segunda-feira, 1 de março de 2010

A Escuridão - Parte II

As horas se tornaram dias e Medrash, Arannis, Soveliss, Adrie , Keyra, Bahamut e Kubik vagaram por caminhos estranhos. Não eram mais cavernas apertadas e sim trilhas, vales e desfiladeiros perigosos. Tudo na mais completa escuridão. Apenas a luz do bastão solar iluminava o caminho do grupo. Fazia calor e a medida que eles desciam pela trilha, o calor parecia aumentar cada vez mais. Adrie ia à frente, transformada em pantera, buscando caminhos seguros para os demais.

Dois dias depois, enquanto caminhavam por uma trilha sinuosa, perceberam luz, centenas de metros abaixo. Adrie usou sua agilidade felina para descer até uma distância segura e observar os dois grupos de luzes que se encontraram na trilha inferior. Em sua forma de gato, a elfa era pequena o suficiente para não ser notada por quem quer que fossem os portadores das lanternas mágicas.
A elfa viu dois grupos. Um deles era formado por orcs. Os orcs carregavam a carcaça de um animal estranho e pareciam estar muito indispostos com o outro grupo, uma comitiva drow.

Os elfos negros vinham num grupo maior, com lagartos de carga e muito bem armados. Um deles, montado num lagarto menor, passou à frente e foi falar com os orcs.
O drow vestia uma armadura escura, com tons de roxo. Usava uma capa roxa que cobria o dorso do lagarto de montaria. Seu elmo era aterrador. Cobria seu rosto com a face de uma caveira negra. O drow desceu do lagarto e parou em frente ao líder dos orcs. Disse algo na língua do subterrâneo e o orc respondeu sem demonstrar medo.
Então, o drow retirou o elmo e sorriu. Em seguida virou-se em direção aos seus companheiros e jogou o elmo nas mãos de outro drow. O movimento foi tão rápido que Adrie teve dificuldade para entender o que aconteceu. No momento em que o drow lançou seu elmo ao ar, sacou uma enorme espada que vinha presa às costas. Num movimento extremamente rápido, o drow girou, cortando a cabeça do orc, cujo corpo ficou em pé por alguns segundos antes de desabar no chão.

Os orcs arregalaram os olhos e saíram do caminho dos drows instantaneamente. O drow limpou a espada no cadáver orc e gargalhou enquanto o outro elfo negro lhe devolvia o terrível elmo. Adrie escalou de volta até onde seus amigos esperavam. Keyra estava deitada sobre o bastão solar, abafando a luz.
Abaixo, os drows seguiram seu caminho e os orcs, amedrontados continuaram até desaparecerem na escuridão.

"Drows?! Então temos que seguí-los e matar cada um deles!" Gritou Arannis enfurecido. Até aquele momento, o paladino havia se mostrado uma pessoa calma. Mas ao ouvir da boca de Adrie que havia drows tão perto, o eladrin lembrou-se do tempo em que ele e seu irmão foram feitos escravos. Lembrou-se da noite em que centenas de drows invadiram sua cidade natal e mataram ou escravizaram seu povo.

Demorou um bom tempo até o grupo convencer os gêmeos eladrins a continuar pelo caminho aparentemente seguro, pois ir atrás dos drows certamente os levaria até um cidade desse povo e à morte ou escravidão.
Cinco dias de caminhada nas trevas. Os bastões solares estavam acabando e apenas o escudo de prata de Arannis iluminava o caminho depois de um tempo. A água dos cantis havia acabado e a comida estava quase no fim, a não ser por alguns cogumelos colhidos por Kubik no caminho, entre as rochas do subterrâneo.

Chegaram a um túnel sem saída e tiveram que usar cordas para descer por um buraco. A uma profundidade de duzentos metros, encontraram um túnel maior. Todos desceram o longo caminho com cordas sem problemas. Todos menos Aranis que por pouco não despencou pelo buraco. Mesmo assim, o eladrin feriu-se bastante.

Quando estavam em segurança, ouviram passos vindos do túnel ao sul. Rapidamente se esconderam e desligaram um dos últimso bastões solares que tinham.

Nas trevas, apenas Adrie, transformada em rato, conseguiu ver o grupo de cinco bugbears que vinha pelo túnel. Eram enormes e fediam. Tinham o corpo peludo e presas grandes. Todos carregavam maças-estrela e mochilas de peles.
Parecia que os bugbears não tinham visto os heróis na escuridão mas então alguém tropeçou entre as pedras grandes do túnel, revelando-se.

Os bugbears, que enxergavam perfeitamente na escuridão, atacaram os heróis. Keyra pensou rápido e acendeu um bastão solar, arremessando-o no centro do túnel. Agora a luta estava mais equilibrada.
Os heróis saltaram de seu esconderijo e lutaram contra os goblinóides. As criaturas eram muito fortes mas sucumbiram diante do trabalho em equipe dos aventureiros.
Depois disso, tendo descansadoum pouco, os heróis decidiram seguir o caminho de onde vieram os bugbears.

Chegara a uma saída do túnel. Um desfiladeiro os levou até um vale estreito onde uma verdadeira floresta de cogumelos gigantes e outros fungos de tamanho descomunais brilhavam com uma luz suave. O lugar era estranho mas tinha sua beleza. Porém, não havia água e apenas alguns cogumelos pareciam ser comestíveis.

A longa jornada pelo vale se tornava cada vez mais difícil sem alimento e os heróis não tinham mais a iluminação dos bastões mágicos. Somente a luz prateada do escudo mágico do paladino iluminava as trevas depois que os heróis deixaram o vale e começaram a andar pelo que se assemelhava a uma planície rochosa.

Então viram luzes ao longe. Pareciam luzesde uma cidade mas poderia ser qualquer coisa. A medida que andavam, ficava mais claro que estavam vendo uma cidade. Quando estavam certos de que aquilo eram luzes de edificações, viram um grupo de quinze pessoas indo em sua direção, usando um globo de luz mágica na ponta de um cajado.

O grupo era bizarro. Era composto por humanos, orcs, meio-orcs, halflings e meio-elfos. Vinham bem armados mas usavam roupas de pele e a maioria tinha o torso nu ou coberto por escamas de ferro de armaduras velhas. Um deles, um orc enorme que carregava duas cimitarrasnas costas falou na língua comum.

"Quem são vocês? O que querem em Kohdan?"

"Estamos perdidos. Somos aventureiros. Podem nos ajudar?" Disse Keyra

"Querem ajuda?"Disse o orc gargalhando. "Então venham conosco."

O orc deu uma ordem aos seus homens e estes viraram-se para escoltar os aventureiros até a cidade. Nenhum deles fez mensão a tomar as armas dos heróis e todos tinham um ar amigável.

Os grandes portões de Kohdan se abriram quando um gnoll da comitiva tocou uma trombeta de chifre. Os heróis, escoltados pelo estranho grupo, passaram pelas maciças portas de pedra e viram dois gigantesco ogros que puxavam as correntes que moviam o portão. Dentro da cidade, escavada na pedra, casas e grandes edifícios antigos podiam ser vistos do portão, que ficava muitos metros acima de Khodan. As casas estavam em ruínas e muitas haviam sido reconstruídas com materiais de péssima qualidade. Havia um enorme mercado por onde os heróis foram conduzidos.
Nas ruas estreitas havia todo tipo de criatura humanóide. Havia humanos, meio-elfos, orcs, meio-orcs, elfos, anões e halflings, além de tieflings, trogloditas, homens-lagartos e gnolls. Todos eles pareciam conviver pacificamente e Arannis e Adrie perceberam que a maioria deles tinha cicatrizes ou marcas de escravos, como as marcas que Arannis e Soveliss tinham nos braços.

No teto da gigantesca caverna que abrigava Kohdan havia uma enorme pedra vermelha que emetia uma luz parecida com a do sol. Era como finalemente estar na superfície, por mais estranha que fosse a cidade no subterrâneo.

Os heróis foram levados até um castelo no centro da cidade. Duas enormes portas de ferro foram abertas. Subiram por uma longa escadaria até um salão iluminado por brazeiros. O teto do salão era alto e seis pilares o sustentavam. O castelo, ao contrário do resto de Kohdan, era luxuoso. Havia tapeçarias e estátuas, mesmo que arruinadas, nas paredes. Um círculo de azulejos com um mosaico que representava uma batalha ficava no centro do salão, diante de um pedestal que ostentava três cadeiras feitas de granito.
Nos tronos estavam sentadas três pessoas.

No centro estava um meio-orc muito musculoso, de pele bronzeada e braços descomunais. Estava vestindo apenas uma tanga de peles e seus pés calçavam sandálias de couro. Seu torso, coberto por cicatrizes estava nu a não ser por duas faixas de couro que se cruzavam sobre o peito. O meio-orc tinha duas manoplas de couro e metal que faziam com que suas mãos parecessem maiores o que eram. Seu cabelo era negro e estava raspado naslaterais da cabeça. Uma longa "crina" caía pelas costas do guerreiro, que tinha um olhar selvagem, além das presas proeminentes que se sobrepunham ao lábio superior.

À sua esquerda estava um homem baixo e magro, de longos cabelos brancos e um bigode fino e até cômico da mesma cor que caía sobre seu peito. A pele do homem era cinzenta e suas feições lembravam as de um elfo. Era um meio-drow. Vestia um longo manto negro-azulado e um chapéu vermelho. Tinha um cajado azul em uma das mãos e observava imóvel os aventureiros.

No trono oposto estava uma eladrin. Era a mulher mais bela que qualquer um dos aventureiros já havia visto. Tinha cabelos loiros muito lisos e longos e sua pele era muito clara. Seus olhos eram verdes e ela usava um vestido branco longo com um decote que mostrava sua pele até o umbigo. Ela olhou para Soveliss e Arannis e sorriu.

O silêncio foicortado quando o meio-orc falou com uma voz forte.

"Ha! Aventureiros! Como chegaram aqui? Sejam bem vindos ao meu reino! Eu, Alas o Conquistador quero saber de tudo sobre a superfície!"

"Nós estamos perdidos. Não sabemos como chegar à superfície e..." Começou Keyra e foi interrompida por Alas.

"Uma mulher fala por este grupo?!" Vociferou.

"Todos nós falamos pelo grupo." Disse Arannis diplomaticamente.

"E a mulher é sua?Tem bom gosto eladrin!" Disse Alas devorando Keyra com os olhos e gargalhando em seguida.
"Quero saber de tudo! Servos, preparem um banquete para os convidados de seu rei! Agora!"

Os heróis foram conduzidos até outro salão onde uma mesa de pedra com bancos longos estava sendo preparada. Eles se sentaram à mesa depois que Alas estava numa cadeira enorme na cabaceira da mesma. Sua rainha não estava presente, nem seu conselheiro, o estranho meio-drow.

Bandejas com comidas estranhas, incluindo um kruthik assado foram servidas e taças com vinho foram oferecidas aos aventueiros.

Alas pegou uma enorme taça de ouro cravejada de rubis com o mesmo vinho e levantou-se, fazendo um brinde aos aventureiros. Em seguida, o rei de Kohdan bebeu e o vinho escorreu pelos cantos da boca.
Os aventureiros, nao querendo ofender o rei, beberam o vinho. Todos menos Arannis que apenas fingiu beber.

Depois de comer e beber com o rei, o meio-drow apareceu ao lado do rei. Os aventureiros não haviam notado sua presença o que deu ao conselheiro um ar ainda mais misterioso.

"Sol? O que é o sol?" Perguntava o rei aos aventureiros quando o meio-drow apareceu.

"Meu senhor, o sol é uma grande bola de fogo que ilumina a superfície."

"Maldição Dezad! Já ordenei que você parasse de surgir assim do nada!"

"Peço desculpas meu amo. Vim apenas dizer que os quartos de hospedes e os banhos estão prontos para seus convidados."

"Os banhos! Ótimo! Vocês podem tomar um bom banho e depois descansar! Nos falaremos amanhã!" Disse Alas enquanto se levantava cambaleando pelo efeito do vinho.

Dezad desapareceu da mesma forma que surgira ao lado do rei.

Os aventureiros foram levados por servos até um salão abaixo onde o vapor tomava conta do lugar. As paredes eram revestidas de azulejos, alguns quebrados e havia uma enorme piscia de água quente. Algumas luzes mágicas iluminavam a sala de banhos. Os heróis foram despidos pelos serviçais e logo estavam desfrutando do banho quente com aroma de ervas.
Todos menos Kubik que saiu correndo ao ouvir a palavra banho.

Depois do merecido banho, os aventureiros foram levados até seus quartos, suntuosas habitações numa das torres do palácio. Apesar de terem sido oferecidos quartos individuais, o grupo preferiu dividir as acomodações.
Soveliss e Medrash foram para um dos quartos enquanto Keyra e Arannis pensaram em dividir o outro. Adrie ficou sozinha num quarto menor.

Então, Arannis percebeualgo errado. Keyra desmaiou sobre a cama e os servos colocaram um colar mágico em seu pescoço. Parecia do mesmo tipo de colares mágicos usados por escravos drows.
Arannis tentou reagir mas percebeu que vários guardas apontavam bestas carregadas em sua direção.

"Um movimento e estará morto, eladrin." Disse um guarda orc.

Arannis foi algemado e recebeu um colar e viu enquando os demais eram carregados desacordados.

"O vinho...o maldito vinho." Pensou o paladino. Então sentiu uma pancada na cabeça e o mundo se encheu de trevas.


3 comentários: