sábado, 25 de dezembro de 2010

O Mistério de Galan

Era de manhã quando o Aurora atracou no pequeno cais da aldeia pesqueira de Galan, ao norte de Ilíria. Apesar de ser um dia de verão, havia grandes nuvens escuras sobre o vilarejo e a floresta além dele. Uma tênue mas persistente névoa matinal parecia encobrir o vilarejo a beira mar. Halmar guiou a embarcação com facilidade enquanto a Ordem da Liberdade se mantinha atenta no convés. O navio mercante atracou e dois marinheiros saltaram rapidamente com grandes cordas, amarrando o Aurora firmemente.

"Vilarejo estranho. As pessoas não parecem amistosas." Disse Adrie baixinho

"O que foi?"Perguntou Soveliss

"Nada...apenas...pensei alto."Respondeu a elfa

O grupo desembarcou logo depois do capitão do navio. Os marinheiros desceram alguns fardos de grãos, peles de lontra, peixe seco e ossos de baleia, comprados nas longíncuas ilhas do norte.

"Halmar, esta é a última parada antes de Ilíria?"Perguntou Arannis enquanto ajeitava o cinto da espada

"Sim. Não devemos demorar muito aqui. Depois vamos contornar a península e continuar descendo pela costa até Ilíria. Acho que serão mais alguns dias. Uns três a quatro se o vento ajudar." Respondeu o capitão

"Certo. Nós vamos esticar as pernas um pouco, se não se importa."Disse o paladino de Avandra

"Fiquem à vontade. Devo falar com algumas pessoas e fazer alguns negócios. Talvez durmamos aqui esta noite."Disse Halmar

Os aventureiros estavam no cais quando viram que a maioria dos aldeões não se aproximavam do barco recém chegado. Havia nas pessoas um olhar de desconfiança misturado com um tom de tristeza.

"Keyra, acho melhor irmos juntos até uma hospedaria e...Keyra?"Perguntou Arannis quando viu que a ladina havia desaparecido, como costumava fazer.






"Hola! Eu quero uma cerveja e algo para comer. O que tem de bom?" Perguntou Keyra à moça atrás do balcão

"Temos...peixe seco e pão moça."Respondeu a mulher

"Ótimo. Quero isso. As coisas são sempre paradas assim por aqui? Aliás, onde é aqui? Como se chama este lugar?" Disse a ladina enquanto bebia cerveja quente

"Galan moça. Esta aldeia se chama Galan."Respondeu a taberneira sem ânimo

Keyra estava sozinha no balcão da pequena taberna de Galan. Era um pequeno salão de madeira com uma lareira de pedra. Apenas duas mesas com seis pequenos bancos e uma cozinha quente e cheia de fumaça. A taberneira, uma humana de seus trinta anos, era magra e tinha um olhar perdido. No fundo da taberna, numa das mesas, três pescadores conversavam e de tempos em tempos olhavam na direção da meio-elfa.

"Então. Tem quartos aqui? Eu e meus amigos estamos pensando em passar a noite aqui e depois seguir viagem." Disse Keyra enquanto espiava sutilmente os homens à mesa.

"Não moça. Vocês...não devem...nãot em lugar aqui para vocês."Disse a mulher demonstrando um nervosismo até então oculto.

"Como assim?" Perguntou Keyra

A mulher aproximou-se da ladina e falou baixo. "Moça. Vão embora. Não devem ficar aqui ao anoitecer." A taberneira percebeu que os três homens observavam e sussurrou ao ouvido de Keyra. "Vão embora antes do anoitecer. Vão e ficarão bem."

Os homens levantaram-se e sairam da taberna. Keyra ficou intrigada e quando se preparava para seguí-los, viu que Arannis e os demais estavam chegando.

O paladino viu os três e percebeu que Keyra apontava discretamente para estes. Então, sem perder tempo, segurou um dos homens pelo braço. Em seguida, olhou para Keyra e fez sinal para que esta os seguisse. A ladina piscou e saiu da taberna.

"Amigo, somos a Ordem da Liberdade. Percebo que estão com algum problema. Podemos ajudar?" Perguntou o paladino

O homem ficou com medo e olhou para seus companheiros. Estes deixaram a taberna.

"Senhor, por favor, eu não...não...está tudo bem. Sério."Disse o pescador quase que implorando

"Tem certeza homem?" Perguntou Arannis olhando nos olhos do aldeão

"Er...sim eu..." O homem sentiu-se compelido a falar quando notou que Arannis não o soltaria enquanto não contasse o que estava acontecendo na aldeia. "Senhor. Aqui não. Eu os encontro no cais em duas horas."

"Certo. estaremos lá." Disse o paladino soltando-o

O homem acenou e saiu correndo pela porta.





Keyra chegou à rua e viu que os homens estavam deixando o vilarejo em direção à floresta. A ladina tirou da bolsa mágica a esfera de disfarce, sussurrou as palavras mágicas e em seguida transformou-se num camponês qualquer. Puxou o capuz, cobrindo o rosto e seguiu os homens discretamente, quase desaparecendo nas ruas da pequena aldeia.

Dez minutos depois, os dois homens entravam no pequeno e fantasmagórico bosque de Galan. A névoa continuava e cobria os pés e joelhos dos homens que se embrenhavam pela mata. Atrás deles, um camponês os seguia.
Keyra perdeu a noção do tempo que se passou. Talvez uma hora de caminhada. Os dois homens pararam ao lado de um altar de pedras que parecia bem antigo. Keyra escondeu-se atrás de um tronco caído.
Havia uma pequena estátua de um demônio obeso com pequenas asas de morcego e uma horrenda boca cheia de dentes pontiagudos. Keyra teve um sobressalto mas ficou tranquila ao ver que era apenas uma estátua coberta de limo.

Os homens ajoelharam-se diante do altar e começaram a recitar algo numa língua estranha. Minutos depois, uma imagem surgiu acima do altar. Era uma esfera de névoas azuladas. Dentro da esfera, o rosto de uma mulher tiefling surgiu.

"Senhora...nós...há estranhos na aldeia." Disse o mais velho dos dois

"Estranhos? Que tipo de estranhos? Mercadores?"Perguntou a mulher

"Também senhora. Mas há um grupo de aventureiros. Estão fazendo perguntas..."Respondeu o homem

"Hum...aventureiros. Continuem o trabalho como ordenei e deixem que os aventureiros venham até mim. Eu cuidarei muito bem deles." Disse a tiefling rindo

"Sim senhora...como desejar." Disseram os dois homens ao mesmo tempo

"Agora vão..."Disse a mulher desaparecendo

Keyra esperou por algum tempo e então voltou para Galan, quando os homens já estavam longe.
Ao chegar, encontrou a Ordem da Liberdade.

"Encontrei algo." Disse ela, esquecendo-se de que ainda parecia um camponês

"Pois não?" Disse Soveliss educadamente

"Eu disse que encontrei algo e...ah...certo." Disse Keyra voltando à sua forma normal "Gente, segui aqueles dois até o bosque. Tem um altar...e é um lugar sinistro. Tem manchas de sangue. Também vi uma mulher. Uma tiefling. Parece que é ela quem manda aqui."

"Vamos até lá. Eu estou ficando cansado de não ter respostas. Este lugar precisa claramente de ajuda e ninguém quer cooperar." Disse Arannis

Keyra guiou seus amigos até a floresta. Estavam quase entrando quando Adrie parou, tocou o solo e algumas plantas mortas.

"Isto...esta neblina...não é natural. As nuvens de chuva também não o são. Tem algo muito errado com esta floresta." Disse a elfa

"Mais uma razão para entrarmos." Disse Arannis. "Murmur, proteja a retaguarda. Eu e Adrie vamos à frente com Keyra guiando. Soveliss, você e Hans fiquem no centro da formação. Kubik, fique atrás de Hans." Disse o líder do grupo sacando sua espada.

A Ordem da Liberdade seguiu pela floresta. Caminharam por muito tempo e para Keyra parecia tudo diferente. Já haviam passado mais de duas horas e nada de encontrarem a pequena estátua de demônio que Keyra havia marcado como sinal de proximidade ao altar.

"Estranho. Quando vim, levei apenas trinta minutos."Disse a ladina

O grupo chegou ao altar. Adrie e Soveliss o examinaram e encontraram apenas manchas de sangue e pequenos ossos de animais espalhados pela clareira.

"Eu posso tentar fazer algo." Disse Murmur

"Tudo bem. Fiquem perto."Disse Arannis

Murmur colocou as mãos sobre o altar e fechou os olhos. O goliath ficou assim, em silêncio, por alguns minutos.

"O que ele está fazendo afinal?" Perguntou Hans impaciente

"Não faço idéia. Isso não é magia." Respondeu Soveliss intrigado

Murmur então abriu os olhos. Estes brilhavam intensamente. O goliath virou-se na direção de seus amigos e tentou falar mas sua voz não saiu. Em vez disso, imagens formaram-se na mente dos aventureiros.

Na primeira cena, um tiefling com vestes élficas caminhava pelo local do altar. Era um homem alto de pele vermelha e chifres longos. Levava um arco que chamou a atenção dos herois. Era feito de prata extremamente polida. Uma menina, também tiefling, caminhava ao lado do homem. Este, pegou a criança e colocou-a sobre o altar. Sorriu e parecia contar uma história. A pequena tiefling sorriu de volta e, quando o homem se virou, seu sorriso transformou-se numa careta diabólica.

Murmur concentrou-se ainda mais e uma segunda cena surgiu. Destsa vez, a tiefling estava mais velha. Trazia com ela um bebê. Havia um grupo de homens amedrontados ao seu lado. A mulher usava vestes velhas e sujas e em seu cinto levava pequenos crânios de animais e crianças pequenas. Uma longa adaga estava em suas mãos e então, apoiando o bebê sobre o altar, entoou um cântico estranho. egundos depois, cravou a faca no peito da criança que chorava.
Essa ultima imagem foi forte demais e murmur gritou ao cair no chão segurando as têmporas. Os demais sentiram uma dor horrivel mas aguentaram.

"Necromancia" Disse Soveliss. "Ela pratica necromancia."

"Vamos encontrá-la." Disse Arannis. "Vamos acabar com a crueldade dessa mulher e sair daqui."Completou o paladino.

Adrie estava transformada em lobo e pareceu captar algum cheiro fora do comum. A druida uivou e correu pela floresta, seguida pelos demais.
Estranhamente, eles andaram por muito tempo e voltaram à mesma clareira.

"Magia. Mas duvido que seja coisa de necromante."Disse Soveliss fascinado com a estranha e antga floresta.

Adrie continuou farejando e os heróis a seguiram. Desta vez passaram-se poucos minutos. Ruinas surgiram diante dos aventureiros. Parecia a construção abandonada de um templo. Numa das paredes estava gravado o símbolo de uma meia lua, que Arannis reconheceu tratar-se do símbolo de Sehanine.
Os heróis estavam verificando as runas quando dois esqueletos portando arcos começaram a disparar, de dentro das ruínas.

"Desgraçados!" Gritou Hans arremessando sua lança que cravou-se no chão, prendendo um dos esqueletos pelas costelas.

O guerreiro partiu para cima dos monstros, seguido por Murmur e Arannis. Soveliss, Adrie e Keyra atacaram o outro.

O esqueleto preso ao chão conseguia desferir golpes de espada mas não era capaz de soltar-se. Alguns golpes atingiram Murmur e a criatura parecia ser imune ou resistente aos golpes dos três guerreiros. Por fim, Murmur ficou irritado, asoltou sua lança e agarrou o esqueleto pelas costas.
Acriatura urrava tentando soltar-se quando Arannis invocou o poder de Avandra e sua mão brilhou com energia radiante. O toque no peito do monstro seria suficiente para causar algum dano mas Arannis gritou: "Em nome de Avandra, eu te dou o descanso eterno! Volta para a tumba criatura!" O monstro brilhou intensamente e explodiu em pedaços de osso incandencente.

"Onde está o outro?" Perguntou Hans

"Caiu pela escada. Vamos atrás dele!" Respondeu Keyra

Os aventureiros desceram por um alçapão aberto e encontraram um corredor de pedras no subsolo. Havia uma estátua com as mãos extendidas e inscrições aos seus pés. O lugar era iluminado por uma luz azulada que vinha do final do corredor. A luz vinha de uma barreira mágica quase translúcida que impedia a passagem.

"Já vimos isso antes. Soveliss?" Disse Arannis apontando com a espada

"É pra já! Você sabe que eu sou o melhor naquilo que faço!" Disse Soveliss jogando o cabelo para trás enquanto se aproximava da parede de energia.

O eladrin concentrou-se e recitou palavras mágicas que rasgaram a barreira. O mago abriou os braços e a energia dividiu-se como uma cortina. Do outro lado, um grande grupo de mortos-vivos aguardava numa sala grande cheia de altares e estátuas. Um dos esqueletos disparou uma flecha na direção de Soveliss que fechou os olhos esperando o impacto. Porém, o som da flecha batendo no metal do escudo de seu irmão foi suficiente para restaurar a confiança do mago.

"Peguem eles!" Gritou Arannis avançando, sala adentro

A tiefling, que estava na sala atrás de um altar de pedra sorriu e gritou uma ordem aos seus esqueletos. Estes atacaram ferozmente.

A Ordem da Liberdade já havia enfrentado esqueletos antes. Todos sabiam bem como proceder. Murmur teve a excelente idéia de posicionar-se perto da necromante, atingindo vários esqueletos que a protegiam. Hans lutava contra vários inimigos de uma vez, mantendo Soveliss protegido. Keyra, como sempre, dançava a mortal dança das lâminas, saltando, cortando ossos e esquivando-se de golpes fatais. Adrie mordia em sua forma de lobo e lançava magias que tanto atrapalhavam os esqueletos como causavam dano. Soveliss sorria enquanto suas magias atingiam a tiefling, deixando-a sem oportunidade de atacar com seus próprios feitiços.

Arannis avançou afim de atingir a origem do problema, a tiefling. Não teve tantas dificuldades assim. Logo a mulher estava no chão, ensanguentada. Os esqueletos cairam.

"Quem é você e por que fez o que fez com a vila?" Perguntou Arannis com a espada na garganta da tiefling

"Meu nome...é Nimir...e eu cuspo em sua carcaça, paladino." Disse a mulher, morrendo em seguida

Os aventureiros recuperaram-se de alguns ferimentos e empilharam os ossos num canto da sala. Soveliss estava examinando a parede atrás de Nimir, onde uma estátua parecia sair da pedra.

"Acho que tem algo aqui." disse o mago

Keyra sorriu. Era seu momento. Ela adorava abrir portas e destrancar fechaduras intrincadas. Usando sua habilidade e ferramentas, a meio-elfa conseguiu destravar um mecanismo que fez com que a estátua se movesse, abrindo uma porta secreta. Uma luz branca emanava do lugar.

Os aventureiros avançaram até uma pequena sala onde um poço brilhava com energia mística. Acima dele, flutuando em pleno ar, estava um arco da mais fina prata. Soveliss sorriu e então Adrie esticou a mão e pegou a arma.
A elfa empunhou o arco que parecia não ter corda. Então, ao fazer o movimento de quem ia disparar, percebeu que um fino fio de prata servia de corda. Adrie puxou o fio e uma flecha prateada surgiu no arco.

"O arco de Sehanine...um arco lunar" Disse Arannis lembrando-se de histórias que ouvira no templo de Avandra a respeito desse tipo de armas.

"Posso...ficar com ele?" Disse Adrie sorrindo

2 comentários:

  1. Gostei bastante do clima na vila. Bem macabro. Os moradores estavam muito amedrontados. Mais um capítulo no livro da Ordem da Liberdade, que conseguiu salvar a todos.

    Pelo

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