quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os Nove

Lanasc mancava da perna direita. Era um tiefling velho mas tinha um olhar astuto e uma língua rápida. Um de seus chifres havia sido quebrado muitos anos atrás e algumas cicatrizes eram visíveis em sua cauda avermelhada. Ele se vestia como um nobre e, sendo o arauto do rei, tinha passagem aberta em qualquer lugar da cidade e, claro, do castelo.
O
tiefling caminhava à frente da Ordem da Liberdade, que parecia perdida nos vários corredores e escadas do castelo. Arannis seguia Lanasc, sempre atendo aos arredores. Soveliss parecia perdido em pensamentos enquanto Keyra e Adrie observavam em todas as direções. Kubik seguia seu mestre de perto e Ecniv, tentava em vão puxar conversa com Lanasc.

Depois de alguns corredores e escadarias, o grupo chegou a uma grande porta de mogno com detalhes em ferro polido. Figuras de guerreiros a cavalo empunhando lanças adornavam as duas portas que eram ladeadas por dois guardas humanos, trajando armaduras de placas finamente polidas e alabardas visivelmente mágicas.
Os guardas notaram Lanasc e os aventureiros e imediatamente abriram a porta. O salão estava iluminado por tochas e brazeiros e grandes colunas sustentavam o teto alto. O chão havia sido limpo e três grandes mesas de madeira estavam dispostas no fundo e nas laterais do lugar. No fundo, sentado no trono de madeira clara, estava o rei.

Olmor II era um homem grande. Tinha um rosto quadrado, marcado por pequenas cicatrizes e usava uma barba bem cuidada. Tanto o cabelo quanto a barba eram escuros, manchados por tons de cinza. Tinha uma coroa simples de ouro e seus olhos azuis observaram os aventureiros quando estes entraram. O rei sorria e quando o grupo entrou no salão e parou diante dele, Levantou-se e abriu os braços pedindo silêncio.
Os nobres e demais convidados olharam na direção dos cinco aventureiros escoltados por Lanasc.

"Senhor, estes são a Ordem da Liberdade. São os matadores de dragões." Disse o tiefling fazendo uma longa reverência ao seu rei, quase tocando o chão com o queixo.

"Grandes heróis! Eu os saúdo! A recompensa!" Disse virando-se para um criado perto de uma coluna.
Rapidamente, dois homens trouxeram um pequeno baú que foi aberto diante da Ordem da Liberdade. Ouro e pedras preciosas brilharam, chamando a atenção de todos no salão. Havia também um pergaminho dentro de um invólucro de pedra. Soveliss pegou o pergaminho arregalou os olhos ao ler. Mostrou o texto a Adrie e esta também ficou pasma.
No entanto, os demais aventureiros apenas olharam para o rei e agradeceram pelo prêmio.

"Majestade" Disse Ecniv "Nós somos a Ordem da Liberdade e queremos falar-lhe a respeito de nossa missão aqui." O bardo limpou a garganta e continuou "Queremos falar a respeito de Agrom Vimak."

O rei olhou para o pequeno bardo e em seguida encarou um humano velho que estava sentado ao seu lado esquerdo. O velho, magro e de longas barbas brancas, envolto num manto simples de cor negra, apenas assentiu e o rei encarou novamente o grupo de heróis. "Amanhã heróis. Amanhã. Hoje festejamos a morte de Daelazar, o vermelho."

Ao seu comando, Lanasc levou os aventureiros até uma mesa na lateral onde calices de vinho foram servidos.

"Aos heróis de Skan!" Brindou Olmor II.

Os bardos presentes começaram a tocar e Ecniv juntou-se a eles. Enquanto isso, os demais, menos Arannis, beberam e comeram. Adrie pareceu gostar do vinho mais que os demais e em menos de uma hora estava totalmente embriagada, transformando-se em animais e rindo histericamente. Foi assim até o instante em que simplesmente desmaiou sobre a mesa, transformada em gato.

No meio da festa, as duas portas abriram-se com um estrondo. O silêncio pairou no ar quando uma goliath enorme entrou no salão. Tinha um elmo debaixo do braço e uma lança na mão esquerda. Estava suja, aparentando ter chegado naquele momento de uma longa viagem.

"Meu senhor. Preciso falar-lhe." Disse a mulher, dirigindo-se ao rei.

Este saiu do salão, acompanhado pelo velho homem em mantos negros e da enorme mulher guerreira. Keyra sorriu e, usando discretamente s,ua pedra mágica, transformou-se num serviçal e seguiu os três. A festa continuou assim que as portas foram fechadas.
Fora do salão, os três conversavam. Keyra aproximou-se discretamente, fingindo estar limpando o corredor com uma vassoura.

"Pode falar agora Talana." Disse o rei dirigindo-se à enorme goliath

"Majestade, os orcs são muitos. Todas as tribos do norte se uniram sob o estandarte de Ogramum. Meus homens, senhor, lutaram contra uma grande tropa orc durante seis dias. Tivemos sorte de escapar. Agora mesmo estamos recuperando nossas forças e recrutando mais homens para atacar sob seu comando." Disse a guerreira

"Ogramum precisa ser detido, meu senhor."Disse o velho "Mas deixo isso a cargo de vossa sabedoria." Completou deixando-os dois no corredor ao descer pelas escadas

"Talana, cuide de seus homens. Amanhã falaremos com mais calma. Tenho um plano que talvez ajude." Disse o rei coçando a barba, pensativo

"Meu senhor." Respondeu a goliath fazendo uma reverência e em seguida batendo em seu peito com o punho fechado.

O rei olhou para o serviçal que se aproximava enquanto Talana partia. Keyra voltou então à sua forma verdadeira e falou diretamente com o monarca. "Não preciso continuar disfarçada. Precisamos conversar agora, antes da audiência de amanhã." Disse a meio-elfa com um tom que poderia ser considerado impróprio.

O rei ficou sério mas entendeu o recado. Apontou para uma porta aberta no corredor e Keyra entrou. Era um escritório com apenas uma janela e pouca iluminação. O rei fechou a porta depois de entrar e caminhou, observando a ladina. A sala era circular e estava repleta de estantes com inúmeros livros. No centro havia uma grande mesa onde um mapa estava estendido. Havia algumas figuras de madeira representando vários exércitos. Keyra reconheceu a região.
O mapa era mágico e a ladina pôde ver que a água do mar e dos rios corria de verdade e que as árvores das florestas pareciam mover-se ao vento. Era um trabalho fantástico de algum ilusionista.
O rei sentou-se numa cadeira do outro lado da mesa e fez sinal para que a jovem meio-elfa se sentasse.

"O que tem a dizer?" perguntou o rei

Keyra respirou fundo. "Olha, eu e meus amigos viemos ajudar e por isso acho justo que saiba o que descobri. Um homem chamado Aslom, líder da guilda de ladrões daqui, quer a sua coroa."

"Minha coroa? Ser rei?" Perguntou Olmor II

"Não sei. Ele disse que queria roubar sua coroa. Talvez para humilhar o governo da cidade. Não sei. O fato é que um grupo liderado por ele tem coisas contra sua pessoa." Respondeu Keyra

"E onde você entra nisso?"Perguntou o rei coçando a barba

"Eu tenho meus próprios interesses, além dos do meu grupo. Mas pode ficar tranquilo. Eu gostaria apenas de não dormir aqui esta noite. Tem alguma forma de eu entrar e sair do castelo sem problemas?" Disse a ladina, ousando

"Entrar e sair...como assim?!" Exclamou o rei

"Eu só quero resolver algumas coisas e depois voltar até meus amigos." Respondeu a meio-elfa

"Olha, eu estou oferecendo um lugar em meu castelo. Recebi você e seus amigos bem e não posso acreditar que você esteja abusando de nossa hospitalidade assim."

"Certo...tudo bem. Eu durmo no castelo."Disse Keyra mantendo uma certa frieza na voz

"Sim e espero que não fique perambulando por aí, usando suas habilidades de mudança de forma. Agradeço pelo aviso. Falarei com a Ordem da Liberdade pela manhã." Disse o rei mostrando a porta

Keyra sorriu e saiu, indo em direção ao alojamento onde seus amigos estavam.





Ecniv entrou no quarto onde Lanasc dissera que a Ordem da Liberdade poderia dormir. Carregava seus pertences e um gato. O gato, desacordado, era Adrie. Ao chegar ao alojamento, Ecniv, acompanhado por Arannis, viu uma grande habitação com diversas beliches. Ele pegou algumas cobertas de uma das camas e fez o que parecia um ninho, onde colocou Adrie com cuidado. Arannis retirou sua armadura e deitou-se numa das camas de baixo.

"Descanse. Amanhã teremos um dia muito cheio." Disse o eladrin enquanto fechava os olhos e entrava em transe.

Ecniv preparava-se para dormir quando a porta se abriu e Lanasc apareceu. Com ele vinham quatro pessoas. Eram os Irmãos de Sangue.

"Ora se não é o flautista!" Disse Kraig, claramente embriagado. "Como vai rapaz? E os seus amigos, os Melhores do Mundo?" Disse ele

"Era Guardiões do Universo. Mas somos a Ordem da Liberdade agora. Disse Soveliss surgindo atrás deles."

"Que seja. Estou bêbado demais para lembrar de nomes de grupos ou de pessoas ou de lugares." Disse Kraig resmungando enquanto se deitava numa das camas, perto de Arannis.

Linfur, o halfling, olhou para Arannis, Soveliss e Ecniv, ignorou o gato no canto do quarto e subiu rapidamente numa das camas altas. Carric, o elfo, retirou sua armadura e parte das roupas, ficando com o torso nu enquanto se sentava perto da parede. O elfo cruzou as pernas, e segurou seu arco sobre os joelhos. Então, pareceu entrar em transe, como Arannis.

Soveliss olhou para Damara, a guerreira ruiva que liderava os Irmãos. Ela estava tirando a armadura quando este se aproximou.

"er...é...Damara não é?" Disse o mago meio sem graça

"Sim. Arannis não é?" Respondeu a guerreira sorrindo e vestindo apenas as roupas de baixo, o que fez com que o eladrin ficasse corado por alguns instantes.

"Não não. Meu irmão é Arannis. Eu sou Soveliss." Disse ele encarando o chão

"Me desculpe. Eu...vocês são idênticos." Disse Damara tentando explicar-se

"Não...er...tudo bem...eu...só...eu só queria te dar isto." Disse Soveliss estendendo a mão fechada.

Damara abriu sua mão e então Soveliss entregou um dos dentes menores de Daelazar preso a um cordão de couro. O eladrin tentou sorrir mas o sorriso pareceu mais uma careta, devido ao seu nervosismo.

"Obrigada. Não sei o que dizer. É do dragão, não é?" Perguntou a guerreira, colocando o cordão no pescoço

"Sim. Do dragão vermelho...Daelazar." Respondeu o mago ainda encarando o chão

"Obrigada mesmo. Bom, preciso dormir agora. Temos um dia cheio amanhã." Disse Damara subindo numa das camas. "Boa noite...Soveliss." Completou piscando

Soveliss deitou-se numa das camas, tentando concentrar-se e demorou um tempo até que conseguisse entrar em seu transe élfico.





Duas batidas fortes na porta acordaram os membros da Ordem da Liberdade e dos Irmãos de Sangue. Em seguida, o velho tiefling Lanasc entrou, com um pergaminho em mãos.

"Bom dia, bom dia, bom dia. Ordem da Liberdade, vocês serão recebidos primeiro por nosso grandioso rei. Antes serão alimentados no refeitório do andar de baixo. Estejam lá o mais rápido possível. Vocês também, Irmãos de Sangue. Devem estar famintos, principalmente o anão gordo." Disse Lanasc sorrindo ao sair do alojamento

Os dois grupos usaram o banheiro adjacente e foram ter com Lanasc no refeitório. Foram servidos pães, geléias, leite de cabra e muito queijo. Além disso, o banquete matinal contava com ovos mexidos e bacon, que Kraig tratou de devorar rapdiamente. Durante o festim, Lanasc conversou um pouco com Ecniv e depois pediu que a Ordem da Liberdade o acompanhasse.
O grupo chegou ao salão do rei, onde ocorrera a festa da noite anterior. Estava limpo e Olmor II estava de pé, diante de seu trono. Ao seu lado estava o velho homem de manto negro e um garoto de seus treze anos de idade.
O menino olhava enquanto os heróis entravam no salão e paravam diante do rei, fazendo uma reverência. Adrie chamou a atenção do rapaz que tinha olhos azuis e a pele muito clara, contrastando com os cabelos escuros. Era muito parecido com seu pai, o rei.

"Bom dia heróis. Irei ouví-los agora." Disse o rei, sentando-se no trono, já que tratava-se de uma audiência e o protocolo mandava que o rei estivesse acima de seus súditos ou visitantes

Os aventureiros falaram sobre Agrom Vimak e sobre sua busca pelas sete jóias. Ao mencionar Agrom Vimak, notaram que o rei olhou para o velho e este apenas assentiu. O relato de Ecniv e Arannis sobre a caçada às jóias fez com que Olmor II olhasse para o anel real, o selo de sua família.

"Então vocês querem esta jóia. Que está em minha família há quase três mil anos." Disse ele suspirando

"Majestade, seria apenas até derrotarmos Agrom Vimak. Ela será devolvida, assim como esta." Disse Arannis mostrando a jóia do lich

O rei olhou de novo para seu conselheiro, respirou fundo e flaou novamente.
"Posso emprestar a jóia, pois vejo que têm objetivos nobres. Porém, preciso saber se realmente posso confiar em vocês. Portanto, tenho uma missão para a Ordem da Liberdade."

"Danen, mostre a eles." Disse, dirigindo-se ao velho

O homem de cabelos e barba branca, envolto em mantos negros pesados sorriu. Este avançou até ficar entre o rei e os aventureiros e então sua pele começou a brilhar. Em segundos assumiu sua verdadeira forma, a de um jovem genasi do fogo. Sua pele era laranjada e veios brilhantes de lava corriam por sua pele. Sua cabeça agora era coroada por labaredas brilhantes e seus olhos dourados brilhavam intensamente. Vestia trajes leves, com os braços descobertos, e sorria jovialmente. Danen gesticulou e uma imagem surgiu diante dos heróis.
A imagem mostrava um campo de batalha onde goliaths, humanos e orcs se enfrentavam. O exército dos humanos e goliaths, carregando o estandarte de Skan, recuava enquanto os orcs comemoravam. Atrás do enorme exército orc, um forte de madeira se mantinha incólume, encostado numa montanha baixa do outro lado de um grande vale. No topo do forte, um orc de proporções bizarras observava. Era enorme e carregava um machado sangrento. Sua armadura era de metal e brilhava em vários pontos. O orc urrou e depois gargalhou, entrando no forte.
Em seguida, Danen mostrou outra coisa. Uma caverna na lateral da montanha.

"Esta, meus caros, é a entrada dos fundos." Disse o genasi sorrindo

"O que quer de nós, majestade?" Perguntaram Arannis e Ecniv em uníssono

"Quero que matem Ogramum, o líder orc. Com ele morto, as tribos ficarão sem liderança e assim poderemos atacá-los e talvez vencer. Um grupo pequeno mas capz pode penetrar nas defesas do acampamento orc e matar esse monstro." Disse o rei

"Somos cinco. Somos um grupo pequeno." Disse Adrie timidamente

"Vocês terão ajuda."Disse Danen apontando para a porta do salão, onde os Irmãos de Sangue estavam de pé, ao lado de Lanasc, o tiefling

"Então...quando partimos? Meu machado tem sede de sangue orc!" Disse Kraig gargalhando enquanto segurava sua barriga com a mão esquerda

3 comentários:

  1. "Ecniv, o gnomo camarada"

    O blog tá bom demais. É raro alguém levar adiante e contar toda a história de jogo e de forma muito bem escrita.
    Quem sabe mais pra frente não vire um filme, ou desenho, ou game?

    Abração

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  2. Vc esqueceu a parte em que a Adrie subiu em cima da mesa e fez os passos da dança da bundinha! Eu fiz ela fazer isso justamente para seguir o rei, a mulher distraiu todo mundo! =D

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  3. Hahahaha nossa, muito bom mesmo!
    Vai virar livro no mínimo! Já esta enorme nossa aventura
    :)

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