segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Monstro de Duaspedras


A luz do sol entrava suavemente pela claraboia do templo de Avandra. Água cristalina jorrava de uma fonte no centro do templo, onde os peregrinos jogavam moedas pedindo boa sorte à divindade. Os espaços entre as grandes colunas de mármore deixavam entrar o ar gelado daquela manhã de inverno mas de alguma forma, o clima dentro do templo era agradável. Keira observava os peregrinos, encostada numa das colunas enquanto Araniss conversava com Cor, o sumo sacerdote de Avandra, um homem de seus quarenta anos, cabelos castanhos já manchados de cinza e pequenos olhos escuros. Além deles, estava na sala um homem muito velho, conhecido por todos no templo como Mestre Arin. Ele estava usando um longo manto cinza e estava sentado enquanto conversava com Araniss. Mestre Arin era cego e seus parcos cabelos brancos pendiam soltos sobre os ombros.

"Mestre Arin, o senhor disse que Agrom-Vimak foi um guerreiro poderoso que liderou expercitos no passado até ser detido por um grupo de magos de grande poder. Mas me diga, senhor, Agrom-Vimak era um guerreiro maligno?" Perguntou o eladrin

"Meu jovem, não sei até onde as lendas estão corretas mas Vimak foi derrotado pelos Sete. Dizem que esses magos eram uma força de equilíbrio no mundo mas que nem todos eram pessoas de bem. Agrom-Vimak foi derrotado numa grande batalha e sua espada vermelha foi destruída. Todo o seu poder acabou quando ele foi morto." Respondeu o velho sacerdote.

"É tudo o que pode me dizer, mestre?" Disse Araniss um pouco frustrado

"Sim, meu jovem. Não conheço muito a respeito dessas lendas. Mas se você procura mais conhecimento a respeito dos Sete, procure Nimus em Duaspedras."

Araniss fez uma longa reverência diante dos sacerdotes e saiu, pensando no que poderia fazer agora. Nimus, segundo Cor e Mestre Arin, era um velho eremita que vivia nas proximidades da aldeia de Duaspedras, a nordeste de Ilíria. Nimus era conhecido por ser muito sábio e muito velho e, portanto, seria alguém com muito conhecimento.

Keira aguardava do lado de fora, enquanto observava um viajante pitoresco. O homem era gordo e de baixa estatura e usava um elmo de péssima qualidade, uma espada curta e uma cota de malha. A única peça de armadura que parecia decente era a cota, que brilhava levemente com a luz do sol no centro do templo.

"Bom dia senhor!" Disse Keira sorridente. "Vejo que fez uma oferenda a Avandra. É um aventureiro? Parece ter chegado há pouco."

"Sou sim senhorita! Sou Bindor, o matador de gigantes!"

"Gigantes é? Hum...são muito difíceis de matar? Nunca vi um."Perguntou novamente a jovem.
Depois de uma breve conversa, Keira se convenceu de que Bindor era um grande mentiroso mas achou estranho alguém tão aparentemente incompetente ter uma armadura tão magnífica.
Araniss e Keira decidiram então ir à biblioteca de Ilíria, em busca de mais informações a respeito de Arom-Vimak.

Medrash estava na entrada do templo de Bahamut, no bairro do Castelo. O dragonborn pensava em falar com o sacerdote local para obter informações antes de encontrar Araniss, Keira e Soveliss. O templo era grandioso. Enormes colunas de granito e mármore sustentavam o pesado teto de pedra branca. Estátuas representando Bahamut, o Dragão de Platina, adornavam vários nichos nas laterais do templo que estava bastante cheio. O populacho se aglomerava na entrada, esperando os nobres que saíam do culto que havia acabado de terminar. Os nobres acenavam para seus servos que jogavam moedas de cobre para os pedintes. Medrash aguardou a multidão sair e então passou pela enoprme porta de metal do templo. Porém, um soldado trajando cota de malha prateada e uma capa azul o afastou para o lado.

"Abram alas, por favor" Disse outro soldado vestido da mesma forma. Eram membros da guarda real.

Uma comitiva de vinte guardas e alguns membros da corte passou por Medrash e outras pessoas que aguardavam e então o jovem dragonborn viu uma mulher magnífica. Era humana, tinha longos cabelos loiros com tranças. Seus olhos eram de um verde profundo e seu rosto era belo. Tinha um olhar gentil e ao mesmo tempo grandioso. Era alta e aparentemente forte. Trajava uma túnica azul clara com detalhes dourados e uma capa azul escura com peles de lobo nos ombros. Sua coroa era uma simples tiara de prata com três rubis. De sua cintura pendia uma espada longa magnífica e usava botas de couro. A Rainha Nalia passou perto de Medrash sorrindo para os nobres que se aglomeravam na saída, junto do povo. Então, uma carruagem parou e ela entrou, saíndo em seguida escoltada por sua guarda pessoal.

Medrash viu um dragonborn entre eles e tentou falar com ele mas logo foi afastado pelas palavras duras do guarda. Frustrado, Medrash entrou no templo até onde estava o altar central. Sobre o altar havia um grande dragão feito de metal, possivelmente prata, representando Bahamut. Medrash fez uma reverência e falou com um sacerdote dragonborn que se encontrava próximo. Depois de várias tentativas, Medrash descobriu que ninguém ali sabia nada a respeito de Agrom-Vimak e decidiu sair e encontrar Araniss e os outros.

Araniss estava conversando com diversas pessoas na biblioteca da cidade enquanto Keira observava os passantes. Um homem alto de cabelos e barba escuros passou perto da jovem meio-elfa, acompanhado por um pequeno construto animado que carregava vários livros. Isso chamou a atenção de Keira que aproveitou para perguntar sobre as lendas que eles estavam pesquisando. O homem foi rude e disse não saber nada a respeito. Virou-se e deixou Keira falando sozinha. Indignada, a meio-elfa seguiu furtivamente o mago pelos corredores da biblioteca até uma área comum, onde vários estudantes faziam suas pesquisas sobre longas mesas de carvalho.
Keira aproximou-se sem fazer-se notar e viu uma pequena bolsa de couro amarrada à cintura do mago. Sorrindo, a meio-elfa cortou a corda com uma adaga e pegou a bolsa. Porém, num descuido, Keira balançou a bolsa e as moedas dentro dela soaram, alertando o mago. Instintivamente, Keira se afastou mas o mago disse algumas palavras mágicas e do pequeno construto de metal saíram duas esferas de energía que atingiram Keira. Sem pensar duas vezes, a jovem sorriu e correu na direção da janela mais próxima enquanto o mago gritava furiosamente chamando os guardas da biblioteca.
Keira saltou com uma agilidade felina e atravessou o vidro da janela para em seguida pousar habilmente na rua. Então, correu esquivando-se dos passantes, desaparecendo nas ruas de Ilíria.
Araniss, na biblioteca, viu toda a cena e então saiu sem chamar a atenção.

Medrash estava numa rua ampla, indo na direção dos templos da cidade quando viu Keira passar correndo.

"Ou me ajuda ou finge que não me conhece!" Disse ela parando dois segundos ao seu lado.

O dragonborn parecia não entender mas, ao ver um grupo de guardas procurando alguém, cruzou os braços e fingiu estar esperando alguém, enquanto Keira piscava e saía correndo.
Logo depois, Medrash encontrou Araniss e Soveliss perto da biblioteca. Os três comentaram a respeito do pequeno incidente envolvendo Keira e então retornaram à hospedaria onde estavam instalados. Keira estava lá, contando moedas de uma pequena bolsa de couro.

No dia seguinte, depois de traçarem planos para encontrar o sábio Nimus em Duaspedras, os aventureiros partiram de Ilíria com mantimentos para a viagem. A estrada até Barun, a pequena aldeia por onde o rio Escuro passava, parecia tranquila mas ao entrarem num pequeno bosque, foram atacados por bandidos. O combate foi árduo e em vários momentos os aventureiros pensaram que estavam perdidos pois Medrash e Araniss foram derrubados pelos assaltantes. Keira, apesar de sua agilidade, foi nocauteada e por pouco não morreu. O único que se manteve bem foi Soveliss que, ao lado de seu pequeno mascote Bahamut, se mantinha a uma distância segura. Apesar da situação desfavorável, os aventureiros conseguiram derrotar os bandidos, apesar da fuga de um deles. Enquanto se recuperavam da batalha, encontraram um esconderijo onde os bandidos tinham alguns mantimentos e itens roubados. Depois de vasculhar o local e recuperar-se dos ferimentos, o grupo partiu em direção a Barun, que estava a pouco mais de duas horas de caminhada pela estrada coberta de neve.

Barun era uma pequena aldeia construída nas duas margens do rio Escuro. Uma ponte de madeira ligava as das metades da aldeia que funcionava como um posto comercial ciom algumas lojas, armazéns e duas uma taverna. Araniss, Soveliss, Keira e Medrash se hospedaram no local e enquanto comiam algo quente tentaram saber mais sobre Duaspedras e sobre a região. Keira, inquieta, saiu da taverna caminhou pela única rua da aldeia, em direção à ponte. Lá encontrou um homem velho que, apesar do frio, pescava no amplo rio de águas rápidas.

"Boa noite senhor." Disse a jovem gentilmente

"Olá moça. Nova por aqui?" Respondeu o homem enquanto recolhia a linha de pesca.

"Sim. O senhor está pescando há muito tempo? Sabe se alguém tem relatado algo sobre bandidos na estrada ou algo fora do comum?"

"Bem, bandidos nestas bandas e no inverno não são incomuns mas passaram dois homens incomuns há algumas horas. Um deles estava bem ferido e não se demorou muito aqui. O outro era um rapaz alto de cabelos vermelhos, vestido com peles e carregando um machado de duas mãos. Ambos seguira para o leste, pela estrada."

Keira conversou ainda sobre amenidades para então deixar o homem e voltar à hospedaria. Depois de uma boa noite de sono, os aventureiros partiram de Barun mas não antes de comprar algumas poções de cura e mantimentos. Horas depois, quando a estrada cortava outro bosque, foram atacados por quatro orcs e dois lobos treinados.
Desta vez, os heróis levaram a melhor, aniquilando seus inimigos. O grupo parecia estara cada vez mais coeso e o trabalho em equipe os salvou da morte mais uma vez.

Dois dias depois, viajando sem acontecimentos relevantes, os aventureiros chegaram à Floresta Castanha. A estrada seguía floresta adentro e por um momento os heróis foram tomados por dúvidas pois a floresta antiga parecia sombria e perigosa. Apesar disso, a viagem até Duaspedras foi tranquila e depois de um dia e meio os quatro chegaram à aldeia.

As enormes pedras em arco que demarcavam a entrada da aldeia deixaram os aventureiros pasmos. Eram muito antigas e pareciam um enorme portal de pedra. A paisagem coberta de neve dava à grande clareira um ar sereno com suas casas e pequenas fazendas espalhadas. Fios de fumaça saíam das chaminés naquele fim de tarde e as luzes começavam a aparecer nas janelas das casas. O grupo entrou em Duaspedras e viu que a maioria das pessoas estava dentro de casa, com portas e janelas fechadas. O frio começava a aumentar e Medrash havia sido atacado por uma febre alta e tosse. Os quarto encontraram a hospedaria local, o Dragão Hébrio, em frente a um enorme carvalho iluminado por quatro lâmpadas mágicas no que parecia ser uma praça com bancos de amdeira. Várias pessoas se dirigiam à taverna.

Os aventureiros entraram e viram que dentro da hospedaria, um grande grupo de pessoas discutia. Um homem velho, de barba e cabelos grizalhos falava com os aldeões, pedindo calma. Ele não tinha a perna direita e se apoiava numa muleta de madeira escura.
Ninguém pareceu notar a chegada do grupo. Ninguém além deuma menina de treze anos trajando um avental cinzento.

"Boa noite viajantes. Gostariam de algo quente? Temos uma boa sopa de cogumelos e duas mesas vagas." Disse a jovem

"Obrigado menina. Vamos querer a sopa sim." Disse Araniss sentando-se à mesa.

Os demais acomodaram-se e Soveliss notou que a mesa ao lado estava ocupada apenas por um homem. Ele tinha um olhar selvagem. Seus cabelos revoltos eram longos e vermelhos e sua barba era rala. Tinha olhos verdes e aprecia ser muito forte e quase tão alto quanto Medrash. Vestia peles de lobo e ao seu lado, apoiado na mesa, estava um enorme machado de guerra.
A jovem atendente voltou com uma bandeja onde uma caçarola fumegante exalava um odor delicioso. Serviu quarto pratos de sopa e sorri gentilmente.

"Mais alguma coisa senhores?"
"Sim." Disse Araniss. "Aquele homem de muleta. Gostariamos de falar com ele quando a reunião terminar. Pode avisá-lo?" Perguntou o eladrin dando uma moeda de prata a mais do que o preço da refeição.

"Claro senhor. Pode deixar. Avisarei o senhor Ben que querem falar com ele."Respondeu feliz a menina.

Enquanto tomavam a deliciosa sopa de cogumelos, os aventureiros ouviram a um pouco do que os aldeões discutiam. Aparentemente, um monstro havia matado pessoas da aldeia e outras haviam desaparecido perto da floresta. Os aldeões pediam uma solução para o problema e Ben, o líder da aldeia, pedia calma e falava sobre estar tomando providências para resolver a questão.
Depois que as pessoas se acalmaram e deixaram a taverna, Ben veio falar com o grupo. Sentou-se à mesa e acendeu um cachimbo enquanto falava com os heróis.

Ben contou que há dois meses uma criatura entrou na aldeia e matou uma família inteira mas que algumas pessoas foram levadas. Disse também que o ataque se repetiu várias vezes mas que depois as pessoas começaram a desaparecer na floresta ou perto do rio. Contou também que Salis, o ranger elfo de Duaspedras havia tentado rastrear a criatura mas estava desaparecido há duas semanas. Além disso, Ben relatou que um grupo de aventureiros fora contratado para matar a criatura e estes haviam desaparecido dois dias depois de Salis.
Ben ofereceu uma recompensa ao falar com Medrash e Araniss. Disse ter trezentas moedas de ouro para pagá-los caso matassem o monstro. Pediu também que encontrassem Salis pois o elfo era um grande amigo seu.
O bárbaro na mesa ao lado levantou-se e interrompeu a conversa dizendo que poderia ajudar caso precisassem de mais um guerreiro para matar o monstro. Seu nome era Mikal.

Araniss perguntou a Ben Talonshield sobre Nimus e este contou que o velho era um alquimista que vivia numa cabana ao sul da aldeia, a coisa de duzentos metros floresta adentro. Disse também que Nimus era rabugento e antisocial e que ificilmente ele os atenderia. Determinados a ganhar a confiança da aldeia e de Nimus, os aventureiros aceitaram a missão de matar o monstro.

No dia seguinte, depois de todos os detalhes acertados, o grupo deixou a aldeia rumo ao norte. Por algum tempo, viajaram com a sensação de estarem sendo vigiados. Um lobo apareceu por várias vezes e ficou observando-os enquanto avançavam pela floresta. Duas horas de caminhada depois, foram surprendidos por um bandod e goblins.
A batalha foi fácil apesar dos arqueiros goblins estarem bem posicionados e de suas flechas terem sido certeiras na maioria dos ataques. Cansados depois do combate, os aventureiros pararam por alguns minutos para recuperar o fôlego.
Eles continuaram caminhando pela floresta até encontrarem rastros de um grande animal. Minutos depois, Soveliss encontrou uma corda amarrada numa árvore. Ele a cortou e um corpo despencou ruidosamente do alto da árvore. Era uma meio-elfa vestindo uma armadura de placas amassada. O corpo estava começando a se decompor e os corvos já haviam arrancado os olhos da pobre aventureira.
Olhando para cima, Medrash e os demais viram que mais dois corpos pendiam do alto das árvores. Um halfling com o corpo coberto de flechas goblins e um dragonborn. Parecia um aviso deixado pelos goblins.
Pouco depois, os aventureiros encontraram uma caverna. Na entrada, ossos de animais e também humanos estavam espalhados. Mikal pegou um fêmur e exminou.

"Urso...e dos grandes." Disse o bárbaro.
"Fiquem preparados." Disse Araniss enquanto acendia um bastão solar.

Keira examinou a entrada da caverna e não encontrou nenhuma armadilha. Então, os heróis entraram no covil da critatura.
A caverna era profunda e o cheiro de carne podre permeava o local. Haviam restos de corpos por toda parte e o som de ossos sendo quebrados vinha do fundo da gruta. O grupo chegou até onde o som era mais alto e a luz do bastão solar iluminou toda a aárea. Um urso das cavernas enorme estava mastigando algo e quando viu o grupo ficou de pé sobre as patas traseiras e rugiu.

Mikal rugiu de volta e correu na direção da fera empunhando seu machado. Foi seguido por Araniss e Medrash enquanto Soveliss ficava num ponto seguro da caverna, com Bahamut sobre seu ombro. Keira correu para atacar o urso também.
A fera atacava enfurecida e cortava a carne dos heróis com suas poderosas garras. O grupo desferia golpes poderosos contra o enorme urso mas a pelagem grossa do animal parecia resistir aos ataques. O combate contra o urso durou mais do que os aventureiros esperavam. A cada ataque selvagem, sangue jorrava nas paredes da caverna. Então, Mikal atacou cravando seu machado fundo no peito do animal. Mesmo assim, o urso rasgou o ventre do bárbaro e o arremessou para trás. Medrash e Araniss golpearam o urso pelos flancos e Keira arremessou uma adaga cegando-o. mesmo assim, quando o urso caiu morto depois do exaustivo combate, Mikal estava além da salvação. Sua barriga estava berta e seu corpo jazia inerte ao lado do monstro.

Apesar de não ser um amigo de longa data, os aventureiros sentiram a perda do bárbaro pois este era um guerreiro honrado e lutou não só pela sua vida mas pela deles. Araniss, Medrash e Soveliss fizeram uma pira funerária na clareira acima da caverna e foi o paladino quem disse breves mas profundas palavras sobre Mikal.

"Avandra, recebe em teus braços a alma deste guerreiro que lutou ao nosso lado e teve uma boa morte. Que ele fique ao teu lado e viva eternamente nos caminhos de teu reino."

Enquanto isso, Keira retirava a pele do enorme urso, pensando na possibilidade de conseguir algum dinheiro com ela em Duaspedras. Medrash usou o machado de Mikal para cortar a cabeça do monstro, a fim de mostrar a Ben Talonshield a prova da morte da criatura. Depois de algum descanso, os aventureiros tomaram o caminho de volta para a aldeia, enquanto a pira de Mikal ardia alta.

Horas depois, em meio a grandes árvores, Araniss ouviu ruído. Vozes estridentes pareciam discutir numa língua estranha para ele. Ele levantou sua mão direita sinalizando para os demais que pararam instantaneamente.

"Vozes à frente...vejo goblins entre as árvores." Disse o paladino sussurrando.

"O que vamos fazer? São muitos?" Perguntou Medrash.

"Sim, nove deles. Um está amarrado e estão prontos para executá-lo, ao que parece." Respondeu Araniss.

"Podemos dar a volta e deixar que se matem." Disse Keira em voz baixa.

"Ou podemos tentar minha idéia." Disse Soveliss com um sorriso nos lábios. "Garanto que vai dar certo." Completou o mago.

(Tradução livre da língua goblin)

"Kubik tem que morrer! Ele queria ajudar os humanos idiotas!" Disse Brugut, o forte, que usava um crânio de lobo sobre a cabeça. "Mas eu quero matá-lo! Seus arqueiros não vão me tirar esse prazer, Menguk!" Completou Brugut gritando

"Ele tem que morrer mas o prazer é meu Brugut. Arqueiros preparem-se!" Respondeu Menguk, o mago.

"Não não não! Ele é meu e vocês vão morrer pelo meu machado se o matarem antes de mim!" Vociferou Brugut colocando-se entre Kubik e os arqueiros goblins.

(fim da tradução)

Subitamente, um rugido selvagem ressoou pela clareira. Os goblins viraram-se, reconhecendo o som. A cabeça de um urso enorme apareceu entre os arbustos mais altos e moveu-se, rugindo ferozmente.
Imediatamente, os goblins gritaram e saíram correndo em todas as direções. Todos menos Brugut, que tinha a fama de ser destemido. O goblin sacou seu machado e gritou, correndo na direção do "urso".
Keira soltou a cabeça morta do animal e esquivou-se do ataque de Brugut. Em seguida seus amigos estavam sobre o goblin que antes de morrer conseguiu ferir alguns deles com seus ataques.

Quando o Brugut caiu, o pequeno goblin que estava amarrado a uma estaca de madeira fincada no chão gritou na língua comum:

"Vocês herói! Salvar Kubik de morte! Kubik ser goblinbom! Ajudar Kubik!"

Os aventureiros acharam estranho e Soveliss se aproximou do goblin.

"O que aconteceu aqui, goblin?" Perguntou o mago tranquilamente

"Goblins querer Kubik morto porque Kubik querer avisar humanos!" Disse a criatura. "Vocês aqui para matar grande-verde?"

"Grande-verde?!" Perguntaram todos ao mesmo tempo.

Soveliss gesticulou e as cordas que prendiam o goblin se soltaram. Pasma, a criatura lançou-se de joelhos diante do mago.

"Mestre! Obrigado por salvar Kubik. Agora Kubik servir mestre até Kubik morrer!"

Sem graça, Soveliss sorriu e ordenou ao goblin que se vestisse pois viu que o mesmo estava vestindo apenas uma tanga de peles. Kubik rapidamente tirou as roupas de Brugut e sorriu ao ficar mais quente.

A neve caía fina e os aventureiros decidiam o que fazer em seguida. Pela descrição de Kubik, o 'grande-verde' era um dragão que havia dominado uma tribo goblin e exigia tributo. Por isso os goblins estavam sequestrando pessoas em Duaspedras.
Apesar da vontade de resolver o problema de uma vez, visto que Kubik mencionou um caminho secreto até o dragão, os heróis estavam bastante feridos e cansados e era mais sensato retornar a Duaspedras para recompor-se.

O grupo estava quase chegando à aldeia quando um lobo apareceu. O animal rosnava e em segundos assumiu a forma de uma bela elfa de longos cabelos trançados e roupas de couro. Estava descalça e carregava consigo um cajado de ébano. A mulher olhou para Keila com raiva nos belos olhos azuis e disse:

"Assassinos...porque o mataram?Respondam!"

"Nós achamos que o urso era responsável pelas mortes na aldeia, nós sentimos mui..."Disse Keira sendo logo interrompida pela elfa.

"Vocês erraram. Deixe a cabeça dele no chão agora!"

Keira fez o que a ela mandou, ainda mais quando cinco lobos apareceram ao seu lado, rosnando. A mulher então pegou a cabeça do urso e apontou para o leste com seu cajado.

"O verdadeiro monstro está lá."

A elfa virou-se e desapareceu entre as árvores da floresta, seguida pela alcatéia.
Horas depois os aventureiros chegavam a Duaspedras. Depois de uma noite de descanso, foram tentar falar com Nimus em sua cabana.
Era uma casa de pedra, duzentos metros floresta adentro, guardada por um enorme mastim. O cão latiu ferozmente quando os aventureiros se aproximaram mas apesar disso Araniss não se amedrontou. O paladino avançou mais alguns passos até onde o cão estava acorrentado e bateu palmas chamando Nimus.

A porta se abriu e dela saiu um velho de nariz pontiagudo e dedos longos. Estava curvado e sua barba era longa, quase tocando os joelhos. Tinha poucos cabelos e estes eram longos e brancos. Seus olhos eram escuros e observavam os aventureiros.

"O que querem aqui? hein?" Disse Nimus com desdém.

"Precisamos de poções senhor. Poções de cura e antídotos." Respondeu Soveliss

"De cura eu tenho. Custam cinquenta moedas. Andem não tenho o dia todo!"

"E antídotos?" Perguntou Medrash

"O que foi bafo de lagarto? Não ouviu? Não tenho!" Ginchou o velho

"Certo...senhor serão duas poções de cura então." Interrompeu Araniss aproximando-se para pagar.

O velho tomou o dinheiro e contou rapidamente as moedas, entrando e fechando a porta atrás dele. Minutos depois reapareceu e entregou dois vidros de poção para o paladino.

"Pronto. Agora sumam!" Disse fechando a porta com força.

Um corvo pousou sobre a cabana e olhou para os aventureiros. Era Galagakos, o mascote de Nimus. Ele entrou na casa e o silêncio voltou a reinar na pequena clareira.



Kubik guiou os aventureiros pela floresta por horas. Subidas, descidas, escaladas e buracos. Horas e mais horas.

"Você disse que era um atalho Kubik." Disse Keira um tanto impaciente.

"Não não não! Kubik dizer 'caminho secreto' não atalho!" Respondeu prontamente o goblin que carregava a mochila de Sovelis nas costas.

O goblin os levou até um barranco profundo e então encontraram um tunel baixo por onde Kubik podia passar facilmente mas o resto do grupo era obrigado a rastejar. Com um certo receio, os aventureiros seguiram o golbin através do tunel, esperando pelo pior.
No fim do tunel, a caverna ficava mais ampla e mais alta e os aventureiros seguiram Kubik na semi-escuridão do lugar. De repente, Kubik parou e disse haver goblins à frente. Keira se esgueirou e contou nove goblins. Haviam tambémcorpos mutilados na caverna e um fosso de onde vinha um cheiro horrendo de carne podre.

Os aventureiros ponderaram por algum tempo sobre como iriam atacar e então, depois de decidir, entraram no salão subterrâneo dispostos a aniquilar os goblins. Kubik e Bahamut ficaram no tunel, protegidos.
O combate foi difícil mas no fim, os heróis venceram. Kubik e Bahamut mataram juntos um dos goblins que tentava fugir e pareciam orgulhosos do feito.
Keira e Soveliss vasculharam uma pequena sala no norte da caverna e descobriram um pequeno tesouro e uma passagem secreta que levava para baixo por um tunel escuro e escorregadio.
Os heróis entraram, usando um bastão solar para enxergar. Kubik então parou e disse gaguejando:

"Mestres, Kubik fica aqui. Grande-verde mora fim do caminho. Kubik espera aqui, sim?"

Soveliss concordou e o goblin ficou para trás na escuridão. O grupo avançou devagar, esperando um ataque a qualquer instante. Um cheiro fraco de e um vapor úmido pairavam no ar. O gotejar constante na caverna adiante os deixava cada vez mais nervosos e eles avançavam com cuidado.
No fim do túnel, um pequeno salto de um metro e meio os levou até um grande salão de pedra natural. Eles notaram um montículo de ouro e jóias no centro da caverna e então, o som de asas de couro batendo surgiu nas trevas. O monstro, um dragão verde jovem, pousou diante do tesouro e olhando para eles fixamente por alguns instantes, rugiu terrívelmente...

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