segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Ilha dos Mortos - Final

Arannis havia acabado de entrar na sala de pedras brancas. A porta se fechara atrás dele e desaparecera por completo. Ele apertou o cabo da espada e olhou ao redor, nervoso. Segurava seu escudo com firmeza e uma fina gota de suor escorreu de sua testa. Por alguns instantes, nada aconteceu e a espera deixava o paladino de Avandra cada vez mais aflito.

Então, num piscar de olhos, a sala desapareceu. Arannis estava agora num pátio a céu aberto. À sua esquerda estava uma muralha alta coberta por trepadeiras e flores luminosas. À sua direita havia uma casa alta, possivelmente uma torre. O chão era de pedra mas estava tomado pelas plantas, não de forma desordenada, pois parecia um jardim muito bem cuidado. O paladino olhou para cima e viu um céu azul, sem nuvens. Algo de familiar nos odores e sons lhe veio à cabeça.
Seus devaneios foram interrompidos pela risada de crianças, na esquina, saíndo do pátio. Ouviu também o choro de um garoto.

Caminhou até a esquina e, olhando para a direita viu um grupo de crianças eladrins com menos de doze anos de idade. Todas gargalhavam enquanto um garoto, mais alto, empunhava um pedado de madeira e falava com outro garotinho à sua frente. Esse pequeno eladrin, de uns seis anos de idade, estava caído diante do maior. Chorava e esfregava os punhos contra os olhos. Tinha cabelos longos e prateados e vestia uma túnica longa de cor azul. Arannis reconheceu seu irmão gêmeo instantaneamente. Era Soveliss quem chorava e o paladino recordou-se daquele momento de suas vidas.

"Deixem meu irmão em paz!"Pensou em dizer, mas a mesma frase foi dita por um garoto eladrin que surgiu, segurando uma vara longa de ébano. Era Arannis, com seis anos de idade.

"Veio defender a menininha foi?"Disse o garoto mais velho. Mas antes que o pequeno Arannis respondesse, um adulto apareceu.

"Arannis, Soveliss! Para casa já!"Disse ele e então o paladino de Avandra chorou. Era seu pai quem estava lá, vivo.

Arannis se manteve escondido na esquina enquanto as crianças, com medo de seu pai, corriam em todas as direções.

"Se metendo em confusão de novo filho?" Perguntou o pai dos gêmeos ao pequeno Soveliss. "Venha. Vamos para casa. E você solte essa 'arma' Arannis."

Os três deixaram a esquina e caminharam na direção da torre onde viviam mas o pai voltou-se na direção do Arannis adulto e olhou por alguns segundos, como se conseguisse vê-lo. Até então, Arannis não havia sido visto pelas crianças.

O paladino decidiu segui-los até a torre. Entrou sem problemas e subiu as escadas até o escritório de seu pai. Este estava lá, atrás da mesa de mogno onde fazia suas anotações e expedia suas ordens à guarda da cidade eladrin.

"Quem é você?"Disse o eladrin ao ver Arannis diante dele. "Como entrou aqui?"

"Pai...sou eu, Arannis."Respondeu o paladino

"Isso não é possível. Meus filhos têm somente seis anos. Quem é você?"

"Sou eu pai, pergunte qualquer coisa. Eu fui enviado aqui por alguma razão e..."

"O que é que eu tenho tatuado no peito, 'Arannis'?"Disse seu pai segurando o cabo da espada

"O nome de nossa mãe e a data quando se conheceram."Respondeu Arannis sem pensar duas vezes

Convencido, o pai dos gêmeos abraçou o paladino e por alguns minutos conversaram. Então, a vista de Arannis ficou turva e, segundos depois ele estava num corredor. Era noite e o som de luta podia ouvir-se por toda parte. Gritos nas ruas da cidade e fogo em toda parte. Diante dele estavam os pequenos gêmeos e a criada que tentara salvá-los dos drows. Seu pai, vestindo sua armadura completa, gritava ordens enquanto enfrentava sozinho cinco elfos negros.
Arannis sacou sua espada mas não conseguiu impedir a morte do seu pai. O paladino, enfurecido, atacou os drows e sua espada rasgou ao meio um deles, que se desfez em fumaça.

O paladino de avandra estava agora no subterrâneo. Duas crianças eladrins eram açoitadas por um drow que gargalhava enquanto olhava para ele. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, as imagens mudaram novamente e agora ele estava no dia da revolta de escravos em que ele e seu rimão fugiram graças a um grupo de aventureiros. Ele viu os eladrins gêmeos seguindo os heróis por uma escadaria. Abaixo, viu algo que não vira quando criança.

Um grupo de escravos sendo devorados por uma criatura horrível, meio-demônio meio-drow. Os guardas drows assistiam a tudo rindo e então as visões pararam e Arannis estava de volta à sala branca de Vodendrin.

Diante dele pairavam no ar dois globos de energía. Pareciam esferas sólidas de pedra mas emanavam luzes mágicas e flutuavam como penas ao vento. Arannis aproximou-se da esfera da esquerda e uma imagem formou-se dentro dela. Ele olhou de perto e viu uma cena rica em detalhes.

Um campo de batalha. De um lado, um enorme exército usando a cor vermelha e composto por humanos, orcs e outros monstros. Usavam uma bandeira negra com uma espada vermelha no centro. Atrás dele, numa colina, estava Agrom-Vimak em armadura de batalha. Seu elmo era a face do terror e a Espada Rubra flamejante em suas mãos girava enquanto o exército avançava devagar. Vimak estava montando um pesadelo, um cavalo negro com crina e cascos de fogo saído do abismo. A criatura usava uma ardmadura de batalha negra.

Abaixo, do outro lado do campo, um exército esquálido esperava. Homens feridos, mal equipados, quase todos humanos, se aglomeravam atrás de uma mulher grandiosa. A rainha de Ilíria montava um garanhão negro com armadura prateada. A sua armadura estava suja de sangue mas brilhava com a luz do sol. Sua capa branca estava suja mas voava atrás dela. Seus cabelos dourados estavam trançados e uma fina coroa de ouro adornava sua cabeça.

Arannis observava a imagem no globo mágico e ficou surpreso quando, no centro do campo de batalha uma esfera de luz brilhou e lá estavam ele, Soveliss, Keyra, Adrie, Ecniv, Medrash e mais algumas pessoas que não reconheceu. Ele mesmo empunhava uma espada totalmente negra. Na lâmina escura sete jóias brilhavam. A imagem de Agrom-Vimak era nítida agora. O guerreiro vermelho tirou seu elmo e o jogou ao chão. Sua face era de terror.

A imagem do campo de batalha desapareceu e agora Arannis via uma sala de tortura onde um grupo de humanos cortava e perfurava um drow com adagas. O drow, indefeso por estar acorrentado à parede, gritava. O drow pareceu olhar na direção de Arannis com um ar de súplica.

O paladino afastou-se e decidiu verificar a outra esfera. Aproximou-se dela e uma imagem diferente se formou. Nesta, uma cidade, Ilíria, estava destruída. Um grande castelo feito de cristais vermelhos escurecia as ruínas. Dentro dele, Agrom-Vimak estava sentando no trono, rindo enquanto Arannis, de joelhos, entregava sua espada ao guerreiro vermelho. Então o paladino da visão olhou para Agrom-Vimak e sorriu, levantandou-se para apertar sua mão em seguida.

Arannis recuou assustado. Aquela visão era algo contra ele lutaria com todas as suas forças. Então, a imagem no globo mudou e o paladino de Avandra viu seu irmão, Soveliss, acorrentado e sendo torturado por um grupo de soldados. Ele recuou, olhou para os dois globos por alguns instantes e então, com passos seguros, foi até o primeiro globo e o tocou. Apareceu dentro da sala de tortura onde o drow estava sendo castigado. Os homens fugiram ao ver o paladino e abriram uma porta de onde saiu um enorme troll.

O monstro babava com a idéia de devorar o eladrin. Suas enormes garras negras estavam prontas para rasgar a carne do paladino. Arannis não se intimidou, espero que a criatura atacasse. O monstro tentou cortar a garganta de Arannis com suas garras mas este foi mais rápido e usou o escudo para bloquear o ataque. A espada do paladino não conseguiu penetrar na carne do monstro. Novamente o troll atacou, desta vez Arannis esquivou-se agilmente.
O paladino desferiu mais um golpe que teria causado estrago mas o monstro era rápido, apesar do tamanho.

O terceiro ataque do troll rasgou parte do peitoral da armadura de Arannis, ferindo-o. Porém, o seu ataque foi também certeiro e o monstro urrou quando a espada de força atingiu seu braço. Arannis usou o poder de sua arma e uma faixa de força aprisionou o troll, derrubando-o diante do paladino que, sem esperar um segundo sequer, enfiou a ponta da espada no peito do monstro.

Antes que o troll pudesse soltar-se, Arannis tocou o ferimento em seu peito e curou-se com seus poderes de paladino. Então o troll arrebentou a faixa de energía mística criada pela espada e levantou-se. Foi o suficiente para que Arannis desferisse mais um golpe digno de grandes heróis. O mosntro havia regenerado parte dos ferimentos mas como o paladino atacava sem dar trégua, ficava cada vez mais difícil que o monstro o derrotasse. Por fim, Arannis enfiou a espada no flanco direito do monstro quando este feria um dos seus braços com as garras afiadas. A criatura caiu num espasmo bizarro enquanto o paladino recuava ofengante.

"Fogo! Use fogo!" Gritou o drow acorrentado apontando para um brazeiro com a cabeça

Arannis correu e pegou o brazeiro. Virou-se e notou que o monstro começava a regenerar-se. Arremessou o brazeiro aceso sobre o troll e este urrou como nunca, guinchando e espernenando enquanto era consumido pelas chamas até não sobrar nada além de cinzas.

O paladino ofegava e estava ferido mas já havia visto combates piores. Olhou para o drow e viu que este estava morrendo.

"Me...ajude..."Disse o elfo negro

"Quem é você?"Perguntou Arannis

"Me...aju..."Disse uma vez mais o drow antes de desmaiar

Arannis pensou por alguns segundos e então usou seus poderes de cura. Então ouviu passos descalços atrás dele. Virou-se empunhando a espada por instinto e viu uma jovem meio-elfa com roupas simples, carregando um par de botas nas mãos. Era uma mulher jovem e com ar sereno. Ela sorriu e calçou as botas. Sua aparência então mudou. Agora ela trajava roupas de viagem, um cajado de andarilho e o símbolo de Avandra no peito.

"Você escolheu o drow. Por que?"

"Não escolhi o drow. Escolhi a visão certa."Respondeu Arannis ainda desconfiado

"E como você poderia saber?"

"Nesta visão, Agrom-Vimak era derrotado." Disse ele muito seguro

"Ele não parecia derrotado com aquele exército gigantesco."

"Ele...estava com medo. Isso já indica sua derrota para mim." Disse Arannis guardando a espada

"Entendo...Você deixou de salvar seu irmão, que pode estar morto agora, apenas porque acha que Agrom-Vimak será derrotado."

"Naquela visão eu era tudo o que odeio. Esta é a escolha certa. Quem é você?"

"Muito bem paladino. A escolha foi sua." Disse a mulher que então começou a transformar-se novamente. Desta vez, no lugar da jovem meio-elfa estava Vodendrin, o lich.

A criatura morta-viva abriu a túnica vermelha e Arannis pôde ver o anel preso a uma costela. O lich retirou a jóia e a ofereceu ao paladino. "Agora...vá..." disse este com sua voz baixa e sem vida

Arannis olhou na direção da porta e viu que estava aberta. Seus amigos aguardavam do outro lado.


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