quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Batalha de Forte Dourado - Parte II

"Alteza, o rei está conversando com um emissário dos drows!" Disse ofegante o mensageiro, um anão jovem, de barba rala e escura enquanto se dirigia a Kraig que bebia ao lado dos membros da Ordem da Liberdade

"Malditos elfos-negros filhos de aranhas e prostitutas dos Nove Infernos!" Xingou o príncipe dos anões. "Tenho que ver isso!" Finalizou, enquanto engolia o resto de cerveja negra de sua caneca

Kraig caminhou até a porta da taverna, ao lado do mensageiro e então olhou para trás, na direção de Arannis, Soveliss, Adrie, Keyra e Ecniv.

"Vão ficar aí parados? Vamos logo!" Berrou



A sala do trono estava apinhada de guerreiros e anões das classes nobres de Forte Dourado. A Ordem da Liberdade estava perto do rei, ao lado de Kraig. Baltok Mão de Machado estava sentado em seu trono de pedra, observando a multidão que falava sem parar. Então, as grandes portas do salão foram abertas pelos guardas e todos os anões se calaram. Uma figura esguía passou pelas portas. Seus cabelos brancos eram curtos, muito curtos, e suas orelhas eram pontiagudas e estranhamente longas. Tinha a pele negra, como todos os drows, e olhos totalmente vermelhos. Vestia roupas caras e muitas jóias e não portava arma alguma.

O silêncio no salão era sepulcral e apenas os passos do drow ressoavam no lugar. O elfo-negro caminhou até o centro da sala, observando a multidão de anões e lançando olhadelas pelo salão. Enfim, o drow chegou até uma distância de menos de dez metros do trono. Ele olhou para a direita e viu a Ordem da Liberdade. Um sorriso sarcástico se formou em seus lábios ao ver o grupo formado por uma elfa, uma meio-elfa e dois eladrins. O gnomo não chamou tanto sua atenção. O arauto dos drows voltou-se para Baltok, o rei e então sorriu novamente.
O drow fez uma reverência exagerada, abaixando-se até que seu nariz quase tocasse o chão.

"Ó majestade, rei Baltok Mão de Machado, rei dos anões, senhor de Forte Dourado, poderoso adversário e justo governante..."Disse ele enquanto levantava o olhar na direção do rei. "Meu nome é Zarak e sou o mensageiro de minha senhora, a rainha das aranhas, aquela que dança diante da sombra de Lolth, nossa progenitora."

Os anões continuavam em silêncio mas uma cusparada de Kraig no chão chamou a atenção de muitos deles, que repetiram o gesto.

O drow ignorou a provocação e continuou. "Ó senhor dos anões. Minha senhora incumbiu-me de trazer palavras justas e uma proposta de paz..."Essa última palavra foi dita com um sorriso no rosto e gestos afetados. "Minha senhora pede apenas que, como seres simples que são, aceitem o domínio da raça nobre e poderosa dos drows, tornando-se um protetorado."

Baltok fechou os punhos. estava visivelmente irritado com o drow e sua proposta. No entanto, esboçou uma certa tranquilidade quando sua voz de trovão ressoou pelo salão de pedra.

"Diga, drow, porque veio aqui sabendo que meu povo nunca se renderá aos drows? Diga porque está me fazendo perder tempo com uma proposta como essa?" Disse o rei

"Majestade, ó grandioso e poderoso senhor de Forte Dourado, minha senhora quer o bem estar de seu povo. Ela exige apenas total obediência e assim, todos serão poupados da morte nos poços de aranhas. Assim continuarão vivendo em sua fortaleza mas como servos de uma raça superior." Respondeu Zarak

"Essa é nossa única opção?"Perguntou Baltok Mão de Machado

"Majestade, há uma segunda opção. Minha senhora diz que, caso não aceite servir aos gloriosos drows, poderão deixar Forte Dourado e partir. Todo o seu povo poderá deixar a cidade em paz, desde que não ousem atacar um drow sequer." Disse o mensageiro

A multidão começou a murmurar e muitos chegaram a reclamar. Alguns gritaram xingamentos direcionados ao drow e outros avançaram mas logo foram retidos por seus companheiros.

"Então, ó poderoso rei...que mensagem devo levar à senhora das aranhas?" Perguntou Zarak sorrindo como sempre

"Diga...diga que Baltok Mão de Machado, filho de Kroj o Impiedoso e senhor de Forte Dourado dará uma resposta ao amanhecer. Agora vá, drow." Disse o rei mantendo a calma

O drow fez uma longa reverência e então lançou outro olhar na direção dos eladrins presentes. "Majestade, aguardaremos sua resposta..." E então deixou o salão andando a passos largos, enquanto o murmúrio da multidão se transformava em caos.



Troban era um guarda jovem. O anão estava em seu turno na muralha no ponto mais alto de Forte Dourado. Ele brandia uma lança e estava sonolento mas de vez em quando parava para observar pela amurada. Abaixo, o acampamento drow estava cheio de pequenas luzes de fogueiras. O vento batia forte na muralha. Troban bocejou e esticou os braços e então uma pequena sombra saltou em sua direção. O halfling agarrou-se às costas do anão e antes que ele pudesse gritar por ajuda, colocou um pedaço de pano molhado sobre sua boca e nariz. O anão debateu-se por alguns segundos e então caiu inconsciente. Linfur sorriu enquanto guardava o pedaço de tecido.

"Ele não está morto. O que você fez?" Disse Keyra, saíndo das sombras

"Uma pequena poção. Segredos de profissão, garota." respondeu o halfling

"Hum...e agora?" Perguntou a meio-elfa

"Agora brindamos aos deuses com a poção de invisibilidade, descemos pelas cordas até a ponte, atravessamos e matamos alguns drows em seu acampamento." Disse Linfur tirando do cinto um pequeno vidro contendo a poção.

Keyra sorriu ao som dos pequenos frascos se chocando levemente. Os dois ladinos beberam e em segundos estavam completamente invisíveis. Duas cordas, firmemente amarradas foram arremessadas muralha abaixo e somente a ponta delas chegou até o chão. Linfur havia calculado bem quando juntara mais de três cordas longas. O vento parecia balançar as cordas mas na verdade eram Keyra e Linfurm invisíveis. Ao chegar ao final da longa descida, cada um seguiu seu caminho, atravessando em silêncio a ponte.
Keyra notou que, além dos guardas drows, havia na ponte um conjunto de barris com um cheiro forte. Longas cordas saíam dos barris e caíam pela amurada lateral da ponte de pedra. Keyra dependurou-se para verificar e percebeu que mais alguns barris estavam amarrados na parte inferior da ponte.

A meio-elfa seguiu, entrando no acampamento drow. Soldados por toda parte. Alguns ao redor de fogueiras, outros afiando armas e treinando. Keyra havia esquecido que a noite era para os elfos-negros o período de atividade. Mas não havia apenas drows. Ogros, orcs, duergars e gnolls estavam também entre as fileiras do exército maligno. Keyra começava a perguntar-se se o plano secreto de Linfur havia sido realmente uma boa idéia.
Ninguém sabia que Keyra havia deixado Forte Dourado com Linfur. Ninguém a não ser Soveliss, para quem a meio-elfa sempre contava essas coisas.

Uma tenda maior e mais iluminada chamou a atenção da ladina. Ela percebeu um enorme guarda meio-orc e decidiu contorná-la para tentar entrar sem ser notada. Apesar de estar invisível, Keyra sabia que poderia ser percebida. A ladina chegou na parte de trás da tenda e, usando sua adaga, abriu um corte no tecido grosso e assim entrou. Estava atrás de um dos postes de madeira que sustentavam a tenda. Havia uma mesa de madeira, baús e uma montanha de almofadas de cores diferentes, bastante ornamentadas. De pé, diante das almofadas, estava uma drow.
A mulher usava um vestido translúcido e algumas jóias. Era muito bonita e emanava um ar de superioridade. Ela estava conversando com um drow. Keyra sorriu ao reconhecer o mensageiro afetado que havia estado na sala do trono dos anões, horas antes. Os dois falavam na língua do subterrãneo, que Keyra dominava bem.

"Então Zarak. O que diz o inseto?" Perguntou a mulher

"Minha senhora. O rei dos anões é duro como as montanhas, seco como o deserto mas tem um coração mole e um senso de dever enorme para com seu povo. Ele irá render-se, certamente."Respondeu o drow

"Está certo disso, draegloth?" Insistiu ela

"Mas é claro, ó alteza entre as altezas." Respondeu Zarak

Keyra tentou lembrar-se da palavra 'draegloth' mas não conseguiu. Talvez fosse o nome de uma casa ou apenas um título. Ela se manteve em silêncio enquanto os dois conversavam.

"Minha senhora, em todo caso, vamos exterminar os anões pela manhã, quando o tolo rei se entregar." Disse Zarak

"Logicamente, draegloth. Eu quero a cabeça dele numa bandeja de prata. Melhor ainda, de mithral." Disse a mulher sorrindo "Muito bem, você pode ir." Completou

Zarak fez uma longa reverência e deixou a tenda. Keyra foi até a entrada e observou o drow. Este havia parado para falar com o guarda.

"Ainda sendo um guarda? Sempre ridículo, mestiço." Disse o drow

"E voce, sempre um menino de recados, draegloth." Respondeu o meio-orc

"Não me teste...nunca comi carne de meio-orcs...posso começar." Disse Zarak tranquilamente. "Até breve, impuro." Finalizou

Então, Keyra viu algo estranho e aterrorizante. Zarak se contorceu e por alguns instantes sua pele se esticou. A pele negra começou a resgar como se nao pudesse comportar o tamanho do corpo de Zarak. Grandes braços com garras descomunais, dois braços menores na barriga e uma cabeça que parecia uma mistura de drow com morcego surgiram. Zarak, ou a coisa que havia sido o drow, rosnou para o meio-orc e então duas asas brotaram de suas costas. A criatura apontou para o guarda e pareceu gargalhar. Então, bateu as enormes asas de couro e desapareceu no céu estrelado.

O meio-orc resmungou e contiuou vigiando a entrada. Keyra voltou sua atenção para a mulher dentro da tenda. Ela estava completamente nua. Keyra sabia que as sacerdotizas drows costumavam fazer um ritual que encolvia orgias com vários machos e que Lolth, a deus aracnídea dos elfos-negros apreciava isso. A ladina imaginou que a drow estivesse esperando seus seguidores. Para Keyra, a mulher era a líder do expercito e sua morte seria importante para prejudicar a moral dos drows. Então, sem pensar mais, Keyra arremessou sua adaga na direção da drow. A arma sibilou atingindo a sacerdotiza nas costas. Antes que esta pudesse gritar, Keyra estava atrás dela, visível e empunhando outra adaga, cuja lâmina tocou o pescoço da mulher.

"Morra, drow maldita." Sussurrou Keyra e então a adaga abriu a garganta da drow

A mulher engasgou com o próprio sangue e virou-se para encarar Keyra, que a segurava. A ladina deixou que a drow visse seu rosto.
Passos e vozes se aproximavam e Keyra pensou rapido. Sacou a pequena esfera de onix que levava sempre consigo e, sussurrando as palavras mágicas, transformou-se num drow. Quando cinco outros elfos-negros entraram na tenda, Keyra, sem virar-se para eles, falou, tentando parecer intimidadora como a mulher que jazia em seus braços.

"Saiam daqui. Já tenho o que preciso. Vão, machos idiotas!"Disse ela na língua dos drows

Os cinco ouviram a voz de uma mulher e não perceberam que era o 'homem' quem havia falado. Pedindo desculpas pela intromissão, os elfos-negros saíram. Keyra então soltou a sacerdotiza sobre as almofadas e tentou achar algo de valor. Nada chamou sua atenção e ela resolveu ir embora antes que o corpo fosse descoberto. A ladina, disfarçada de drow, saiu pela mesma fenda aberta nos fundos da tenda e minutos depois havia grande alvoroço no acampamento. Outros drows haviam sido encontrados mortos e logo a mulher também seria.
Keyra correu, escondendo-se entre as pedras mas foi vista por um elfo-negro que vestia uma armadura negra, com detalhes em dourado. Ela arremessou a adaga mas esta apenas resvalou no rosto do inimigo, retornando em seguida às suas mãos.

"Intruso..."Disse o drow e este correu na direção do falso elfo-negro.

Keyra não pensou duas vezes. Correu e direção à ponte. Tentando não ser vista por outros guardas. Por sorte, a habilidade de Keyra de mesclar-se às sombras fez com que conseguisse despistar o seu algoz. Logo a meio-elfa estava esgueirando-se em direção à muralha. Ao chegar, porém, deparou-se com um drow que havia encontrado as cordas.

"Maldição..."Pensou ela e então algo aconteceu. Linfur saltou sobre o drow, cortando-lhe a garganta num golpe certeiro de suas adagas.

"Belo trabalho garota. Agora vamos subir antes que mais deles encontrem as cordas e subam." Disse o halfling

Rapidamente os dois subiram de volta e puxaram as cordas para cima. Haviam causado um belo estrago e certamente a manhã seguinte seria vantajosa para os anões.




Era de manhã quando centenas de drows avançaram para perto da ponte que ligava as muralhas de Forte Dourado ao desfiladeiro nas montanhas. Drows subiam nas amuradas e gargalhavam enquanto mijavam sobre as estátuas de anões que guardavam o local. Um grupo grande de anões cinzentos, os temidos duergars, martelava seus escudos com suas armas, desafiando seus primos distantes. Aranhas do tamanho de cães de guerra rastejavam pela ponte sob o comando de mulheres drows armadas apenas com o símbolo nefasto de sua deusa, Lolth.
Um drow, cujo rosto mostrava um corte recente, avançou alguns metros à frente do exército e falou na língua comum.

"Vão ficar aí dentro escondendo-se, porcos?" Gritou o drow "Seu rei de merda vai ficar atrás das grandes muralhas até que os matemos de fome?" Perguntou "Saiam do buraco fedorento em que vivem e vamos matar somente a metade de vocês! A outra metade irá nos servir como escravos que já foram no passado para os gigantes do fogo! Vamos anões! Saiam daí e mostrem suas barbas cheias de piolhos!" Gritou uma vez mais

Forte Dourado continuava em silêncio e apenas as bandeiras tremulando no topo da cidade anã faziam algum som. O general drow gargalhou e virou-se para seus homens e falou, ainda em comum.

"Viram? Covardes! Se escondem atrás da muralha como ratos!" Vociferou o drow ainda rindo e então ouviu-se um estrondo.

O som de metal chocando-se contra metal e das enormes engrenagens dos portões de ferro ecoou enquanto o general dos elfos-negros se voltava para Forte Dourado. Um anão saiu pelo portão, empunhando o estandarte real. Era o capitão Gundur. Atrás dele, centenas de anões começaram a sair e a formar uma coluna de machados, martelos, lanças e escudos do outro lado da ponte. Gundur levantou um chifre dourado e assoprou com força entoando um chamado de guerra. Mais e mais anões se posicionavam enquanto o general drow gargalhava. Logo a coluna de anões estava formada e havia dragoborns entre eles. Um deles, Medrash, estava lado a lado com Arannis. Adrie estava perto deles e Ecniv estava atrás. Keyra havia sacado suas armas e estava sobre a amurada leste. Soveliss saiu pela porta ao lado de sua amada Damara e do príncipe Kraig. O eladrin beijou a humana de cabelos ruivos e teleportou-se para cima de uma das grandes estátuas da ponte.

Os Irmãos de Sangue e a Ordem da Liberdade estavam prontos, lado a lado com os guerreiros de Forte Dourado quando as trombetas soaram novamente. Um corredor de anões abriu-se enquanto Baltok Mão de Machado passava. Ele usava uma armadura de placas digna dos grandes guerreiros do passado. Seu elmo, fechado nas laterais mas aberto na frente ostentava um par de asas de águia. Sua longa barba estava trançada e em suas mãos havia um escudo com o brasão jde sua família e um cetro escuro com ornamentos de prata. Baltok parou diante do exército anão e bateu o cetro no chão. Chamas azuis irromperam numa das pontas do certo, formando uma lâmina de machado flamejante. Ao ver isso, os guerreiros anões gritaram seu nome.

"Por Forte Dourado e Moradin!" Gritou o rei

Arannis colocou seu elmo e fez uma prece a Avandra. Keyra beijou sua espada e Adrie pensou em Melora, sua divindade. Soveliss sorriu enquanto sacava seu orbe mágico e Ecniv empunhou sua espada elétrica e sorriu.

"POR FORTE DOURADO, MORADIN E BALTOK!!!" Gritaram todos os anões e a linha de escudos avançou para enfrentar os elfos-negros.

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