu um salto para trás do símbolo e, assim, o completou. (o emblema passou a brilhar com muito mais força)

- “Mas como conseguiremos um pégaso meu pai?

- Bem, preciso ir agora meu filho. Não tenho como ficar aqui por mais tempo.

- Espere ai pai, o senhor não pode ficar tão pouco tempo comigo (exclamou Arannis, passando a correr em direção ao seu pai).

- Amo você meu filho, e diga a Soveliss que o amo também (enquanto proferia essas últimas palavras a imagem do pai de Arannis começava a se esvoaçar e os símbolos de Avandra que se encontravam brilhando nas duas árvores logo atrás começaram a parar de brilhar.

- Arannis deu um salto para tentar agarrar seu pai, mas foi em vão... Quando percebeu, estava caído de bruços no chão do navio. Ao olhar ao redor percebeu que todos ainda estavam dormindo. Logo em seguida, ficou bastante compenetrado olhando para as estrelas até o amanhecer...


Por W.A

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Jóia do Anão - Parte II

Hans cavalgava pela trilha nas montanhas apenas com um pensamento: encontrar Keyra. Vestia sua armadura de placas e suas armas estavam presas à sela do cavalo castanho que havia comprado numa fazenda, dias atrás. O guerreiro não havia descansado. Deixara Ilíria depois de descobrir a localização da meio-elfa. Skan, no norte. Hans usou todo o dinheiro que tinha e empreendeu a viagem sem pensar. Kord, o deus da força, havia falado com ele e isso tornava sua missão importante.

A trilha na montanha era estreita e Hans, com sua experiência como soldado sabia que poderia ser emboscado nesse tipo de terreno. Galopava aparentemente despreocupado quando três orcs surgiram, fechando a passagem pela estrada da montanha. Hans sorriu quando um dos orcs atacou com um machado. Ele desviou o cavalo ao mesmo tempo em que sacava uma machadinha que arremessou contra o atacante. A arma atingiu o orc no peito e este caiu morto. O segundo orc rugiu e atacou, mas Hans sacou seu machado de guerra e golpeou enquanto cavalgava, decepando a cabeça do orc. O terceiro, em pânico, corria à frente. Hans sorriu e eliminou o orc passando ao seu lado. O machado cortou fundo e o guerreiro seguiu seu caminho. Kord gostava de demonstrações de força e Hans gostava de agradar seu deus.

Cavalgou por mais algumas horas até ver Skan e suas enormes muralhas. Keyra estava perto. Seu coração bateu mais forte.

"Estou chegando...Keyra."Disse ele enquanto impelia o cavalo, trilha abaixo, rumo à cidade




O Aurora era um barco grande, um navio mercante. Tinha dois grandes mastros e vinte trinta remadores. O casco era escuro e tinha uma figura de proa entalhada, simbolizando um cavalo. Os remos estavam retraídos e vários homens carregavam caixas e barris usando uma rampa de madeira que ligava o barco ao cais. Outros dois navios mercantes estavam atracados nas docas de Skan. A Ordem da Liberdade chegou ao local, passando pelas dezenas de pessoas que trabalhavam carregando fardos pesados. Arannis perguntou sobre o Aurora e um marinheiro indicou o barco entre os outros que estavam atracados.
Ao chegar, o paladino chamou por alguém e um elfo desceu a rampa.

"Bom dia." Disse o marinheiro

"Bom dia. Procuramos Halmar, o capitão do Aurora. Seria você?"Perguntou Arannis

"Não não. Halmar está ali." Respondeu o elfo apontando para um humano gordo, baixo, de cabelos e barba loira.

Halmar tinha apenas a mão direita e usava o que parecia uma pequena aljava de couro cobrindo o cotoco da mão que faltava. O homem sorriu e desceu até o cais para falar com os aventureiros.

"Sou Halmar. Sejam bem vindos. Mestre Danen já pagou pela passagem de vocês. Vamos partir em alguns minutos."Disse o capitão

"Obrigado."Disse Arannis "Já vamos embarcar. Nos dê apenas alguns instantes."

Além do grupo formado por Keyra, Arannis, Soveliss, Adrie e Murmur, estavam no cais Damara, Kraig e Malcom. Este último havia encontrado o grupo pela primeira vez naquela manhã. Ele havia insistido em acompanhar Keyra até o Aurora. O casal conversava um pouco afastado do resto dos aventureiros. Damara e Soveliss estavam beijando-se enquanto Kraig conversava com Murmur e os demais.
O som de cascos na rua de pedra chamou a atenção de todos. Um guerreiro a cavalo galopava na direção do cais, abrindo passagem por entre as pessoas e os fardos de grãos e mantimentos. O homem parou perto da Ordem da Liberdade, apeou e tirou o elmo com crista vermelha, feita de crina de cavalo.

Hans sorriu e chamou por Keyra. Esta, surpresa, sorriu, soltou Mal e correu na direção do grandalhão. Saltou em sua direção e ficou pendurada com os braços ao redor do pescoço de Hans.

"Hans! Como chegou aqui?" Perguntou Keyra ainda agarrada ao guerreiro

"Eu...vim atrás de você. É uma longa história. Como...como é bom ver você." Respondeu Hans abraçando-a sem notar os demais que se aproximavam

Malcom pigarreou, chamando a atençãod e Keyra que colocou os pés no chão e sorriu sem dar muita importância à cara fechada de seu amante. "Pessoal, este é Hans! Somos amigos de infância e não nos vemos há anos!"

Hans sorriu ao ver a irritação de Malcom e apertou sua mão com firmeza. "Olá." Disse ele encarando o jovem ladino que teve alguma dificuldade para aguentar o aperto de mãos do guerreiro, que era muito mais alto que ele.

"Saudações." Disse Arannis aproximando-se. "Sou Arannis. Aquele é meu irmão Soveliss. Estes são Adrie e Murmur." Completou o paladino

"É um prazer." Disse Hans imediatamente virando-se para Keyra "Kord me mandou. Eu tinha que encontrar você. O deus da força tem um plano para mim e eu devo seguir seus desígnios."

"Olha, nós estávamos quase partindo. Temos uma missão no mar do norte." Disse Soveliss

"Então...será que posso juntar-me a vocês?" Perguntou Hans

Os aventureiros se entreolharam e Arannis aproximou-se. "Se é amigo de Keyra, pode vir e é possível que seja muito útil. Só não sabemos se há alguma vaga no Aurora."

Hans concordou e eles começaram a negociar com o capitão do barco. Depois de algum tempo barganhando, o capitão aceitou o novo passageiro, desde que este remasse como seus tripulantes, uma vez que parecia ser bastante forte.

O Aurora partiu depois de uma hora e a Ordem da Liberdade estava reunida no convés quando o capitão falou a respeito da rotina do barco. Murmur e Hans deveriam remar como os demais tripulantes. Adrie, em forma de corvo, ficou sobre um dos grandes mastros do barco enquanto os demais ajudavam no que podiam.

Por algumas horas, o Aurora seguiu o rio, passando por paisagens verdejantes. O rio logo desenbocou no mar e, depois do agito da entrada contra a maré, estava navegando em águas do mar do norte. Vários dias se passaram es velas do navio levaram os heróis cada vez mais longe. O frio começou a aumentar e logo todos tiveram que vestir roupas de pele de lontra por cima das armaduras.

Depois de muito tempo e de águas tranquilas, algo aconteceu. O Aurora simplesmente parou, num baque súbito. Dois tripulantes foram arremessados contra o convés e o capitão gritou quando oito enormes tentáculos surgiram ao redor da embarcação.

"Kraken!" Gritou um tripulante apavorado "Kraken!" Gritou de novo mas foi interrompido quando um dos tentáculos enrolou-se nele e o carregou para cima, arremessando-o contra o convés. Keyra viu o que o homem estava morto e uma poça de sangue aumentou debaixo dele.

"Às armas! Fiquem atentos!" Gritou Arannis sacando sua espada

Então, o kraken atacou.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Jóia do Anão - Parte I

Murmur hesitou por um momento. Olhou para a porta de madeira da casa. Podia ouvir as vozes conhecidas do outro lado. Respirou fundo e bateu. Segundos depois, a porta se abriu. Era Adrie, a elfa.

"Que bom que chegou. Arannis estava esperando para começarmos."Disse a druída sorrindo, apesar do ar distante de sua voz

"Obrigado."Disse Murmur passando pela porta. "Desculpem o atraso." Disse o goliath quando os demais olharam em sua direção.

"Não se preocupe. Não foi dito nada demais...ainda."Disse Arannis.

A mesa de madeira da pequena casa alugada pelo paladino em Skan era redonda e lembrava muito as mesas da taverna do outro lado da rua. Tinha oito bancos de madeira e uma vela no centro iluminava a pequena sala. Sentados à mesa estavam Soveliss, Arannis, Ecniv, e Keyra.
Murmur notou uma pequena caixa aos pés do paladino de Avandra e perto de Ecniv. O goliath sentou-se perto de Arannis e foi seguido por Adrie, que sentou-se ao lado de Keyra.

"Creio que podemos começar agora." Disse Arannis olhando para todos. "Tenho coisas importantes a dizer."Completou

Murmur ainda se sentia um estranho. Dias atrás, quando o grupo fora até sua casa para jantar, não esperava ser convidado para juntar-se a ele. Agora era um dos membros da Ordem da Liberdade mas ainda se sentia um pouco fora do grupo. O gigante cinza ficou calado enquanto Arannis iniciava a reunião. Preferia observar e entender, do que dizer algo sem ter ainda intimidade suficiente com os demais.

"Quando formamos este grupo, éramos inexperientes. Fomos atrás de um tesouro sem nem ao menos saber do que se tratava. Encontramos a primeira parte da espada de Agrom-Vimak. Eu confesso que vi a chance de vingar minha família, meu povo, usando essa arma contra os drows. O que me moveu e moveu meu irmão foi justamente essa possibilidade." Disse Arannis olhando nos olhos de cada um dos aventureiros

"E foi esse desejo de vingança que me desviou do caminho. Não fiz o que devia ter feito como líder deste grupo. Ignorei os momentos em que vocês precisavam de ajuda ou apenas de algumas palavras." Continuou o paladino

"Temos lutado sem parar. Ido de um ponto a outro, atrás dessas sete jóias para desfazer a besteira para a qual minha tentativa de vingar-me dos drows nos levou. Somente agora, nestes dez dias, depois da morte de um membro do grupo que consideramos amigo e de ver que Keyra e Adrie estão se distanciando, percebo que fui negligente." Arannis suspirou

Os demais olhavam sem dizer nada. Keyra brincava com uma adaga nervosamente. Seus olhos estavam vermelhos.

"O que quero dizer é que estou de volta. Nós somos um grupo de aventureiros. Somos a Ordem da Liberdade. Somos o mais próximo que posso chamar de família. Não vamos nos distanciar. Não vamos deixar ninguém para trás e esquecê-lo. Eu não vou deixar isso acontecer." Disse Arannis

"Eu tenho me sentido mal."Interrompeu Keyra "Os três meses que passamos no subterrâneo...fiz coisas horríveis. Matei. Matei drows. Matei outras coisas e pessoas. Tudo isso me fez ver que a vida não valia nada. Hoje eu mato e nem ao menos me incomodo. Além disso, vejo que esquecemos sim os que se vão. Foi assim com Medrash. Ninguém, por um longo tempo, nem ao menos mencionou seu desaparecimento. Ecniv está indo embora. Vamos esquecer dele também? Eu vejo que o grupo descarta seus membros e nem se importa. Vai ser assim se eu me for também?" Keyra disse estas últimas palavras chorando

"Não Keyra. Não é assim. Talvez tenhamos deixado Medrash esquecido por um tempo por causa da situação em que estávamos. Mas não é como você diz. Eu daria minha vida por cada um de vocês e tenho certeza de que todos fariam isso também." Disse Arannis

"Eu não sei. Vejo somente que estou ficando boa no que faço...que mato e não sofro por isso. E ninguém acha ruim. Até mesmo Soveliss veio me perguntar que técnicas de assassinato aprendi, quando saímos da prisão drow." Disse Keyra cravando a faca na mesa. Suas lágrimas escorriam pelo belo rosto e sua voz tremia, assim como suas mãos.

Murmur olhava sem saber o que dizer. Adrie parecia distante, séria. Ecniv parecia nervoso e Soveliss estava calado, ao lado do irmão.

Arannis respirou fundo e pegou a caixa que estava ao seu lado, colocando-a sobre a mesa.

"Keyra, nós vamos voltar a ser o que éramos. A Ordem da Liberdade vai fazer a coisa certa. Não vamos matar quando não for necessário e isso já começou. Capturamos Ogramum, o líder orc. Não o matamos. Você tem meu apoio, minha amizade. Eu estou dizendo que este grupo vai ser o que tinha que ser desde o início e vou dar meu sangue pra isso acontecer. Eu quero dizer a todos que voltei. Estive ausente mas voltei." Disse o eladrin

"Eu mandei fazer estes anéis" Disse ele abrindo a caixa. Nela havia seis anéis de ouro com o emblema do grupo "Mandei fazer como presente para vocês e como um símbolo deste dia, em que a Ordem da Liberdade volta a ser o que era desde o início: um grupo de amigos, companheiros, uma família."

Cada um dos aventureiros pegou o anel. Murmur hesitou.

"Você também Murmur. É um de nós agora." Disse Soveliss

Murmur pegou o anel e sorriu. "É uma honra. Obrigado. Farei o meu melhor." Disse o grandalhão

Keyra, Murmur e Soveliss deixaram a casa. O goliath foi até sua família, Keyra foi encontrar-se com seu amante, Malcom. Soveliss foi até a hospedaria onde Damara o esperava. Era o início da noite. Ecniv deixou uma caixa com cartas, túnicas e um estandarte com o emblema da ordem e desapareceu na noite. Ele detestava despedidas.



Alguém bateu na porta da casa onde Arannis e Adrie estavam. Eles abriram a porta e lá estava uma criança de uns doze anos.

"Boa noie. O senhor é Arannis, o paladino?"Disse o menino que carregava uma lanterna

"Sim...er...não é tarde para você estar na rua?"Disse Arannis

"Meu mestre pediu que os levasse até sua torre." Disse o garoto sorrindo

"Seu mestre?" Perguntou Adrie

"Mestre Danen, conselheiro do rei."Respondeu o menino

Arannis e Adrie seguiram o garoto pelas ruas de Skan, na direção da torre do mago. No caminho encontraram Murmur, Keyra e Soveliss. Todos estavam acompanhados por crianças carregando lanternas.

Ao chegarem à torre um dos meninos abriu o portão que protegia o jardim ao redor da casa de Danen. Os aventureiros entraram num jardin suntuoso, cheio de plantas, flores e árvores, algumas desconhecidas por eles. Algumas esferas flutuavam em pontos estratégicos do jardim, iluminando-o suavemente. A torre em si era uma construção estranha. Era muito alta mas muito estreita também. Dava a impressão de ter cômodos minúsculos em seu interior.
A porta de madeira abriu-se facilmente quando outra das crianças girou uma chave de ferro.
Os heróis entraram e então perceberam que nenhuma das crianças estava ao seu lado. Haviam desaparecido por completo.

Por dentro, a torre parecia muito mais ampla. Estavam numa sala grande, com uma decoração rica e exótica. Tapetes, almofadas douradas e estantes com livros e pequenos objetos de decoração, além de uma lareira, decoravam o lugar. Keyra aproximou-se de uma das estantes e discretamente pegou uma pequena peça dourada representando um animal que ela nunca vira em sua vida.

Subitamente, a porta se fechou e passos vieram da escada em espiral no centro da enorme sala. Outra criança, desta vez um pequeno drow segurando uma lanterna, apareceu.
"Boa noite" Disse o menino "Meu mestre os aguarda

"Chá?" Disse outra voz infantil atrás da Ordem da Liberdade. Era uma menina elfa carregando uma bandeja com pequenos copos de vidro enfeitados com tiras de ouro. Dentro dos copos uma bebida escura e fumegante chamou a atenção de Soveliss, que aceitou.

O grupo seguiu o pequeno drow pela escada em espiral até uma sala menor. De lá, ele os levou até uma porta que dava para um vão onde inúmeras escadas subiam, desciam e pareciam desafiar a realidade. Os aventureiros não entendiam bem aquilo. Começaram a descer uma escada e logo estavam subindo outra. Depois de caminhar por um tempo, estavam vendo a entrada da sala, mas de cabeça para baixo. Era um lugar totalmente bizarro.
Algum tempo depois, chegaram a uma sala onde sentiram uma leve brisa. No centro do teto havia uma grande abertura para o céu noturno e um enorme tubo de bronze com roldanas e engrenagens passava pela abertura até uma cadeira onde estava um velho envolto em roupas negras.

"Boa noite." Disse Arannis "Queria nos ver?"

O velho saltou da cadeira e sorriu. Com um gesto dispensou o pequeno drow que desapareceu em pleno ar. Em seguida, o mago deixou sua forma humana e transformou-se, usando a forma de genasi do fogo que os aventureiros conheceram ainda no castelo do rei.

"Chamei vocês sete aqui para conversar sobre assuntos de seu interesse." disse o genasi

"Sete?" Perguntou Adrie

"Sete." Respondeu o mago apontando para a porta onde Damara e Kraig haviam acabado de chegar

"Vamos ao que interessa. Eu pesquisei muito e encontrei uma das jóias que vocês procuram."Disse Danen "Ela está no mar do norte e pertence a um mago chamado Ulfgar, um anão." Completou

"Mar do norte? E como vamos chegar até lá?"Perguntou Soveliss

"Não se preocupem. Tenho tudo arranjado. Vocês partem amanhã!" Disse Danen abrindo os braços enquanto as labaredas em sua cabeça aumentavam sutilmente

domingo, 3 de outubro de 2010

Biografias: Hans

Raça: Humano
Classe: Guerreiro
Jogador: Lobo






O pai é ferreiro da Guarda de Ilíria, a mãe é cozinheira da casa real. Eles sentem muito orgulho de seu único filho Hans ser parte da guarda real de Ilíria. Sua trajetória foi bem interessante.

Em Ilíria, a família Franson, de humanos, era vizinha muito amiga da família Amarathar, composta por Aravillar, elfo e Kara, humana. Hans e Keyra, filha dos Amarathar tornaram-se grandes amigos. Muito ligados na infância e no início da juventude.

Como Hans era amigo da família de Keyra, por vezes treinava com o pai dela, Aravillar. Um aventureiro com maestria em espadas e habilidades em combate. Além disso, ajudava o pai na forja de armas e armaduras, mas não aprendeu o ofício, aproveitava para fortalecer seus músculos, pois tinha em mente seu objetivo de ser guerreiro da guarda real de Ilíria.

Ao completar 15 anos, Hans ingressa na guarda real. Não foi um teste fácil para ingressar na guarda. Fez teste de força e maestria de armas para saber em qual serviço Hans se enquadraria. Teve que conversar com cada superior para analisarem em qual área se encaixaria. Foi aceito para guerreiro da guarda, como soldado. Realizara seu sonho.

Feliz, retornou para sua casa contando a novidade para sua mãe, cujo sonho sempre fora ter seu filho servindo à guarda real. Então, convida a família Amarathar para um jantar em sua casa. Hans assou um Javali para todos enquanto sua mãe, Ella, preparou o restante da refeição. Hans ficava muito feliz com o olhar de sua amiga Keyra admirada com a conquista.

Cinco anos depois, já como sargento da guarda real, Hans se despede da família e de Keyra, que estava com 14. Ele partiria em missões na fronteira sul de Ilíria para conter o avanço dos bárbaros. Ao desperdir-se de Keyra, seu desejo dele era beijá-la, aconchegá-la em seus braços, mas se conteve pois não queria perder a amizade dela, da qual estima muito.

Partiu. Com o tempo. As viagens e missões como guerreiro estavam tornando-se muito frequentes. Uma vez por mês ele voltava para Ilíria. Sempre conseguia um tempo para contar as suas aventuras para Keyra. Ele via os olhos dela brilharem... Mas não sabia se aquilo era sentimento por ele ou vontade de se aventurar pelo mundo também. Ela também contava que, algumas vezes, seu pai permitia que ela fizesse pequenas e curtas viagens em busca de aventura. E que um dia ela também iria para longe cumprir o seu destino de aventureira como o pai.

Até que, três anos depois, ele precisa viajar mais para mais longe no sul, em uma missão que não tinha previsão de retorno. Ele se despede novamente de sua família, mas demora mais tempo com Keyra. Cheio de pesar no coração ele dá um abraço longo, ouvindo dela:

- Confio em ti, és forte, vai conseguir vencer os bárbaros.

Hans passa 2 anos em missão no sul, enfrentando diversas hordas diferentes, ataques vindos de todos os lados. Ele recebe um regimento para comandar. Fora promovido a Tenente. Ao fim da missão ele retorna para Ilíria, com sua nova armadura e posto.

Ao chegar, muito animado, ele bate à porta de sua casa:

- Abram a porta para o tenente Franson!

Os pais o recebem com imensa alegria. Abraços e beijos cheios de lágrimas e agradecimentos a Kord pelo retorno do filho amado, são e salvo.

Mas, após breves momentos em casa, suficientes apenas para acomodar suas coisas, quando fala aos pais que vai visitar Keyra, eles entreolham-se tristes e dizem para Hans:

- Filho, Keyra partiu há muito tempo. Saiu em busca de aventura.

Hans sente um aperto no peito. Esperava despedir-se de sua amiga num dia tão glorioso para ela. Engolindo em seco, retoma sua postura e diz:

- Mas pai, ela vai voltar em breve. Ela sempre se aventura aqui por perto e volta.

Conhecedor dos sentimentos do filho, o velho Lars diz, da maneira mais terna que conhece:

- Não meu filho, dessa vez é diferente, ela partiu mesmo em aventura.Não sabemos quando volta...

Sem acreditar direito, implorando a Kord para que seus pais estivessem enganados, Hans sai em visita à casa dos Amarathar.

Ao chegar, sem jeito e nervoso, diz a primeira frase que lhe vem à mente, já que o Sr. Aravillar abriu a porta antes que ele conseguisse sair correndo como um adolescente bobo.

- Keyra está?

Aravillar, surpreso e feliz responde:

- Seu pai não te contou meu jovem?

Ruborizado, de cabeça baixa e com voz sumida diz:

- S-si-sim...


- Ela não vai voltar em breve... Ela está seguindo o coração dela. - Responde entre orgulhoso e preocupado.

Girando sobre os pés, como se estivesse em posição militar, e saindo sem se despedir, Hans diz:

- Obrigado sr. Amarathar.

Ao perceber o uniforme diferente e notar a medalha indicativa da nova patente, Aravillar ainda tem tempo de dizer:

- Olha só! Tenente!! Parabéns, meu filho!

Já sem se importar com a novidade, Hans responde apatico:

- Ah... Obrigado, Sr. Com licença? Preciso de um tempo.

Aravillar diz:

- Tudo bem, que os deuses te protejam.

- Amém! Kord te dê força. - Hans responde enquanto volta rápido para casa.


Hans reza todos os dias para Kord, pedindo proteções para Keyra e seu grupo. Mas, principalmente para Keyra.


Dedicado e esforçado, ele segue seu serviço militar em Ilíria, quando, então, é convocado para uma guerra ao sul, onde deveria reunir-se à formação de 1000 soldados que já se encontrava no local. Orgulhoso, ele segue para a batalha com seu grupamento composto de 150 soldados.

Infelizmente, nesse embate, o exército de Ilíria foi derrotado. Yalin, a Paladina de Avandra e parte da liderança do exército de Ilíria, ordenava a fuga dos sobreviventes, quando Hans caiu, quase morto, ao ser lançado longe por um golpe certeiro de um gigante. Yalin o salva e dois colegas no combate o carregam de volta para Ilíria.

No caminho de volta, Hans, suando de febre, quase desmaiado, entre delirando e consciente, vê um clarão vindo do céu, imagens de um mar congelado, e, diante dele, as costas de uma mulher de cabelos castanhos, balançando ao vento. Sua aparência e vestes são familiares. Uma agústia muito grande toma seu coração. Ele sente necessidade de encontrar esta mulher. Prestando mais atenção, percebe ser uma meio-elfa... Seu coração dispara: "Keyra?!". Ele tem um pressentimento ruim... "Keyra!". O vento bate nos cabelos castanhos com mais força mostrando o rosto de uma bela moça, a Keyra. A constatação do fato expressa-se imediatamente em sua face machucada e semicoberta pelo lençol branco. É noite. Sua careta e seu gemido chamando por Keyra são interpretados como dor pelos companheiros ao seu redor. O curandeiro do grupamento aplica-lhe algumas compressas de ervas, mas fica perplexo ao notar o sinal de Kord na testa do enfermo. Ordena que todos saiam daquela área e o deixem vigiar o doente até a manhã seguinte.

Ele acorda sob os cuidados de curandeiros, se levanta rapidamente, pegando suas coisas e tentando sair daquele lugar mesmo com dores muito fortes pelo corpo. Quando está saindo, o curandeiro que o acompanhou a noite toda pergunta o que foi que ele viu durante a noite para que o sinal de Kord aparecesse tão claramente em sua testa. Este sinal é visível somente para os seus seguidores.

Convencido da mensagem que foi recebida, assim que ele tem forças, parte apressado até Marlon, um mago que ele acredita poder ajudá-lo. Hans gasta quase todas as suas economias para que esse mago possa descobrir onde está Keyra. Eis que ele mostra, em uma bola de cristal, que Keyra está em Skan, muitos quilômetros ao Norte dali. Levaria muitos dias para chegar até lá.

Hans compra um cavalo, mantimentos para si e o cavalo, prepara seus pertences e deixa tudo pronto. Gasta todas as suas economias e deixa sua mãe inconsolada e seu pai esperançoso.

Ele segue até o comando da Guarda Real. Conversa com o general pedindo baixa da guarda.

- Kord me enviou uma missão muito importante, preciso cumpri-la urgentemente, esse é meu motivo. Somente Kord sabe o porquê de me enviar numa missão nesse momento de grande necessidade de Ilíria. Peço licença para cumprir essa missão sem previsão de retorno.

Hans consegue a permissão depois de muita insistência e segue a cavalo para Skan, fazendo pouco descanso e parada, mas buscando sempre poupar o cavalo. Até que, muitos dias após sua partida, avista no horizonte uma cidade murada... Seu coração acelera na iminência de um reencontro.

À sua frente está Skan...