sexta-feira, 19 de março de 2010

A Escuridão - Parte IV

"Arannis? O que foi querido?"Disse a suave voz de Valanae, a rainha de Kohdan.

O paladino de Avandra estava na janela da alcova e respondeu sem virar-se. "Estava pensando em Soveliss e nos outros."

"Não fique assim. Seu irmão é escravo de Dazed. Os demais, infelizmente, foram comprados por aquele homem."Disse a eladrin espreguiçando-se na cama enorme.

Arannis fechou os punhos enquanto as lembranças daquele distante dia, três meses atrás, reapareciam em sua mente.

Medrash, Keyra, Adrie e um punhado de outros escravos haviam sido levados até o mercado e colocados sobre uma plataforma de pedra onde eram vendidos a pessoas da cidade e de fora dela. Havai drows comprando escravos e uma raça estranha de anões de pele cinza. Valanae havia atendido ao pedido de Arannis e um escravo seu havia corrido até o mercado com ouro para comprar os três amigos. Porém, alguém conseguiu pagar bem mais pelo lote de escravos.

Medrash rolou pela plataforma e parecia muito doente mas foi carregado por guardas até seu novo dono, um homem de cabelos vermelhos numa armadura negra, que também havia comprado Adrie e Keyra. Os três, apesar da algazarra criada pelo dragonborn, foram levados até as docas e desapareceram na multidão. Arannis observou tudo do quarto da rainha, sem poder fazer nada.

"Três meses Valanae. Preciso ver meu irmão. Preciso sair desta maldita cidade esquecida pelos deuses e resgatar meus amigos."Disse Arannis dando um soco na parede.

"Meu amor, eu sei. Foi por isso que decidi ajudar você."A eladrin, coberta por um robe de seda pegou algo na gaveta do criado mudo. "Esta chave abrirá a sala do tesouro do meu marido. Suas coisas estão lá. Mas há uma magia de alarme. Você precisa sair de lá rapidamente e retornar até aqui. Então fugiremos até as docas por uma passagem secreta. Tenho um barco esperando por nós."

"Tem certeza de que quer vir conosco?"Disse Arannis enquanto examinava a chave em suas mãos. "Estaremos no subterrâneo ainda e sem saber onde fica a saída até a superfície."

"Não importa. Desde que eu esteja com você."Disse a rainha. "Vá. Encontre seus pertences e seu irmão e volte para mim."

Arannis sorriu e beijou Valanae. Correu pelas escadarias da torre, indo na direção oeste do castelo, onde ficava a torre de Dezad o meio-drow.


Soveliss estava lendo livros da biblioteca de seu amo. Dezad falava pouco mas Soveliss conseguiu aprender alguns truques nojos espionando o mago. Havia um baú onde o meio-drow guardava vários itens mágicos e anotações. Soveliss estava preparando-se para abri-lo quando alguém bateu na porta da torre. Seu coração quase saiu pela boca com o susto. Ele caminhou até a porta e a abriu. Não havia ninguém. Olhou para um lado e para o outro do corredor e então ouviu algo abaixo.

"Mestre!!!"Gritou Kubik abraçando as pernas do eladrin.

Bahamut apareceu em seguida e pulou nos braços de seu dono lambendo seu rosto. Soveliss estava sozinho há três meses e finalmente parte de seu grupo estava ali, ao seu lado.

"Kubik como você? O que aconteceu com você?"Perguntou.

"Ninguém olha Kubik, mestre! Kubik e Babamut andam pela cidade e ninguém quer matar nós!"

"Sabe onde estão os outros Kubik?"

"Não mestre. Kubik só sabe de Kubik e Babamut que come ratos o dia todo e fica gordo gordo gordo."

"Er...certo Kubik. Eu gostaria de poder sair daqui com você mas estou preso e..."

"Mestre, Kubik achar ouro e coisas!"Interrompeu o goblin pegando uma sacola de couro presa à cintura por um cordão. Em seguida, o goblin derrubou o conteúdo no chão. Moedas, nacos de carne seca e restos de ossos caíram no chão. Uma pedra brilhante também caiu e Soveliss imediatamente a reconheceu. Era uma pedra-chave e era sua passagem para a liberdade.

Soveliss pegou a pedra e tocou o colar de escravo que se abriu com um barulho seco. Estava livre. "Bom trabalho Kubik! Estou orgulhoso de você! Vamos!" Disse enquanto pegava várias coisas do baú, inclusive roupas de Dazed.
O mago vestiu uma capa escura e puxou o capuz sobre a cabeça. "Vamos salvar nossos amigos."

Arannis corria pelo castelo, evitando guardas. Outros escravos pouco sabiam sobre Soveliss mas o paladino estava determinado a salvar seu irmão. antes de invadir o tesouro de Alas, o Conquistador. Estava falando com dois escravos quando viu um homem encapuzado no corredor. O homem se vestia como Dazed, o meio-drow, e Arannis sentiu raiva mas então notou Kubik e Bahamut.

"Soveliss?"Perguntou não acreditando totalmente em seus olhos.

"Arannis?"Perguntou o encapuzado deixando seu rosto aparecer.

Os gêmeos eladrin se abraçaram e derramaram lágrimas juntos. Kubik pulava ao lado dos dois aplaudindo.

"Temos que sair daqui. Vem comigo. Tenho a chave para o tesouro de Alas e um barco esperando por nós." Disse Arannis

"Precisamos de uma distração para fugir. Kubik, pode fazer fogo na sala de tapeçarias do castelo?"

"Sim mestre! Kubik faz fogo muito bem!"Respondeu empolgado o goblin.

O plano foi traçado e, enquanto Kubik fazia seu trabalho, os gêmeos entraram na sala do tesouro. A chave encaixou-se na estranha fechadura no formato de uma careta bizarra e duas enormes portas se abriram revelando uma sala grande repleta de ouro, armas mágicas e pedras preciosas. A sala não tinha janelas e nem ornamentos mas havia uma quantidade enorme de itens mágicos.

Arannis fechou a porta atrás deles e os dois começaram a procurar pelas peças da Espada Rubra e por seus pertences. Soveliss achou suas coisas facilmente mas seu irmão não teve a mesma sorte. Porém, uma boa armadura, um escudo redondo e uma espada mágica foram uma boa recompensa pelo seu esforço.

"Que som é esse?"Disse Arannis enquanto pegava o elmo que vinha com a armadura.
"Alarme. Magia de alarme."Disse Soveliss.
"Maldição! Vamos, precisamos correr!"

Os irmãos abriram a porta e viram Kubik chegar correndo enquanto o som alto do alarme mágico ressoava pelo corredor. Os três tomaram o caminho para a torre da rainha, com guardas em seu encalço.
Depois de muito correr e subir escadas, chegaram ao quarto Valanae.

"E assim acaba sua traição, vadia."Disse Alas enquanto segurava sua esposa pelo pescoço.

Valanae estava muito ferida e o meio-orc a segurava perto da janela. "Arannis, meu amor..."balbuciou ela mas então Alas a aremessou pela janela.

"Não! Vou matar você desgraçado!"Gritou Arannis enquanto sacava sua nova espada e corria em direção ao rei dos escravos.

Seu golpe atingiu o peito nu do meio-orc mas soou como metal. Então, a armadura mágica do rei mudou de forma, brilhando como um peitoral de placas.
Alas então disse uma palavra e suas luvas enormes materializaram uma maça-estrela. Ele atingiu o escudo de Arannis com força e quase o derrubou.

O paladino recuou um passo e então gritou ao cortar o flanco do rei com sua espada que brilhava.
Soveliss recitou um encanto e uma mão enorme feita de gelo se materializou ao lado de Alas. A mão agarrou o meio-orc mas este se soltou quebrando pedaços de gelo com sua enorme força.
Arannis desferiu outro golpe ineficaz que foi retribuido com a maça. O elmo do eladrin voou longe e seu rosto foi muito ferido.
Alas gargalhou e atacou novamente, desta vez derrubando Arannis com o braço sangrando. A dor era aguda e Arannis sentiu que iria desmaiar mas então Soveliss agarrou novamente o rei com sua mão de gelo gigante e o arrastou até a janela. Antes que Alas pudesse soltar-se novamente, o mago sorriu e arremessou-o pela janela.
Alas caiu batendo nas paredes do castelo, chegando ao fim da queda ainda vivo, em pleno mercado.
"Vamos embora."Disse Soveliss ajudando seu irmão a levantar.
Os dois seguiram pela passagem secreta quando os guardas chegaram ao quarto. Por vários minutos caminharam por corredores escuros acompanhados por Kubik e Bahamut. Depois de algum tempo chegaram às docas onde o barco alugado pela rainha esperava.
O Vizarii era uma embarcação estranha. Não tinha remos nem velas. Parecia uma criatura viva e ao mesmo tempo parecia feita de metal e não de madeira. No convés uma estranha criatura, um githzerai, aguardava. Tinha uma pele amarelada, quase verde e enormes olhos. Era estranho, alienígena.
"Vocês vierrram com a rainha?"Disse o capitão.
"Ela não vem mais. Vamos embora."Respondeu Arannis amargo.
"Ah mas ela me pagou apenas parrra levarrr dois passageirrros."Disse o githzerai sorrindo. "São trrrezentas moedas porrr cabeça."Completou.
"Tome. Tire-nos daqui."Disse Soveliss pegando dinheiro na bolsa de seu irmão.
O capitão sorriu e os deixou entrar. Enquanto os gêmeos, Kubik e Bahamut se acomodavam, o githzerai deu a ordem com um olhar para seu imediato, um ser da mesma estranha raça mas gordo e mais baixo.
O barco brilhou e começou a afastar-se do cais. Depois, em segundos, navegava pela escuridão do rio subterrâneo.
No barco, coisas estranhas entulhadas pelo convés chamavam a atenção de Soveliss. Arannis permanecia calado o tempo todo e toda vez que o capitão falava com eles, parecia que sabia exatamente o que iam dizer. Soveliss entendeu que ele tinha algum tipo de poder mental e que conseguia ler seus pensamentos.
"Precisamos ir à cidade drow."Disse Arannis.
"Hum...prrrecisam mesmo? Posso levá-los até lá senhorrres. E tenho exatamente o que prrrecisam parrra entrrrar lá e ficarrr vivos."Disse ele com seu estranho sotaque.
"Vai nos custar. Não é?"Perguntou Soveliss.
O capitão apenas sorriu e deixou os dois sozinhos.

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