quinta-feira, 1 de abril de 2010

Enquanto isso, em Ilíria...

Kalmar era um sujeito baixo e magro. Tinha somente os dois dentes da frente e alguns molares e não tinha queixo. Seu cabelo, cinza e espetado estava começando a cair da parte superior da cabeça. Tinha olhos negros e grandes e orelhas enormes. Por tudo isso era conhecido como o Rato.

Ele era um ladrão de rua comum, conhecido por furtar coisas de pouco valor e de viver preso no quartel da guarda de Iliria. Porém, se havia algo que o Rato sabia fazer, era fugir da prisão. Havia sido jogado no calabouço pelo menos trinta vezes e em todas elas havia conseguido escapar depois de poucos dias.

O Rato estava escondido num cano de esgoto. Havia acabado de fugir da prisão novamente. Estava sujo e fedia a escremento. O cano era estreito e a água escorria dele até a grade à frente. Kalmar estava deitado e observava com seus grandes olhos através da grade enquanto cinco guardas conversavam na rua. Assim que os guardas fossem embora, Kalmar pretendia usar sua pequena faca para soltar a grade e respirar ar puro novamente. Ele era paciente e sabia que Avandra sorria para ele.

"Então Gildor, eu disse a ela que ou calava a boca e me deixava dormir ou eu jogaria a mãe dela na rua. Mandei escolher! Ou minha maldita sogra ou eu!" Disse um dos guardas

"E ela escolheu?" Perguntou o mais baixo

"Claro! Me botou pra fora de casa!"Respondeu o primeiro gargalhando

Os guardas continuaram rindo por algum tempo até que algo os interrompeu. Uma luz vermelha iluminou o beco por dois segundos e os guardas recuaram, apontando suas bestas na direção do clarão. Kalmar encolheu-se no cano de esgoto. Os guardas dispararam contra alguma coisa e, em seguida, sacaram suas espadas curtas e porretes e atacaram.
O Rato não conseguia ver o que estava acontecendo mas ouviu o som de aço contra aço e os gritos. Um guarda reapareceu e veio na direção da grade. Kalmar encolheu-se ainda mais, com medo de ser visto.
O guarda cambaleou até ele e segurou-se na grade. As mãos estavam cobertas de sangue. O mesmo líquido escuro escorria de sua boca e seus olhos estavam vidrados. Segundos depois, o guarda caiu ruidosamente no chão. O silêncio voltou a reinar no beco e Kalmar achou que seria seguro sair. Aproximou-se rastejando da grade e usou sua faca. A grade de metal caiu no chão, sobre o corpo do guarda. Kalmar puxou o peso do corpo com seus braços finos e caiu por cima do cadáver. Olhou para todos os lados e viu os outros guardas. Um deles estava dividido em dois. Outro jazia sem cabeça. Os demais pareciam ter sido queimados vivos.

Um homem estava de pé ao lado dos cadáveres. Sua armadura era vermelha e uma longa capa negra pendia das ombreiras. Usava um elmo fechado e, quando se virou na direção de Kalmar, os olhos brilharam num vermelho intenso atrás da viseira. Apontou na direção do Rato com a espada bastarda flamejante que tinha na mão direita e falou com uma voz calma mas assustadora.

"Mais uma ovelha para o lobo."

"Não me mate! Por favor! Eu imploro!" Gritou o Rato jogando-se no chão

"E porque deveria eu, o poderoso Agrom-Vimak, poupar sua vida, inseto?"

"Eu...eu...eu posso...er...eu posso serví-lo! Posso ser seu escravo!"Gaguejou o Rato de joelhos

Agrom-Vimak sorriu e levantou sua espada flamejante. Ficava satisfeito ao ver outros homens rastejando e implorando por suas vidas. "Vou matar você, verme, e depois vou atrás de meus inimigos e matá-los também."

"Inimigos? Eu posso ajudá-lo! Poupe-me!"Disse o Rato amedrontado

O homem de armadura olhou para a penosa criatura a seus pés, retirou o elmo e sorriu.
Vimak tinha o rosto jovem e os cabelos raspados. Era belo mas algo em seu olhar era terrível.

"Muito bem. Sirva-me bem, verme, e viverá! Do contrário darei sua genitália aos porcos!"

Uma gargalhada nefasta ecoou pelo beco enquanto o guerreiro de vermelho levantava o Rato com uma das mãos e dava tapinhas amigáveis em seu ombro.

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