sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Batalha de Forte Dourado - Parte III

O clangor das trombetas anãs misturava-se aos gritos e ao som do aço chocando-se contra madeira ou metal. Berros de dor e barulho seco de metal contra carne eram ouvidos por toda parte. O guincho das repugnantes aranhas gigantes ao atacarem e os comandos das sacerdotizas que as comandavam eram capazes de gelar o sangue mas nada disso afetava o moral do rei Baltok Mão de Machado e de seus homens. Ao seu lado, repelindo ataques constantes de drows, estavam Medrash, o dragonborn vermelho, e Kraig, o príncipe dos anões. Drows tentavam em vão atingir o rei mas este revidava com seu machado mágico e gritava pedindo que mais viessem ao seu encontro. Kraig gargalhava enquanto girava seu próprio machado contra aranhas gigantes, do tamanho de enormes cães. Medrash mantinha seu enorme escudo pronto para proteger o rei e desferia golpes certeiros com sua espada flamejante.

Três grandes aranhas avançaram contra o dragonborn e este abriu a boca cuspiu uma labareda que chamuscou as criaturas. Logo em seguida, sua espada matou duas enquanto a terceira era morta por um anão jovem que empunhava um grande martelo de batalha.

Perto dali, Arannis e a Ordem da Liberdade lutavam contra dezenas de drows e duergars. O paladino havia sido cercado por um anão cinzento e dois drows e se defendia habilmente. Os inimigos atacavam mas seus golpes eram aparados pelo grande escudo com o símbolo de Avandra ou pela espada cuja lâmina azulada podia ser vista ao longe em meio à batalha. Soveliss estava na amurada oposta, disparando magias contra os inimigos. Adrie havia se transformado num lobo atroz e rasgava a garganta de um drow enquanto um lobo místico invocado pela druida defendia sua retaguarda. Keyra saltava e corria pelo campo de batalha, atacando e esquivando-se com graça e movimentos certeiros.
Ecniv havia se defendido algumas vezes de ataques inimigos mas procurava em meio ao caos da batalha um alvo importante. Foi então que o gnomo viu o general drow, cujo rosto havia sido marcado pela espada de Keyra na noite anterior.

"Hey!" Gritou Ecniv na direção do drow. Este nem ao menos notou o gnomo

"Eu disse hey você! Seu elfo torrado!" Gritou novamente o bardo

Como o drow parecia não dar atenção às suas provocações, Ecniv dirigiu-se de forma sorrateira até ele e então, surgindo de forma súbita, atingiu a coxa do drow com sua espada. Raios de eletricidade percorreram o corpo do inimigo que percebeu o gnomo e atacou ferozmente. Ecniv esquivou-se com grande rapidez e atacou novamente, fazendo com que sua espada mágica conduzisse suas magias. O general parecia enfraquecido pelos ataques rápidos e constantes do pequeno bardo que a cada golpe bem sucedido gargalhava e soltava provocações. O drow percebeu que cada golpe fazia com que sua visão ficasse turva e seus membros enfraquecidos.

"Pare de saltar, sapo!" Gritou o drow

"Não posso! Você é tão patético que tenho que dar pulinhos de alegria!" Riu Ecniv



Keyra havia matado dois drows e estava indo em direção das sacerdotizas. Ela sabia que eram perigosas e algo que a jovem ladina possuía em abundância era um senso tático formidável. Keyra saltou da amurada, girando em pleno ar e arremessando uma adaga contra uma das drows. A arma não atingiu o alvo e retornou instantaneamente às mãos da meio-elfa e então a sacerdotiza a notou. A drow apontou um pequeno cetro na direção de Keyra e um raio de energia negra voou pelo campo de batalha, atingindo-a. A energia formou tentáculos que aprisionaram Keyra.

"Ah, então você quer usar magia?" Gritou Soveliss do outro lado. "Toma!" Gritou o eladrin enquando uma serpente de energía deixava seu orbe indo diretamente para a mulher drow. Esta defendeu-se com magia e então deixou Keyra e começou a lutar com Soveliss. O mago disparava seus feitiços e a clériga os repelia. Então, Soveliss sorriu e fazendo um gesto com sua mão, conjurou uma enorme mão de gelo que segurou a drow.

"Não haverá amanhã para os drows!" Gritou o eladrin e então arremessou a drow pela amurada.

O grito da sacerdotiza desapareceu no abismo abaixo.

Os anões estavam vencendo. Muitos haviam morrido mas a hoste de Forte Dourado avançava cada vez mais enquanto os drows cediam terreno. Baltok Mão de Machado avançava por cima de cadáveres de elfos-negros e Arannis estava ainda ileso mas sendo atacado por vários ao mesmo tempo. Keyra lançou sua adaga e cortou a garganta de um drow. Então, correu para ajudar Ecniv.

Arannis estava tomado pela fúria da batalha. Defendeu-se com o escudo de um golpe certeiro, girou o corpo e colocou toda sua força num único e devastador ataque que decepou a cabeça de um duergar. Outro anão cinzento estava indo na direção de Arannis e agora eram cinco os atacantes do eladrin. Então. Soveliss disparou uma bola de fogo na área onde Adrie e Arannis lutavam contra os drows.

"Ops! Meu irmão!" Pensou o mago e então usou uma magia que teleportou Arannis para longe da explosão. Porém, o fogo atingiu Adrie que, em sua forma de lobo atroz ficou levemente chamuscada. O enorme lobo olhou na direção de Soveliss rosnando.

"Desculpa!" Gritou ele sem graça

Enquanto isso, o general drow continuava tentando atingir Ecniv sem sucesso. Arannis que havia sido teleportado para perto dele, atacou, atingindo o ombro do elfo-negro, partindo a ombreira da armadura. Adrie saltou na direção do drow, com sangue nas mandíbulas e o derrubou. O drow tentou levantar-se mas a espada de Keyra atingiu seu calcanhar, cortando-lhe os tendões. Então a ladina sacou sua adaga e a cravou nas costas do inimigo. O drow caiu de joelhos e a Ordem da Liberdade afastou-se mas Keyra então girou o corpo, fez um enorme corte no peito do general com sua adaga e então agarrou-o pelos cabelos, passando a espada por seu pescoço, no início devagar, depois culminando num corte rápido.

Ensanguentada, a meio-elfa pisou sobre o cadáver do general e gritou. Não era um grito de vitória mas sim um urro de raiva que intimidou vários drows ao seu redor. Estes recuaram e logo estavam correndo. Então, todos os anões próximos à Ordem da Liberdade gritaram como Keyra e logo estavam correndo atrás de drows apovarados. O exército inimigo estava em pânico.
Foi nesse momento, enquanto todos corriam no encalço da horda em frangalhos, que Adrie percebeu algo. Sobre uma das tendas, a uma distância segura, estava um gnomo. Era extremamente parecido com Ecniv. Porém, era mais velho e usava roupas negras. O gnomo estava armado com um arco curto e havia uma única flecha pronta para ser disparada. Antes que Adrie pudesse fazer qualquer coisa, o gnomo soltou o projétil.

A flecha cortou o ar e brilhou a alguns metros de Baltok Mão de Machado. A flecha mágica transformou-se em seis e todas atingiram o alvo. Adrie havia acompanhado a trajetória tortuosa da flecha. Era como se a mesma tivesse sido encantada para atingir apenas aquele alvo, o rei.
O impacto dos projéteis lançou Baltok para trás. O rei caiu e logo vários anões e Medrash estavam protegendo-o com seus escudos. Adrie olhou novamente na direção do gnomo mas este havia desaparecido. A druida então assumiu sua forma de elfa e correu para ajudar o rei. Porém, a cada tentativa, parecia que as flechas entravam mais na carne do rei dos anões.

O exército drow fugia. Haviam sido derrotados. Mas o preço havia sido a morte de Baltok Mão de Machado. O rei foi levado para dentro de Forte Dourado enquanto a Ordem da Liberdade, os Irmãos de Sangue e o resto dos anões matava os últimos drows sobre a ponte.




A tumba dos reis era uma caverna próxima de Forte Dourado. Era um lugar dedicado aos grandes reis e heróis dos anões. A enorme cripta era fechada. Duas grandes portas de pedra podiam ser abertas apenas com o brasão real, presente na coroa. As duas portas estavam abertas agora, enquanto uma multidão aguardava o início dos ritos fúnebres. Baltok Mão de Machado, o rei guerreiro, pai de Kraig, jazia sobre uma pira funerária erguida nos últimos dois dias por dezenas de anões. Era alta e o corpo do rei mal podia ser visto mas estava em paz. Kraig trazia consigo uma tocha e estava vestindo um longo manto de pele de lobo que havia pertencido ao seu pai. A Ordem da Liberdade, Linfur, Damara e Medrash observavam de perto. Todos partilhavam da dor do amigo apesar da grande vitória contra os drows.

Arannis colocou a mão sobre o ombro de Kraig. "Ele orgulhou seus ancestrais. Faça o mesmo." Disse o eladrin

"Tem razão elfo. Eu farei isso." Respondeu Kraig enquanto ateava fogo à montanha de toras de madeira. "Honrarei meu pai e meus ancestrais. Moradin é testemunha. Moradin sabe que meu pai morreu lutando por seu povo e que assim fará Kraig, filho de Baltok, neto de Kroj."

Dizendo isso, Kraig virou-se para a multidão. "Lutarei por meu povo e honrarei o sangue que carrego nas veias! Assim jura o filho de Baltok Mão de Machado!" Gritou

O fogo espalhou-se pelas toras e logo o corpo do rei estava queimando. Muitos de seus súditos deixaram presentes para o morto e se retiraram até que, no fim, apenas Kraig e seus amigos restaram. Alguns servos iriam se encarregar de levar o corpo para a cripta e lacrá-la.




Os dias que se seguiram foram bem ocupados. Enquanto a cidade se recompunha da batalha e do cerco dos drows, patrulhas vasculhavam a região em busca de sobreviventes do exército inimigo. Os membros da Ordem da Liberdade decidiram ficar até a coroação do novo rei e aproveitaram para pesquisar mais a respeito das sete jóias. A biblioteca de Forte Dourado era a maior e mais antiga que haviam visto e certamente haveria alguma informação importante lá.

A coroação do novo rei seria uma festa com banquetes e muita alegria. Kraig era agora o novo monarca e tinha novas responsabilidades. Por outro lado, a Ordem da Liberdade tinha agora um poderoso aliado em sua busca por derrotar Agrom-Vimak. Os heróis estavam decididos a viajar para a cidade de Gavadran, no sul distante, em busca de mais uma das jóias. A idéia seria usar o portal da cidade anã e depois retornar da mesma forma para seguir em busca das montarias aladas que Arannis tanto desejava para a Ordem.
Os preparativos estavam sendo feitos quando Soveliss foi até Damara.

"O que foi meu amor. O que tirou seu sorriso de sempre?" Disse a guerreira de cabelos de fogo

"Nada...eu...eu tenho algo para você." Respondeu Soveliss "Nós vamos partir em breve. Não sei o que encontraremos no caminho. Por isso, mandei fazer algo provisório..." Continuou ele, retirando do bolso um objeto pequeno.

Damara estava curiosa e levantou-se da cama para ver melhor o presente.

"Damara, meu amor, este anel é somente uma amostra do que virá. Amo você acima de tudo e retornarei para fazer tudo da forma correta." Disse o eladrin enquanto colocava um anel de prata no dedo de sua amada

"Soveliss...eu..." ia dizer Damara

"Shhh...não. Quando eu voltar vamos conversar sobre isso. Eu te amo." Disse o mago enquanto beijava a guerreira




Do lado de fora da cidade dos anões, Adrie perambulava. Ainda havia muitas marcas de sangue e de explosões na ponte de pedra. Ela caminhava sozinha, pensativa. O vento das montanhas fazia seus longos cabelos esverdeados tremular como um estandarte. Ela apoiou-se na amurada e olhou para o abismo abaixo. Subitamente, uma melodia muito familiar se fez ouvir em meio aos uivos do vento. Alguém estava assobiando uma canção élfica. Adrie olhou para o outro lado da ponte e viu um homem vestido de verde, sem armas além de uma rapieira presa à cintura. Usava uma capa verde-escura e botas de couro altas. Adrie percebeu que muitos objetos do homem eram mágicos, inclusive seu vistoso chapéu verde com uma grande pena vermelha e dourada. O homem foi se aproximando e ao chegar perto o suficiente, Adrie notou que era muito atraente. Seus traços finos lembravam os de um elfo mas a barba por fazer o denunciavam como humano, ou talvez meio-elfo. Era muito loiro e seus olhos eram de um azul profundo, levemente amendoados. O homem trazia apenas uma pequena bolsa, visivelmente mágica, e um alaúde preso às costas. Adrie sentiu-se ao mesmo tempo atraída e incomodada com a presença do homem, que lhe lançava um olhar calmo e ao mesmo tempo sedutor.

"Bom dia! É realmente uma agradável surpresa ver uma filha das florestas numa cidade de anões! Ainda mais em se tratando de tão bela criatura." Disse ele em élfico, tirando o chapéu e beijando-lhe a mão.

"Bom...bom dia...eu...sou Adrie"Disse ela

"Adrie. Seu nome soa como o cantar de pequenos rouxinóis na primavera. O prazer em conhecê-la é todo meu. Sou Laucian...conhecido também como Laucian Moeda de Ouro." Disse ele ainda em élfico e olhando-a diretamente nos olhos

"Soube que há um novo rei e vim aqui para prestar minhas homenagens a um velho amigo." Disse Laucian "Você também está aqui para a coroação?" Perguntou ele apoiando-se na amurada e olhando para Adrie bem de perto

"Eu...hum...sim...eu e meus amigos...a Ordem...a ordem da liberdade." Disse ela sem graça

"Que ótimo! Já ouvi a respeito do seu grupo. Bem, preciso ir. Longa viagem, sabe como é. Foi realmente muito, mas muito prazeroso conhecê-la, Adrie..." Disse ele fazendo uma longa reverência e beijando-lhe as duas mãos. "Espero sinceramente vê-la novamente."

Laucian entrou na cidade dos ançoes, passando pelos guardas que pareciam conhecê-lo bem. Adrie continuava maravilhada com aquele homem misterioso.



Enquanto isso, longe dali, algo antigo e poderoso despertava de seu sono de centenas de anos.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Batalha de Forte Dourado - Parte II

"Alteza, o rei está conversando com um emissário dos drows!" Disse ofegante o mensageiro, um anão jovem, de barba rala e escura enquanto se dirigia a Kraig que bebia ao lado dos membros da Ordem da Liberdade

"Malditos elfos-negros filhos de aranhas e prostitutas dos Nove Infernos!" Xingou o príncipe dos anões. "Tenho que ver isso!" Finalizou, enquanto engolia o resto de cerveja negra de sua caneca

Kraig caminhou até a porta da taverna, ao lado do mensageiro e então olhou para trás, na direção de Arannis, Soveliss, Adrie, Keyra e Ecniv.

"Vão ficar aí parados? Vamos logo!" Berrou



A sala do trono estava apinhada de guerreiros e anões das classes nobres de Forte Dourado. A Ordem da Liberdade estava perto do rei, ao lado de Kraig. Baltok Mão de Machado estava sentado em seu trono de pedra, observando a multidão que falava sem parar. Então, as grandes portas do salão foram abertas pelos guardas e todos os anões se calaram. Uma figura esguía passou pelas portas. Seus cabelos brancos eram curtos, muito curtos, e suas orelhas eram pontiagudas e estranhamente longas. Tinha a pele negra, como todos os drows, e olhos totalmente vermelhos. Vestia roupas caras e muitas jóias e não portava arma alguma.

O silêncio no salão era sepulcral e apenas os passos do drow ressoavam no lugar. O elfo-negro caminhou até o centro da sala, observando a multidão de anões e lançando olhadelas pelo salão. Enfim, o drow chegou até uma distância de menos de dez metros do trono. Ele olhou para a direita e viu a Ordem da Liberdade. Um sorriso sarcástico se formou em seus lábios ao ver o grupo formado por uma elfa, uma meio-elfa e dois eladrins. O gnomo não chamou tanto sua atenção. O arauto dos drows voltou-se para Baltok, o rei e então sorriu novamente.
O drow fez uma reverência exagerada, abaixando-se até que seu nariz quase tocasse o chão.

"Ó majestade, rei Baltok Mão de Machado, rei dos anões, senhor de Forte Dourado, poderoso adversário e justo governante..."Disse ele enquanto levantava o olhar na direção do rei. "Meu nome é Zarak e sou o mensageiro de minha senhora, a rainha das aranhas, aquela que dança diante da sombra de Lolth, nossa progenitora."

Os anões continuavam em silêncio mas uma cusparada de Kraig no chão chamou a atenção de muitos deles, que repetiram o gesto.

O drow ignorou a provocação e continuou. "Ó senhor dos anões. Minha senhora incumbiu-me de trazer palavras justas e uma proposta de paz..."Essa última palavra foi dita com um sorriso no rosto e gestos afetados. "Minha senhora pede apenas que, como seres simples que são, aceitem o domínio da raça nobre e poderosa dos drows, tornando-se um protetorado."

Baltok fechou os punhos. estava visivelmente irritado com o drow e sua proposta. No entanto, esboçou uma certa tranquilidade quando sua voz de trovão ressoou pelo salão de pedra.

"Diga, drow, porque veio aqui sabendo que meu povo nunca se renderá aos drows? Diga porque está me fazendo perder tempo com uma proposta como essa?" Disse o rei

"Majestade, ó grandioso e poderoso senhor de Forte Dourado, minha senhora quer o bem estar de seu povo. Ela exige apenas total obediência e assim, todos serão poupados da morte nos poços de aranhas. Assim continuarão vivendo em sua fortaleza mas como servos de uma raça superior." Respondeu Zarak

"Essa é nossa única opção?"Perguntou Baltok Mão de Machado

"Majestade, há uma segunda opção. Minha senhora diz que, caso não aceite servir aos gloriosos drows, poderão deixar Forte Dourado e partir. Todo o seu povo poderá deixar a cidade em paz, desde que não ousem atacar um drow sequer." Disse o mensageiro

A multidão começou a murmurar e muitos chegaram a reclamar. Alguns gritaram xingamentos direcionados ao drow e outros avançaram mas logo foram retidos por seus companheiros.

"Então, ó poderoso rei...que mensagem devo levar à senhora das aranhas?" Perguntou Zarak sorrindo como sempre

"Diga...diga que Baltok Mão de Machado, filho de Kroj o Impiedoso e senhor de Forte Dourado dará uma resposta ao amanhecer. Agora vá, drow." Disse o rei mantendo a calma

O drow fez uma longa reverência e então lançou outro olhar na direção dos eladrins presentes. "Majestade, aguardaremos sua resposta..." E então deixou o salão andando a passos largos, enquanto o murmúrio da multidão se transformava em caos.



Troban era um guarda jovem. O anão estava em seu turno na muralha no ponto mais alto de Forte Dourado. Ele brandia uma lança e estava sonolento mas de vez em quando parava para observar pela amurada. Abaixo, o acampamento drow estava cheio de pequenas luzes de fogueiras. O vento batia forte na muralha. Troban bocejou e esticou os braços e então uma pequena sombra saltou em sua direção. O halfling agarrou-se às costas do anão e antes que ele pudesse gritar por ajuda, colocou um pedaço de pano molhado sobre sua boca e nariz. O anão debateu-se por alguns segundos e então caiu inconsciente. Linfur sorriu enquanto guardava o pedaço de tecido.

"Ele não está morto. O que você fez?" Disse Keyra, saíndo das sombras

"Uma pequena poção. Segredos de profissão, garota." respondeu o halfling

"Hum...e agora?" Perguntou a meio-elfa

"Agora brindamos aos deuses com a poção de invisibilidade, descemos pelas cordas até a ponte, atravessamos e matamos alguns drows em seu acampamento." Disse Linfur tirando do cinto um pequeno vidro contendo a poção.

Keyra sorriu ao som dos pequenos frascos se chocando levemente. Os dois ladinos beberam e em segundos estavam completamente invisíveis. Duas cordas, firmemente amarradas foram arremessadas muralha abaixo e somente a ponta delas chegou até o chão. Linfur havia calculado bem quando juntara mais de três cordas longas. O vento parecia balançar as cordas mas na verdade eram Keyra e Linfurm invisíveis. Ao chegar ao final da longa descida, cada um seguiu seu caminho, atravessando em silêncio a ponte.
Keyra notou que, além dos guardas drows, havia na ponte um conjunto de barris com um cheiro forte. Longas cordas saíam dos barris e caíam pela amurada lateral da ponte de pedra. Keyra dependurou-se para verificar e percebeu que mais alguns barris estavam amarrados na parte inferior da ponte.

A meio-elfa seguiu, entrando no acampamento drow. Soldados por toda parte. Alguns ao redor de fogueiras, outros afiando armas e treinando. Keyra havia esquecido que a noite era para os elfos-negros o período de atividade. Mas não havia apenas drows. Ogros, orcs, duergars e gnolls estavam também entre as fileiras do exército maligno. Keyra começava a perguntar-se se o plano secreto de Linfur havia sido realmente uma boa idéia.
Ninguém sabia que Keyra havia deixado Forte Dourado com Linfur. Ninguém a não ser Soveliss, para quem a meio-elfa sempre contava essas coisas.

Uma tenda maior e mais iluminada chamou a atenção da ladina. Ela percebeu um enorme guarda meio-orc e decidiu contorná-la para tentar entrar sem ser notada. Apesar de estar invisível, Keyra sabia que poderia ser percebida. A ladina chegou na parte de trás da tenda e, usando sua adaga, abriu um corte no tecido grosso e assim entrou. Estava atrás de um dos postes de madeira que sustentavam a tenda. Havia uma mesa de madeira, baús e uma montanha de almofadas de cores diferentes, bastante ornamentadas. De pé, diante das almofadas, estava uma drow.
A mulher usava um vestido translúcido e algumas jóias. Era muito bonita e emanava um ar de superioridade. Ela estava conversando com um drow. Keyra sorriu ao reconhecer o mensageiro afetado que havia estado na sala do trono dos anões, horas antes. Os dois falavam na língua do subterrãneo, que Keyra dominava bem.

"Então Zarak. O que diz o inseto?" Perguntou a mulher

"Minha senhora. O rei dos anões é duro como as montanhas, seco como o deserto mas tem um coração mole e um senso de dever enorme para com seu povo. Ele irá render-se, certamente."Respondeu o drow

"Está certo disso, draegloth?" Insistiu ela

"Mas é claro, ó alteza entre as altezas." Respondeu Zarak

Keyra tentou lembrar-se da palavra 'draegloth' mas não conseguiu. Talvez fosse o nome de uma casa ou apenas um título. Ela se manteve em silêncio enquanto os dois conversavam.

"Minha senhora, em todo caso, vamos exterminar os anões pela manhã, quando o tolo rei se entregar." Disse Zarak

"Logicamente, draegloth. Eu quero a cabeça dele numa bandeja de prata. Melhor ainda, de mithral." Disse a mulher sorrindo "Muito bem, você pode ir." Completou

Zarak fez uma longa reverência e deixou a tenda. Keyra foi até a entrada e observou o drow. Este havia parado para falar com o guarda.

"Ainda sendo um guarda? Sempre ridículo, mestiço." Disse o drow

"E voce, sempre um menino de recados, draegloth." Respondeu o meio-orc

"Não me teste...nunca comi carne de meio-orcs...posso começar." Disse Zarak tranquilamente. "Até breve, impuro." Finalizou

Então, Keyra viu algo estranho e aterrorizante. Zarak se contorceu e por alguns instantes sua pele se esticou. A pele negra começou a resgar como se nao pudesse comportar o tamanho do corpo de Zarak. Grandes braços com garras descomunais, dois braços menores na barriga e uma cabeça que parecia uma mistura de drow com morcego surgiram. Zarak, ou a coisa que havia sido o drow, rosnou para o meio-orc e então duas asas brotaram de suas costas. A criatura apontou para o guarda e pareceu gargalhar. Então, bateu as enormes asas de couro e desapareceu no céu estrelado.

O meio-orc resmungou e contiuou vigiando a entrada. Keyra voltou sua atenção para a mulher dentro da tenda. Ela estava completamente nua. Keyra sabia que as sacerdotizas drows costumavam fazer um ritual que encolvia orgias com vários machos e que Lolth, a deus aracnídea dos elfos-negros apreciava isso. A ladina imaginou que a drow estivesse esperando seus seguidores. Para Keyra, a mulher era a líder do expercito e sua morte seria importante para prejudicar a moral dos drows. Então, sem pensar mais, Keyra arremessou sua adaga na direção da drow. A arma sibilou atingindo a sacerdotiza nas costas. Antes que esta pudesse gritar, Keyra estava atrás dela, visível e empunhando outra adaga, cuja lâmina tocou o pescoço da mulher.

"Morra, drow maldita." Sussurrou Keyra e então a adaga abriu a garganta da drow

A mulher engasgou com o próprio sangue e virou-se para encarar Keyra, que a segurava. A ladina deixou que a drow visse seu rosto.
Passos e vozes se aproximavam e Keyra pensou rapido. Sacou a pequena esfera de onix que levava sempre consigo e, sussurrando as palavras mágicas, transformou-se num drow. Quando cinco outros elfos-negros entraram na tenda, Keyra, sem virar-se para eles, falou, tentando parecer intimidadora como a mulher que jazia em seus braços.

"Saiam daqui. Já tenho o que preciso. Vão, machos idiotas!"Disse ela na língua dos drows

Os cinco ouviram a voz de uma mulher e não perceberam que era o 'homem' quem havia falado. Pedindo desculpas pela intromissão, os elfos-negros saíram. Keyra então soltou a sacerdotiza sobre as almofadas e tentou achar algo de valor. Nada chamou sua atenção e ela resolveu ir embora antes que o corpo fosse descoberto. A ladina, disfarçada de drow, saiu pela mesma fenda aberta nos fundos da tenda e minutos depois havia grande alvoroço no acampamento. Outros drows haviam sido encontrados mortos e logo a mulher também seria.
Keyra correu, escondendo-se entre as pedras mas foi vista por um elfo-negro que vestia uma armadura negra, com detalhes em dourado. Ela arremessou a adaga mas esta apenas resvalou no rosto do inimigo, retornando em seguida às suas mãos.

"Intruso..."Disse o drow e este correu na direção do falso elfo-negro.

Keyra não pensou duas vezes. Correu e direção à ponte. Tentando não ser vista por outros guardas. Por sorte, a habilidade de Keyra de mesclar-se às sombras fez com que conseguisse despistar o seu algoz. Logo a meio-elfa estava esgueirando-se em direção à muralha. Ao chegar, porém, deparou-se com um drow que havia encontrado as cordas.

"Maldição..."Pensou ela e então algo aconteceu. Linfur saltou sobre o drow, cortando-lhe a garganta num golpe certeiro de suas adagas.

"Belo trabalho garota. Agora vamos subir antes que mais deles encontrem as cordas e subam." Disse o halfling

Rapidamente os dois subiram de volta e puxaram as cordas para cima. Haviam causado um belo estrago e certamente a manhã seguinte seria vantajosa para os anões.




Era de manhã quando centenas de drows avançaram para perto da ponte que ligava as muralhas de Forte Dourado ao desfiladeiro nas montanhas. Drows subiam nas amuradas e gargalhavam enquanto mijavam sobre as estátuas de anões que guardavam o local. Um grupo grande de anões cinzentos, os temidos duergars, martelava seus escudos com suas armas, desafiando seus primos distantes. Aranhas do tamanho de cães de guerra rastejavam pela ponte sob o comando de mulheres drows armadas apenas com o símbolo nefasto de sua deusa, Lolth.
Um drow, cujo rosto mostrava um corte recente, avançou alguns metros à frente do exército e falou na língua comum.

"Vão ficar aí dentro escondendo-se, porcos?" Gritou o drow "Seu rei de merda vai ficar atrás das grandes muralhas até que os matemos de fome?" Perguntou "Saiam do buraco fedorento em que vivem e vamos matar somente a metade de vocês! A outra metade irá nos servir como escravos que já foram no passado para os gigantes do fogo! Vamos anões! Saiam daí e mostrem suas barbas cheias de piolhos!" Gritou uma vez mais

Forte Dourado continuava em silêncio e apenas as bandeiras tremulando no topo da cidade anã faziam algum som. O general drow gargalhou e virou-se para seus homens e falou, ainda em comum.

"Viram? Covardes! Se escondem atrás da muralha como ratos!" Vociferou o drow ainda rindo e então ouviu-se um estrondo.

O som de metal chocando-se contra metal e das enormes engrenagens dos portões de ferro ecoou enquanto o general dos elfos-negros se voltava para Forte Dourado. Um anão saiu pelo portão, empunhando o estandarte real. Era o capitão Gundur. Atrás dele, centenas de anões começaram a sair e a formar uma coluna de machados, martelos, lanças e escudos do outro lado da ponte. Gundur levantou um chifre dourado e assoprou com força entoando um chamado de guerra. Mais e mais anões se posicionavam enquanto o general drow gargalhava. Logo a coluna de anões estava formada e havia dragoborns entre eles. Um deles, Medrash, estava lado a lado com Arannis. Adrie estava perto deles e Ecniv estava atrás. Keyra havia sacado suas armas e estava sobre a amurada leste. Soveliss saiu pela porta ao lado de sua amada Damara e do príncipe Kraig. O eladrin beijou a humana de cabelos ruivos e teleportou-se para cima de uma das grandes estátuas da ponte.

Os Irmãos de Sangue e a Ordem da Liberdade estavam prontos, lado a lado com os guerreiros de Forte Dourado quando as trombetas soaram novamente. Um corredor de anões abriu-se enquanto Baltok Mão de Machado passava. Ele usava uma armadura de placas digna dos grandes guerreiros do passado. Seu elmo, fechado nas laterais mas aberto na frente ostentava um par de asas de águia. Sua longa barba estava trançada e em suas mãos havia um escudo com o brasão jde sua família e um cetro escuro com ornamentos de prata. Baltok parou diante do exército anão e bateu o cetro no chão. Chamas azuis irromperam numa das pontas do certo, formando uma lâmina de machado flamejante. Ao ver isso, os guerreiros anões gritaram seu nome.

"Por Forte Dourado e Moradin!" Gritou o rei

Arannis colocou seu elmo e fez uma prece a Avandra. Keyra beijou sua espada e Adrie pensou em Melora, sua divindade. Soveliss sorriu enquanto sacava seu orbe mágico e Ecniv empunhou sua espada elétrica e sorriu.

"POR FORTE DOURADO, MORADIN E BALTOK!!!" Gritaram todos os anões e a linha de escudos avançou para enfrentar os elfos-negros.