terça-feira, 15 de março de 2011

A Estrada dos Sonhos

"À Ordem da Liberdade, aos amigos, famílias e aliados." Disse Arannis de pé, com uma taça de vinho na mão

"À Ordem da Liberdade!!!" Gritaram todos os presentes à mesa do banquete do lado de fora da torre de Mechin

A Ordem da Liberdade compartilhavam a mesa com Hans, Murmur e os jovens aventureiros que agora seguíam os ideais do grupo: Azamarul o mago, Cristalis, Salastas o clérigo de Kord, Garnet o paladino de Bahamut, Golik o anão guerreiro e Tassia a ladina. Alguns dos serviçais contratados por Ecniv enchiam os copos e traziam pedaços de cordeiro assado e grandes porções de batatas assadas.

Arannis discutia com Ecniv e Keyra o que deveriam fazer a seguir. Ele estava empenhado na idéia de procurar um pégaso para ser sua montaria e mesmo com o longo desvio promovido por Utua, o viajante, continuava firme em seu propósito. Soveliss estava cabisbaixo e brincava com sua comida, pensativo. Adrie estava ao lado de Keyra, ouvindo e opinando de tempos em tempos.
Soveliss olhou na direção de Hans que agora fazia disputava uma queda de braço com Golik. As atenções da mesa se voltaram para essa disputa e a surpresa maior foi quando o grandalhão foi derrotado pelo anão.
Todos riram do momento, inclusive Hans. Mas Soveliss estava em outro lugar.

Então uma voz se ouviu. Era Damara.
Ela estava parada, ao lado de Soveliss, numa imagem difusa. Era uma mensagem arcana. Damara estava com o braço imobilizado, provavelmente quebrado e ao seu lado estava Kraig com uma atadura sobre o olho esquerdo.

"Soveliss. As coisas não estão bem. A cidade dos anões está sob ataque. Drows. Muitos deles. Precisamos de ajuda. Estou bem. Sinto sua falta, Soveliss." Disse ela no limite de vinte e cinco palavras que o ritual proporcionava e então desapareceu.

Soveliss levantou-se e olhou para seu irmão. "Arannis...ela precisa de mim. Precisa de nós, da Ordem."

"Calma irmão. Temos que pensar no que fazer." Respondeu o paladino

"Calma? Ela está ferida e Kraig também. Somente Corellon sabe o que mais pode ter acontecido!" Disse Soveliss invocando o nome da divindade élfica, o que fazia raramente

"Calma. Sim. Vamos pensar nisso até amanhã. Não adianta sairmos daqui sem um plano." Disse Arannis colocando sua mão direita sobre o ombro de Soveliss. "Amanhã. Confie em mim." Completou

Depois do banquete, a Ordem da Liberdade espalhou-se pela torre de Mechin. Ecniv dormiu no topo da torre, pensando em planos para Mechin, que ele costumava chamar de 'fortaleza' de Mechin.

A noite foi agitada pois os aventureiros tiveram sonhos perturbadores.

Keyra se viu num túnel quase interminável. Depois o caminho se abria e duas meninas loiras, gêmeas, apareciam. Em seguida, uma delas ficava para trás, chorando, enquanto a outra avançava em sua direção, ficando mais velha, até se tornar adulta. Então, a jovem loira com um olhar terrível estendeu sua mão na direção da ladina e disse "Finalmente!".

Arannis sonhou algo parecido. Mas em seu sonho, quem surgia era um guerreiro selvagem de cabelos e barba vermelha, com um machado nas mãos e feridas por todo o corpo. Este apontou para o paladino e disse "Vingança!".

Ecniv, dormindo ao relento no alto da torre, sonhou com um caminho apertado e escuro. No fim deste, Vince, seu irmão gêmeo, surgiu e disse "Morra!".

Soveliss sonhou com Damara. Esta parecia muito ferida. No fim, depois de um longo caminho até ela, sua imagem mudava e esta se transformava em Agrom-Vimak que abriu os braços na direção do mago e disse "Fuja!".

Adrie sonhou com um túnel escuro que parecia descer cada vez mais até o mundo subterrâneo. No fim do caminho surgiu o drow conhecido por ela como Pesadelo. Este sorriu e disse "Bu!". Ela acordou com medo. Pesadelo sabia que Adrie o temia. Disso a elfa tinha certeza.

No dia seguinte, os aventureiros partiram deixando instruções com Hans e Murmur. Azamarul e seus companheiros emprestaram cinco cavalos aos heróis e estes deixaram Mechin logo pela manhã. Os aventureiros pouco falaram durante a primeira parte da viagem, ainda com as imagens dos pesadelos em suas mentes. Depois de um tempo, Arannis reuniu forças e comentou seu sonho com os demais. Logo estavam todos falando sobre suas experiências, bastante preocupados. O clima se tornou pesado e Adrie sentiu que devia fazer algo para mudar de assunto.

"Para as montanhas. Os pégasos costumam ficar lá."Disse ela andando à frente. Em seguida a druida transformou-se em lobo e correu adiante

Os aventureiros sabiam que os cavalos alados eram comuns nas montanhas além da Floresta Castanha mas quando Kubik, o goblin, disse que sabia exatamente onde encontrá-los, Arannis imaginou que isso seria um sinal de que Avandra os estava guiando na direção certa.
A viagem pelas pastagens de Ilíria até o sul da Floresta Castanha era tranquila. Nada além de alguns rebanhos e fazendas isoladas, colinas verdes e pequenos bosques. Dois dias depois já era possível vislumbrar a enorme floresta e as montanhas azuladas ao longe.

Adrie avistou alguém andando adiante e transformou-se em corvo para investigar. A elfa passou voando por cima de um homem que caminhava sozinho, em direção da floresta. Não parecia estar armado, a não ser pelo cajado de caminhada que levava consigo. Adrie retornou e, transformando-se em elfa novamente, disse aos seus amigos o que havia visto.
O grupo continuou até alcançar o viajante que os cumprimentou.

"Bom dia." Disse ele sorrindo. Era um homem baixo, de cabelos castanhos e rosto limpo. Vestia-se com simplicidade e levava consigo apenas uma mochila.

"Bom dia." Responderam os aventureiros seguindo em frente

Em alguns minutos, o viajante não passava de um ponto no horizonte.



O sol estava quase desaparecendo quando os aventureiros chegaram à orla da floresta. Não estavam muito cansados mas decidiram acampar e entrar na antiga Floresta Castanha somente ao amanhecer. Todos foram dormir e Arannis ficou de guarda. Depois de algumas horas, o paladino ouviu passos e preparou sua espada mas viu que se tratava do mesmo viajante que haviam encontrado horas atrás.

"Boa noite. Desculpe chegar assim, em silêncio. Eu vi vocês acampados e decidi aproximar-me. Uma fogueira e companhia numa noite fria no meio do nada são coisas bem vindas." Disse o homem

Arannis analizou o viajante por alguns instantes e concluiu que este não representava ameaça. "Por favor, sente-se. Estou no turno de guarda e conversar seria ótimo." Disse ele.

O homem sentou-se ao lado de Arannis e comeu pão de viagem. O eladrin lhe ofereceu uma maçã e o estranho aceitou prontamente. O silêncio imperou por alguns instantes e então o paladino decidiu perguntar.

"O que faz por aqui sozinho? Tem negócios na floresta? Com os elfos talvez?" Perguntou

"Não não. Meu caminho me leva para a Floresta Castanha mas sou um andarilho. Vou para onde os ventos me levam e a sorte me guía." Respondeu o homem com a boca cheia

"A sorte?" Perguntou Arannis

"Avandra. Sou grato a ela pelos caminhos que escolhe ao acaso para mim. Vejo que é um seguidor da divindade dos viajantes." Disse o homem apontando para o símbolo de Avandra no pescoço de Arannis

"Sim mas eu não entendo como alguém pode viajar assim, desarmado, sozinho, apenas confiando na sorte." Disse Arannis

"Meu caro, talvez você deva acreditar mais nos preceitos de sua divindade. Ela é a sorte, a estrada e os ventos. Deixe-se levar." Disse o viajante sorrindo

Arannis pensou por alguns instantes e então olhou para o homem. este estava de pé, guardando o resto de pão na bolsa que levava.

"Já vai?" Perguntou o paladino surpreso

"Sim sim. Meu caminho é longo e é chegada a hora. Tome, espero que seja útil em sua jornada." Disse o andarilho entregando-lhe um embrulho de pano "É um presente simples mas sincero." Disse este apertando a mão do eladrin.

O viajante foi embora, desaparecendo na escuridão. Arannis ficou olhando naquela direção por alguns instantes e então abriu o embrulho de pano. Dentro estava um medalhão de madeira entalhada com o símbolo sagrado de Avandra. O paladino sorriu, e fitou o pequeno objeto por um bom tempo. Para ele, era um sinal.




Estava amanhecendo quando a Ordem da Liberdade entrou na antiga floresta. Adrie ia na frente pois conhecia grande parte do caminho. Kubik ia ao seu lado pois havia nascido naquela região e também a conhecia. Os demais, seguiam com os cavalos numa fila longa. A floresta era escura e as grandes árvores e o som das criaturas silvestres fizeram com que Adrie se sentisse em casa pela primeira vez em meses. Ela caminha, às vezes em forma de lobo, às vezes em sua forma élfica. Estava feliz por estar em casa, mesmo que fosse apenas uma questão de tempo até deixarem a Floresta Castanha.

O grupo seguiu por uma trilha que os levou para perto das Ruínas Brancas, um local assombrado pelo qual o grupo havia passado em suas primeiras aventuras. Todos pararam menos Ecniv. O gnomo olhou para trás enquanto os demais observavam as ruínas antigas relembrando o passado.

"Ruínas. Estão pensando em explorá-las? Eu até gostaria mas acho que temos pressa." Disse ele

"Estas ruínas. Nós já as exploramos. Muito tempo atrás, antes de conhecer você, quando...quando Medrash ainda estava conosco." Disse Keyra

"Sim. Muito tempo atrás, um ano ou mais talvez." Disse Soveliss pensativo

"Vamos. Este lugar ainda é perigoso." Disse Arannis passando por eles em seu cavalo

Dias depois os aventureiros chegaram a Duaspedras. Todos sorriram ao rever o vilarejo onde haviam se tornado um grupo de aventureiros. Estava exatamente como o haviam deixado. Pacífico e seguindo sua vida normal, independente dos eventos que assolavam o reino. Uma figura conhecida, com apenas uma perna e uma velha muleta de carvalho surgiu na rua principal da aldeia.

"Bom dia Ben." Disse Arannis sorrindo

"Ora se não são os nossos heróis!" Disse o líder de Duaspedras batendo gentilmente no pescoço do cavalo do paladino "O que os trouxe até aqui, meus amigos?"

"Estamos apenas de passagem. Vamos para as montanhas. Como estão as coisas aqui? Alguma novidade?" Perguntou o paladino

"Tivemos um grupo de sulistas que tentou saquear a aldeia mas uns aventureiros estavam por aqui e tudo ficou resolvido." Disse Ben

"Fico feliz. Precisamos seguir nosso caminho e acho que um pouco de água do poço da aldeia nos será bem útil." Disse o eladrin descendo do cavalo

"Arannis, acho que talvez seja melhor deixar os cavalos aqui. O caminho até as montanhas é mais complicado." Disse Adrie

"Tem razão. Ben, quer umas montarias um pouco cansadas?" Perguntou Arannis

"Não posso aceitar, meu caro. Mas se quiser, podem deixá-las aqui e pegá-las na volta." Respondeu o camponês

"Certo. Obrigado. Vamos pegar água no poço e seguir nosso caminho. Obrigado mais uma vez Ben." Disse Arannis

O grupo deixou Duaspedras ainda com vontade de descansar no Dragão Hébrio, a única taverna e hospedaria da aldeia. Horas depois estavam no meio da Floresta Castanha novamente. Depois de mais alguns dias, o grupo chegou perto das montanhas. A jornada havia sido longa mas tranquila. Foi então que, numa noite, todos tiveram o mesmo sonho.

Estavam todos juntos, numa longa estrada no meio do nada. Podiam falar uns com os outros e estavam conscientes de que aquilo era um sonho. Seguiram pela estrada de terra até uma bifurcação. Um caminho continuava tranquilo, com a estrada bem feita e marcada no meio do pasto. O outro descia tortuoso por uma trilha íngreme e cheia de pedras. Entre as duas estradas havia um poste de madeira com pequenas placas contendo o nome de cada um dos membros da Ordem da Liberdade. Cada placa tinha duas pontas em forma de setas indicando para os dois caminhos.

"Temos que escolher." Disse Adrie

"Sim...mas qual caminho?" Perguntou Soveliss olhando para seu irmão

"O mais fácil ou o mais tortuoso?" Perguntou-se Arannis

"Porque não vamos pelo do meio, ora?" Disse Ecniv rindo "É só um sonho!"

Subitamente, uma voz familiar foi ouvida pelos aventureiros e ali, ao lado deles estava o andarilho. "Escolhas são difíceis não é? Que caminho seguir? O que dizer? Tantas perguntas e tantas respostas diferentes..." disse ele

O homem estava tranquilo e sua voz pareceu confortar os corações dos membros da Ordem da Liberdade. "Não posso influenciar vocês. Escolham o caminho e deixem que a sorte diga se foi a escolha certa ou não."

Keyra permanecia em silêncio enquanto os demais argumentavam. Então tomou sua decisão. Pegou uma de suas adagas e a jogou para o alto. A ponta caiu na direção do caminho mais difícil.

"Eu vou por aqui. Vocês vão me seguir?" Disse a ladina entrando na trilha ruim.

"Viram? Nunca é tão difícil assim. Boa escolha." Disse o andarilho, desaparecendo lentamente no ar

Automáticamente, a placa com o nome de Keyra ficou com apenas uma seta, a que apontava na direção escolhida. os demais olharam para a meio-elfa e a seguiram. Somente Ecniv ficou em dúvida por alguns minutos.

"Você vem?" Perguntou Soveliss

"Certo...estava só pensando em alternativas." Disse o gnomo unindo-se ao grupo

A Ordem da Liberdade continuou pela trilha, tropeçando de tempos em tempos. Logo a estrada transformou-se num túnel escuro. Ninguém além de Adrie enxergava à frente tochas ou bastões solares não funcionavam. Os aventureiros deram as mãos, com Adrie guiando-os pelo túnel de pedra. O caminho se parecia com todos os que haviam aparecido nos sonhos de cada um. Estavam claramente com medo de encontrar as pessoas vistas em seus respectivos pesadelos.

Porém, depois de uma longa caminhada, o grupo chegou ao fim do túnel. Uma porta se abriu e estes estavam num campo verde interminável. Um homem em armadura vermelha com longos espinhos nas ombreiras e um elmo terrível os aguardava.

"Agrom-Vimak!" Gritou Arannis

Os aventureiros sacaram suas armas mas foi Adrie quem agiu primeiro. Uma flecha de seu arco longo cruzou o ar e atingiu Agrom-Vimak no peito. Este pareceu surpreso ao retirar seu elmo demoníaco. O vilão olhou na direção do grupo e sua armadura desapareceu quando seu elmo caiu no chão ruidosamente. A flecha em seu peito se desfez no ar em seguida. Era apenas um homem, um camponês de cabeça raspada e olhar tranquilo.
Agrom-Vimak caiu de joelhos e sorriu.

"Obrigado..." Disse ele antes de cair morto

Então os aventureiros despertaram. Estavam de volta ao seu acampamento.

"O que foi aquilo?" Perguntou Ecniv assustado

"Não sei mas vamos descobrir." Respondeu Arannis

Horas depois quando estavam quase chegando às montanhas, o pensamento do grupo estava fixo no sonho que tiveram. Talvez isso tenha feito com que não percebessem a emboscada.
Das sombras surgiu um drow com duas kukris, as adagas curvas. Este saltou sobre Soveliss e o feriu no ombro. Era Espectro, o assassino.
Acima, nas pedras das montanhas estava um drow com um elmo de caveira negra.

"Pesadelo..."Disse Adrie baixinho sem esconder seu medo

Uma outra figura com armadura de metal surgiu nas rochas. Era uma jovem de cabelos loiros e olhos azuis. Tinha uma aura terrível e carregava o símbolo de Bane no peito. Ao seu lado estava um homem alto e forte vestindo peles de lobo e urso. Tinha barba e cabelos vermelhos e olhos mortos. Seu machado pingava sangue.
Atrás deles, numa distância segura, estava um gythzerai que claramente era um mago, considerando a varinha mágica em sua mão esquerda.

Os aventureiros demoraram alguns segundos para reconhecer o bárbaro com o machado.

"Mi...Mikal?" Perguntou Arannis "Mas você morreu há um ano! Que aberração demoníaca é essa?!"

"Eu mesmo...vocês me deixaram morrer, aventureiros. Agora me trouxeram de volta para matar vocês!" Disse ele gargalhando

Arannis encarava a clériga de Bane e por alguns segundos pareceu querer desistir da luta.

"Ania. Nós deixamos você num lugar seguro...Nós pedimos que ouvisse a razão."Disse Keyra triste. "Nós queriamos que deixasse a vingança de lado." Completou

"Seguro? Me deixaram longe da minha vingança! Me deixaram para ser transformada num cordeirinho!" Gritou a mulher

"Você era uma criança!" Interrompeu Keyra "Você...você...como você ficou mais velha que eu?"

"Não importa, 'ordem da liberdade'. Hoje terei minha vingança e cumpriremos as ordens de nosso mestre." Disse Ania

"Hoje, pelo poder de Bane e em honra a Agrom-Vimak...vocês morrerão!" Disse a clériga de Bane enquanto seus companheiros se lançavam em direção aos heróis.

Um comentário:

  1. Duas coisas a ressaltar:
    1º O conhecimento do Eugenio pelos personagens e jogadores. Mesmo quando algum jogador falta, o personagem continua vivo, pois ele sabe exatamente quando entrar e COMO falar pelo personagem.. acho isso dez!
    2º O gancho do background dos personagens E inclusive pontos "soltos" que os proprios personagens deixam ser utilizado na aventura é genial!

    Em resumo... Nota MIL, Eugenio!

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